LIGIA AMADIO E A ODE AO ÊXTASE. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.




   A música pode emocionar e muitas vezes irritar aos que são assíduos frequentadores de teatros líricos. Somente assim se entende que arte feita com amor e dedicação vale mais que milhares de dólares pagos a uma regente desinteressada. Quem esteve no Theatro Municipal de São Paulo nos dias 28 e 29 ouviu um grande concerto de música clássica, com a regente Ligia Amadio dedicada a um programa complexo e bem casado. Wagner: Prelude und Liebestod, Brahms: Concerto duplo para violino e violoncelo, Oscar Lorenzo Fernandez: Reisado do Pastoreio e Alexander Scriabin: Sinfonia N° 4 - Poème de l'Extase foram os contemplados.
   A falta de programa na entrada foi compensada pela explanação de Ligia Amadio. A regente conduziu a Orquestra Sinfônica Municipal com vibração intensa, emoção demasiada e entrega total. Gestual elegante e preciso na condução da orquestra e vibração a cada momento. 
    A segunda parte é uma ode ao êxtase com Wagner sendo agraciado com uma interpretação emotiva de Prelude und Liebestod. Um casal frequentador assíduo do teatro fica de olhos fechados ouvindo a interpretação em êxtase total. Essa é a síntese de como a música bem executada pode levar as pessoas para outras dimensões. 
   O fechamento se dá com chave de ouro, a Sinfonia N° 4 - Poème de l'Extase complementa Wagner e transcende o temporal em uma interpretação carregada de enlevação.
   Enquanto isso na Praça Júlio Prestes, pertinho da Estação da Luz a emoção passa longe e a interpretação burocrática é a marca da regente titular. 
   As palavras do colega Domingos D'Arsie definem o sentimento do publico que foi ao Theatro Municipal de São Paulo: "Fui arrebatado hoje pela encantadora regência da Maestrina Ligia Amadio no Theatro Municipal de São Paulo.
Num belo programa, a Maestrina esculpia a Música com gestos precisos, delicados e fortes, construindo uma arquitetura poética envolvente e hipnótica, tendo como suporte, Lorenzo Fernandes, Brahms, Wagner e Scriabin.
Mostrou toda sua força expressiva principalmente regendo Wagner, num estado de êxtase contínuo. Eu quase não conseguia respirar.
A Orquestra Sinfônica Municipal estava em grande forma e a Maestrina Ligia Amadio poderia reger muito mais aqui em São Paulo.
Fico imaginando o que ela não faria com a OSESP!"
Ali Hassan Ayache

Comentários

  1. Não assisti ao concerto acima,meu comentário é sobre a carreira da referida maestrina como um todo.Dela pode-se dizer a máxima "não é profeta em sua própria terra";a poderosa OSESP ignora-a completamente,em 20 anos só foi convidada para se apresentar com esta orquestra UMA ÚNICA VEZ!Isso é um disparate,dado que se imagina que a função de uma orquestra brasileira é dentre outras coisas interpretar música brasileira,pois bem algumas das melhores interpretações de nossos grandes compositores se podem encontrar entre as gravações que Ligia Amadio realizou com a humilde Sinfonica Nacional da UFF.Tomemos por exemplo a obra Uirapuru de Villa Lobos,recentemente gravada pela OSESP e Karabtchevsky;prefiro a gravação de Ligia,com andamentos a meu ver muito melhor escolhidos e fraseado mais elegante,isso sem mencionar uma gravação venezuelana sensacional,não regida pelo Dudamel deixo claro,sim por Eduardo Mata que vinte e tantos anos atrás também gravou com a Simon Bolívar um sensacional Choros n10 e com a mesma qualidade as Bachianas n2.Consultem a agenda de Amadio,lá estão concertos com as melhores orquestras da Argentina,Colombia,Chile,Uruguai,Venezuela,México,Bolívia e até Eslovênia,Israel,Holanda e Islândia,mas parece que para a direção da OSESP ela não merece ser convidada!QUE ESTIMULANTE ESTA HISTÓRIA PARA OS JOVENS QUE ESTÃO ESTUDANDO MÚSICA NESSE PAÍS,NEM SER ACEITO FORA DO BRASIL SERVE PARA SER ACEITO NA PANELINHA!Isaac Carneiro Victal.

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    1. Estimado Isaac, seus comentários muito me honram, assim como seus conhecimentos de nossas gravações e sobre nossa carreira. A OSESP, felizmente, nunca me fez falta para que eu existisse como regente. Se fizesse, eu e outros estaríamos mortos. Rejo no mundo inteiro, e, obviamente, não necessito desses convites locais para existir. Entretanto, deve-se pensar exatamente em sua última frase: "que estimulante esta história para os jovens que estão estudando música nesse país". Qual é o papel da OSESP? E que papel ela está cumprindo? Quanto dinheiro público é gasto nessa instituição que ignora e despreza assintosamente a maioria dos artistas brasileiros? Assim que assumi a Filarmônica de Montevidéu, a primeira coisa que fiz foi tratar de conhecer os artistas e compositores uruguaios, para cumprir com meu papel como devo. Não há mérito nisso, é uma simples obrigação. Mas há muitos gestores que realmente não levam isso em conta. A realidade não mudará, lamentavelmente, para o Brasil e para os brasileiros, enquanto gente que não tem formação, ética ou méritos estiver na gestão de importantes instituições. Um grande abraço, caro Isaac Carneiro Victal.

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  2. Muito obrigado por reservar um momentinho para responder,acho que como cidadãos temos o direito de reclamar quando vemos alguma coisa errada,muita gente não reclama pois só pensa em si mesma,tem medo ou acha que botar a boca no trombone significará o fim da carreira,MAS A MAESTRINA LIGIA AMADIO ESTÁ AÍ PARA PROVAR QUE ENQUANTO UMA PORTA SE FECHA OUTRA SE ABRE E CONSTATEMENTE FALA SOBRE ISSO PUBLICAMENTE.Graças a esse silêncio as injustiças se perpetuam!Esse ato de esnobar artistas da própria nação,isso é nojento,tanto quanto a xenofobia.Essa gente pensa que vai aumentar seu valor no mercado das gravadoras e das agências de concertos e tournées internacionais com esse esnobismo e postura blasé!Enquanto isso a maestrina Amadio foi diretora de importantes orquestras na Argentina,Colômbia e agora Uruguai,onde as portas se abriram.Não estou em guerra contra Marin Alsop,pessoalmente até me tratou muito bem e me deu alguma atenção quando me dirigi a ela,enquanto uma vez um frequentador de concerto na Júlio Prestes saiu no meio,foi abordado por uma funcionária se poderia ceder seu ingresso a outra pessoa,eu fui o felizardo que recebeu o ingresso,fui apertar a mão do rapaz em agradecimento e me deixou com a mão no ar!Sou efeminado,deve ser por isso,mas sou do interior de Minas,região de Juiz de Fora,não vou a uma metrópole para passar por isso,nunca passei por isso na vida.Perdoem-me se falo muito,mas é muito revoltante.Quando a Sala SP abre suas portas para concertos gratuitos já vi funcionários e seguranças debochando e rindo disfarçadamente do público,inclusive de mim,enquanto na apresentação de uma orquestra internacional vi senhoras da high society destratando funcionários,além de que o mesmo segurança que riu de mim antes recebeu-me na portaria do concerto pago abaixando a cabeça.Não consigo ficar calado ao ver estas coisas.Acho terrível essa mentalidade de parte do público em SP que lota salas e aplaude de pé um músico por ser estrangeiro,ou por cobrar um cachê altíssimo,ou por ter vendido muitos discos,ou por ter uma carreira muito publicitada e nem sai de casa para ouvir os músicos jovens da Heliópolis ou da Orquestra Jovem do Estado(a despeito da galopada do maestro Cruz,este sempre acelera os andamentos,é outro da panelinha também,disse numa entrevista QUE É POUCO ÉTICO O MÚSICO FICAR QUESTIONANDO).Só aparecem em sua maioria parentes e amigos dos jovens nestes últimos exemplos,embora o resultado artístico muitas vezes é excelente.Sei que a música erudita é de certa forma um ambiente elitista,mas essa não é a elite do dinheiro e da política,um artista excelente pode conseguir muito com pouco,por isso dei como exemplo as gravações de Ligia dirigindo a Sinfônica da UFF,mas pessoas sem discernimento artístico dirigindo instituições podem gastar rios de dinheiro contratando estrelas internacionais e o resultado ser decepcionante,mas para os que frequentam concertos só por se tratar dum ambiente muito chique com certeza não vão perceber nada.Atenciosamente,Isaac Carneiro Victal.

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