COMPOSITORES DE UMA ÓPERA SÓ: MASCAGNI E LEONCAVALLO COROADOS ANTES DE SEREM REIS. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

  

   As óperas Cavalleria Rusticana, de Pietro Mascagni e Pagliacci, de Ruggero Leoncavallo, foram apresentadas juntas pela primeira vez, em programa duplo, no Metropolitan Opera House de Nova Iorque, em Dezembro de 1893. Ambas são curtas, densas, podem ser cantadas pelo mesmo elenco e pertencem à mesma escola musical. Um casamento perfeito.
   Expressões máximas do verismo, onde desfilam pessoas comuns, crimes passionais, situações da vida cotidiana e um modo de cantar que previlegia a potência vocal. Pouco interessa se a Cavalleria Rusticana de Mascagni foi a primeira ópera verista ou não. Se Pagliacci tem melhor estrutura musical. A discussão vai longe, o que posso afirmar é que a música dessas óperas emociona muita gente - inclusive este que vos escreve.
   Dramática, muitas vezes carregada nas tintas, potente e cativante, o trabalho da determinação do período histórico ao qual pertencem fica relegado aos chatos da ópera. Muitos buscam fórmulas que se encaixem para definir se essa ópera é verista ou não, tudo balela intelecutal. Elas só estão presentes no repertório dos grandes teatros porque caíram no gosto do público. Sua música agrada aos ouvidos, suas histórias são reais, palpáveis e podem acontecer com qualquer um .
   A produção do Metropolitan Opera House de Nova Yorque aposta na direção de Franco Zeffirelli, sua leitura é realista, verista. Adepto ao luxo e ao requinte, Zeffirelli entende a ação e parte para o clássico. Seus cenários e figurinos são italianos na mais pura concepção da palavra. Lembram o ambiente de uma vila pobre do século XIX e uma trupe de circo empobrecida. A fama de gastador se justifica para o grande diretor, mas nessa ópera ele acerta a mão.
   O elenco é um luxo. Poucas vezes se viram tantos talentos juntos, no auge de suas carreiras. Tatiana Troyanos está em boa forma vocal, que timbre tinha essa mulher! Uma voz melodiosa, com harmonia e luz próprias. Domingo, sempre um grande artista, completo, nos anos 70 os agudos estavam todos lá. Teresa Stratas estava soberba, sua voz sedutora e quente conquista qualquer um, assim ninguém agüenta. Sherril Milnes é um Tonio com voz marcante, volumosa em todos os registros. Todos entendem seus personagens e interpretam-nos além da excepcional atuação vocal.
   O Metropolitan Opera House não fica devendo nem nos comprimários. A Lola de Isola Jones e o Alfio de Vern Shinall participam pouco (têm papéis pequenos) e cantam muito. A orquestra de James Levine sempre se mostrou pronta para reger ópera. Consegue um colorido típico do sul da Itália, com andamentos precisos.
   Cavalleria Rusticana foi a primeira ópera composta por Pietro Mascagni. Até então um desconhecido professor de música, obteve sucesso mundial instantâneo. Mas nem tudo foram flores em sua vida. Sua produção prossegiu com óperas de grande valor, mas que ficaram relegadas a segundo plano, ofuscadas pelo sucesso da Cavalleria Rusticana. Iris, Zanetto e L'Amico Fritz são trabalhos de grande qualidade, mas não pegaram. Coroado antes de ser rei dizia o grande compositor.

   Leoncavallo inventou de concorrer com Puccini, quebrou a cara. Sua La Bohéme caiu no esquecimento. Até hoje não existe nenhuma gravação em vídeo dessa ópera, comercial ou não. Em áudio exitem gravações comerciais. Compositores de uma ópera só.
Ali Hassan Ayache

Comentários

  1. Nunca ouvi falar nessa ópera, mas me parece ser interessante, com certeza depois eu vou procurar saber mais, pois mesmo gostando um pouco de opera, não sei muito sobre o assunto.

    Gostei do blog e estou até seguindo!!!
    Abraços!!!

    seforasilva.blogspot.com

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  2. Sabado18/janeiro/14 hs na Cultura FM no Seguindoa Opera---um especial sobre a obra de Pietro Mascagni-e em breve outro programa sobre Leoncavallo e varios trechos de sua Boheme injustamente esquecida e de outras operas suas tb-

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  3. O título do artigo é tendencioso e deturpador. Leoncavallo e Mascagni não são compositores de "uma ópera só". Leoncavallo compôs dez óperas e Mascagni, dezessete! Se apenas uma ópera de cada um tornou-se sucesso de público, essa é uma outra questão. Mas existe uma distância muito grande entre constatar esse fato e afirmar que eles foram compositores de uma ópera só. Se as outras óperas deles são desconhecidas ou pouco montadas, é outra história. "São outros quinhentos", como se diz popularmente. Com efeito, ambos foram compositores profícuos.

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