NOSSO SEGUNDO HINO NACIONAL : QUE FAZER? ARTIGO DE MARCUS GÓES NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.



Assim de memória, parece-me que o Brasil tem quatro símbolos da pátria: nossa bandeira, nosso hino nacional, o selo nacional e o brasão de armas da república.
 No entanto, algumas obras de arte, monumentos, poemas, livros, peças musicais e outros itens que agora não me ocorrem, passam, no subconsciente coletivo, a fazer parte daqueles símbolos, pela estreita união com o que é e o que significa o Brasil.  Alguém duvida de que aquele conjunto de estátuas do Ibirapuera em São Paulo é um símbolo? Ou que o Pelourinho em São Salvador é outro ? Ou aquela estatua de Tiradentes na praça central de Ouro Preto? Ou os Arcos da Lapa no Rio de Janeiro? Se preferirem, pode-se definir que, no lugar de “símbolos”, são estes últimos citados “marcas registradas” de nossa terra.
   A abertura sinfônica de Il Guarany, de Carlos Gomes, é, como obra de arte, aquela que mais se aproxima de todas as outras em símbolo da pátria. Tida sem discussões como  nosso segundo hino nacional, é conhecida de todos e todos a ligam em seus subconscientes à nossa terra. É portanto, parte do patrimônio histórico e artístico da nação e, como tal, deve permanecer intocável,livre de interpretações que deturpem em sua essencialidade o aspecto original , o que obviamente não se aplica a variações instrumentais, algumas verdadeiras homenagens como as de Gottschalk, arranjos publicitários e demais itens sem repercussão no mundo da música ao qual pertence.
   Neste domingo dia 07/08, a Rádio Mec FM – RJ transmitiu a gravação da dita abertura, por volta de 11h.,com uma orquestra de Bonn, Alemanha, conduzida pelo regente de orquestra John Neschling. Essa execução, que fui o primeiro a denunciar como musicalmente deformante e incorreta no extinto site ‘Allegro’, de saudosa memória, e em várias cartas, mensagens e argumentações, logo ao início transforma as fusas manuscritas por Carlos Gomes, em notas mais longas, o que faz desaparecer o aspecto “grandioso marcato” indicado por Carlos Gomes. Evitamos aqui explicações com terminologia musical que não seria entendida pela quase totalidade dos leitores. Estes deverão procurar ouvir a gravação em tela, para poder notar a diferença. É outra música, parecida com aquela em que se baseia, mas outra.
   A partitura original manuscrita da abertura  que se encontra na Biblioteca Nacional e tem sua primeira página reproduzida a fls. 79 de meu livro “CARLOS GOMES – um pioniere alla Scala”, publicado na Itália, é claríssima: a abertura tem início com a célebre frase musical conhecida de todos, com as fusas, pontos e demais notações bem copiados pela segura e limpa escrita do autor marcando ritmo, melodia e notas essenciais ao pretendido, como o são as citadas fusas com seus três tracinhos bem visíveis e tudo mais.
   Pois o regente Neschling, por esdrúxula iniciativa, talvez por ter visto reduções canto/piano que não trazem fusas e sim semi-colcheias, talvez por achar que a abertura em seu início devia repetir outras variantes da frase inicial existentes no resto da ópera, deformou a obra que é parte integrante e importantíssima de nosso patrimônio artístico , realizou uma gravação, e essa gravação corre mundo, a dano de nossa cultura e de nossa mais que centenária tradição popular musical. Só ouvindo a gravação poderá alguém ter ideia da deturpação, como dito acima.
   Em nossa opinião, tal gravação deveria ter sua transmissão proibida nos meios de comunicação radiofônicos ou televisivos. Ou então que se recolhessem as cópias existentes e se elaborasse um enxerto, uma emenda ou qualquer correção em laboratório.
   A permanecer como está, é como se alguém achasse que o Tiradentes da estátua deve ter a barba cortada ou que o tradicional losango de nossa bandeira deve se transformar em um quadrado ou que os Arcos da Lapa devem ser transformados em portais retangulares. A permitir-se a deturpação, encaixando-a na lista de “variantes interpretativas”, todas as obras musicais poderão ter sua essência e intenção primária do compositor mudadas a prazer do intérprete, como por exemplo a marcha fúnebre de Chopin ser executada em allegro vivace.
Com a palavra as autoridades da Cultura deste país.
O DIO DEGLI AIMORÈ – A NOI TI VOLGI OR TU
MARCUS GÓES 

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