A dupla estreia brasileira da última ópera de Verdi e a decadência cultural do Rio de Janeiro. Artigo de Osvaldo Colarusso no blog de Ópera e Ballet.
Falstaff, a última ópera de Verdi
Giuseppe Verdi (1813-1901), cujo bicentenário do nascimento comemora-se no próximo dia 10 de outubro, escreveu sua última ópera quando tinha 79 anos de idade. Assim como sua ópera anterior, Ottelo, o libreto foi escrito pelo compositor Arrigo Boito (1842-1918), e mais uma vez basearam-se em Shakespeare, sendo que a última obra do mestre foi baseada na comédia “As alegres comadres de Windsor”. Verdi surpreendeu a todos com o vigor e com a novidade desta obra que parece mesmo abrir caminho para novos rumos absolutamente inesperados. O virtuosismo da escrita instrumental e a riqueza contrapontística fazem desta obra um desafio para músicos até mesmo nos dias de hoje. A fuga final da obra com o texto “Tudo no mundo é uma brincadeira” parece mesmo a despedida bem humorada de um ancião que era então o mais popular compositor de óperas do mundo. A estreia aconteceu em 9 de fevereiro de 1893 no Teatro ala Scala de Milão e foi reverenciada como uma partitura genial se bem que soou estranha para muitos.
A dupla estreia brasileira
Uma das coisas que mais nos impressiona na estreia brasileira é a data em que ela ocorreu: 29 de julho de 1893, apenas pouco mais do que cinco meses da estreia mundial em Milão. Este dado sozinho já seria algo a nos chamar a atenção, mas ainda mais excepcional é que a estreia brasileira foi dupla: na mesma hora, no mesmo dia, na mesma cidade esta complexa partitura que era tão recente foi executada em dois teatros diferentes. E o mais notável são alguns nomes envolvidos nestas montagens. Na do Theatro Lyrico (já destruído) o maestro encarregado de dirigir a complexa partitura era Luigi Mancinelli (1848-1921) o mesmo maestro que regeria a estreia da obra no Metropolitan opera de Nova York no ano seguinte. Vale a pena ressaltar que nesta produção atuou um dos maiores barítonos da época cantando o papel principal: Antonio Scotti. Seria difícil escolher em qual teatro ir pois no Theatro São Pedro (que situava-se onde hoje é o Teatro João Caetano, na Praça Tiradentes) quem regia o espetáculo era um outro maestro excepcional: Cleofonte Campanini (1860-1919), o mesmo maestro que regeria a estreia mundial da ópera Madama Butterfly de Puccini em 1904. Conhecendo-se a complexidade da escrita da obra de Verdi e o grau de exigência destes dois maestros fica claro que atuaram ao mesmo tempo duas orquestras excelentes, pois esta é uma partitura das mais temidas já escritas até aquela época. Uma curiosidade: A intérprete de Alice no Teatro Lyrico, Eva Tetrazzini, viria quatro anos depois a ser a esposa do maestro que atuou no Theatro São Pedro, Campanini. A riqueza de detalhes desta dupla estreia nos atiça a curiosidade do que se assistiu naquela noite e qual foi a reação do público, que com certeza não compreendeu totalmente esta obra cheia de novidades.
O Rio de Janeiro: uma cidade que que foi bem atualizada
Esta estreia dupla do Falstaff nos lembra que a antiga capital federal era muito pujante do ponto de vista cultural, e bastante atualizada. Mesmo as complexas óperas de Richard Strauss (1864-1949) foram montadas com pequena defasagem de tempo: Salomé que foi estrada em Dresden em 1905 foi levada à cena no Rio em 1920, e a desafiante Elektra estreada também em Dresden em 1910 foi encenada no Rio em 1923. Isto não é desmentido pelo livro “O círculo Velloso-Guerra e Darius Milhaud no Brasil” (editora Reler) que descreve a rapidez com que as obras dos compositores franceses importantes da época eram apresentadas ao publico carioca nos primeiros anos do século XX. Foi neste cenário tão pujante que nasceu o maior gênio musical brasileiro, Heitor Villa-Lobos (1887-1959). Fica a pergunta: o que nosso decadente ambiente cultural pode gerar? Certamente muito pouco.
Osvaldo Colarusso
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/falando-de-musica/
Vou dar uma opinião controvertida, acredito que alguns dos motivos da nossa decadência cultural residem em alguns fatos históricos:
ResponderExcluirRio de Janeiro deixar de ser capital federal, depois disso percebe-se uma imensa decadência cultural no Rio de Janeiro e no Brasil, a transferência para Brasília, no meio do nada só veio tirar a cultura de um lugar pujante e o poder foi transferido para o meio do deserto lá em Brasília, que até hoje é pífia e irrelevante culturalmente falando.
Outro grande atraso de nossa cultura se deve a ascensão da Rede Globo de Televisão, que por décadas molda o caráter de muitos, e está totalmente submissa ao capital e ao mercado, nunca priorizou a Cultura e vem abobalhando os brasileiros há décadas, hoje graças a internet, que permite acesso à tudo, acredito que a GLobo e todas as outras emissoras estão com seus dias contados. Adoraria abrir um champagne para comemorar o fechamento da Rede Globo. SBT e Record, naturalmente irão ruir após a morte de seus "líderes"