ASSIS PACHECO E SEUS MÚLTIPLOS TALENTOS. UM ARTISTA QUE FAZ FALTA. ARTIGO DE HENRIQUE MARQUES PORTO NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.




por Henrique Marques Porto

   Nos anos 1950 Beniaminio Gigli estava se apresentando no Rio de Janeiro. Certa tarde, ouviu-se a bela voz de um tenor que repassava o repertório num camarim do Theatro Municipal. Logo formou-se, próximo à porta do dito camarim, um grupo de ouvintes atentos, principalmente coristas e funcionários do teatro. Julgaram tratar-se do grande tenor italiano e não queriam perder a oportunidade única de compartilhar a intimidade de um ensaio de Gigli. Todos ficaram encantados. Depois de algum tempo a voz calou e a porta se abriu. Para surpresa de todos, quem saiu do camarin não foi Gigli, mas o brasileiríssimo tenor Assis Pacheco!

Armando de Assis Pacheco nasceu em Itu-SP, em 5 de outubro de 1914. Faleceu no Rio de Janeiro, aos 91 anos, em 2005, depois de longos anos vivendo na cama, vítima do mal de Parkinson.

Pacheco foi dos poucos cantores líricos brasileiros de sua geração que viveram exclusivamente da arte. A maioria tinha outros empregos para garantir a sobrevivência. Mas, no caso dele, não vivia apenas de música, mas da pintura. Pacheco era ótimo artista plástico e foi um dos nossos mais respeitados retratistas. Sua obra, rica e variada, está à espera de quem se disponha exibi-la ao público.

Foi precisamente o talento para a pintura e o desenho que o ajudou a iniciar a carreira de tenor. Ainda bem jovem cantava num coral dirigido pelo maestro Francisco Murino, o primeiro a notar as qualidades de sua voz. Murino praticamente o intimou a estudar canto com ele. Pacheco recusou o convite. A família passava por dificuldades e ele não poderia pagar pelas aulas. O maestro respondeu:
“-Não precisa pagar. Você pinta o meu retrato, e estamos quites.”
 
Henrique Marques Porto
 

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