CARMEM, TEATRO ADEMIR ROSA, CIC - FLORIANÓPLOS , SC. CRÍTICA DE LUCAS ANDRADE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.



 
A Cia Ópera de Santa Catarina e a Camerata Florianópolis trouxeram ao palco do Teatro Ademir Rosa na capital catarinense sua mais nova montagem, desta vez da popular e querida Carmen de Georges Bizet. A Cia Ópera vem trazendo bravamente versões completas de diversas peças, já tendo no currículo A Flauta Mágica, Rigoletto, La Traviata, Elixir do Amor e Barbeiro de Sevilha.

A Carmen foi apresentada em versão sem diálogos nos dias 14, 15, 16 e 17 de novembro. Nos dias pares tivemos Richard Bauer no papel de Don José, Adriana Clis como Carmen e Masami Ganev como Micaëla. Por sua vez, nos dias 15 e 17, Fernando Portari foi Don José, Luciana Bueno personificou Carmen e Claudia Ondrusek interpretou Micaëla. Sebastião Teixeira foi Escamillo nas quatro noites. Assisti à apresentação do dia 17 e o ensaio geral e final na íntegra na quarta-feira, dia 13, com a equipe Portari/Bueno/Ondrusek, portanto meus comentários serão em relação a este último dia.

Antes de partir para as considerações da encenação, no entanto, gostaria de salientar como é importante a montagem de um espetáculo operístico deste porte em uma cidade que não tem esta tradição. Todos os cantores, músicos e membros da equipe são verdadeiros heróis e promoveram um espetáculo belíssimo, com muita atenção aos detalhes e qualidade e para um “fanático da ópera” como eu, a emoção de poder apreciar sua mais amada forma de arte ao vivo, novamente, tem a tendência de nos tornar extramente positivos!


O casal principal esteve excepcional. Fernando Portari foi vocalmente impecável, com agudos potentes e seguros. Destaque também para seu pianíssimo na frase “Et j'étais une chose à toi” no final da ária La Fleur Que Tu M'avais Jetée. Cenicamente foi muito focado e envolvido. Sua explosão de ciúmes no final do Ato III foi de trancar o fôlego de tão visceral! Sem dúvida, um dos grandes tenores mundiais! Se me permitem um breve momento tiete, que alegria poder vê-lo ao vivo!

Luciana Bueno foi uma Carmen de bons graves e boa postura cênica e expressões faciais muito ricas. Até gostaria que ousasse um pouco mais no palco, pois tem corpo, rosto, voz, beleza e sensualidade para tal. No balaço final, uma Carmen memorável, sem dúvidas.

A Micaëlla de Claudia Ondrusek, natural de Florianópolis, foi uma candura, muito meiga e com mais segurança na região alta do que nas notas mais graves que perderam um pouco do brilho na acústica desfavorável do teatro.

Sebastião Teixeira foi um Escamillo de muita potência vocal e agudos tranquilos. Melhor ainda quando dividia o palco com Portari.

Os demais membros do elenco foram muito sólidos, principalmente o simpático bando de contrabandistas, proporcionando excelentes cenas de conjunto. Outro destaque muito positivo, vocalmente e cenicamente, para o coro, formado por vários cantores jovens e o coro infantil, que conquistou os corações de todos na plateia até os momentos finais com a cortina já se fechando e as pequenas mãozinhas nos dando tchau!

A regência do maestro Jeferson Della Roca, verdadeiro embaixador da música clássica no estado de Santa Catarina, foi muito equilibrada, com sonoridades muito agradáveis, menção especial para as madeiras, e com uso de tempos que permitiram o fluxo normal do espetáculo. Particularmente nos intermezzos, a Camerata soou superior!

Vale a congratulação ainda para os figurinos de José Alfredo Beirão.



Florianópolis quer se firmar como um polo operístico nacional e esta Carmen, com suas quatro noites de casa cheia, veio mostrar que o público existe. E um espetáculo desta qualidade é mais passo definitivo nesta jornada.
 
Lucas Andrade
 

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