DOIS PONTOS ALTOS EM BELO HORIZONTE. ROMEU E JULIETA E A ORQUESTRA FILARMÔNICA DE MINAS GERAIS EM CRÍTICA EXCLUSIVA DE MARCO ANTÔNIO SETA PARA O BLOG DE ÓPERA E BALLET.

A soprano argentina Oriana Favaro interpreta Julieta

      Domingo, 29 de maio às 11h00, Sala Minas Gerais: Apreciou-se a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais em seu 2º concerto para a juventude, em programas altamente educativos e compromissados com a formação musical das crianças e jovens. Nesta oportunidade o maestro Marcos Arakaki, que assumiu o compromisso desta série educacional, em momentos de elevação pedagógica-musical, esclarece os naipe da orquestra, sua demarcação, mostrando-os separadamente e, quando oportuno, apresenta uma pequena peça musical com um instrumentista. Desta vez, o público aplaudiu calorosamente a harpista Giselle Boeters pela intervenção oferecida. Na ocasião dos Poemas Sinfônicos, abriu-se o concerto com Antonín Dvorák (Abertura Otelo, ops. 93;  de 1892. Dentre as três aberturas planejadas como tríade (Na Natureza op. 91; Carnaval op. 92  e Otelo op.93) este só se relaciona com o drama de Shakespeare em seus esboços, e trabalha com grupos de temas em vez de, respectivamente, apenas um tema principal e outro secundário, o drama espiritual musical da última das três obras, lembra seu final trágico e penetrante; bem explicitado por Arakaki e sublinhado pelos músicos personificando Otelo, Iago, Desdemona e Cassio, seus personagens centrais. 
       Les Préludes foram compostos por Franz Liszt entre 1852/1854 e inspiram-se nas Meditações poéticas de Lamaratine: "Que é a vida senão uma sériem de prelúdios àquele cântico ignoto cuja primeira nota solene é tangida pela morte" ? Os quatro temas sequenciais foram muito bem desenvolvidos pelo conjunto, leva à conclusão depois  de um vivaz desenvolvimento dos temas principais,  com um Allegro marziale introduzido solenemente pelas trompas e trompetes.  Na sequência, L'Après -midi d'um faune (Prelúdio para a tarde de um fauno) escrita entre 1891/94 por Claude Debussy. Uma forma de improvisação em torno de um tema central: o solo de flauta transversal (de quatro compassos, porém assimétrico) lindamente introduzido pela flautista Renata Xavier, secundada pela harpa, e pelo oboé de Alexandre Barros que de seu instrumento extrai um som de puro veludo e quente essencia musical. Demais cordas, trompas e madeiras de sonoridade de êxtase. 
        Till Eulenspiegel lustige Streiche, op. 28, um dos mais completos poemas sinfônicos de Richard Strauss encerrou o programa. Estreada em 05 de novembro de 1895,  em Colônia pelo próprio autor à frente dos músicos. É inspirado numa conhecida lenda alemã relativa a um galhofeiro que passou a vida assoviando displicentemente até chegar à catástrofe de sua condenação à morte, Till é pendurado na forca.Vários são os instrumentos que o interpretam, os violinos primeiramente, depois a trompa, comentados pelos pratos, matraca, explosões nos metais, e pelos 16 sopros de madeira (conjunto completo, segundo o maestro: três flautas, flautim, três oboés e cornê-inglês;   dois clarinetes, requinta e clarone,  três fagotes e contra-fagote) todos bem trabalhados por Arakaki frente ao conjunto de excelência do estado mineiro. 
        Uma nota importante:  Levar crianças menores de cinco anos é uma afronta a própria idade infantil. A concentração dos pequenos é mínima e não faz sentido submetê-las a tal tarefa. O resultado é bebês balbuciando, chorando em plena execução sinfônica, o que castiga aos próprios pais e penaliza o público que acorre para assistir uma orquestra ao vivo. 


         Domingo, 29 de maio às 19h00. Grande Teatro do Palácio das Artes. ùltima récita de "ROMEU E JULIETA", a ópera de  Charles- François Gounod é datada de 1867 ao lado de  "Faust" figura entre as mais belas do compositor francês. Com libreto de Jules Barbier e Michel Carré, inspirada na obra clássica de Willian Shakespeare, proporcionou ao público mineiro uma montagem de belo efeito visual e de suma importância na literatura lírico-dramática.  
         O segundo ponto alto foi a regência do maestro Silvio Viegas que soube dirigir o espetáculo com competência técnica e grande sensibilidade musical e artística. Dosagem no volume das vozes solistas e do coro proporcionadas à orquestra por ele conduzida; leveza e profundidade nos diversificados momentos do enredo, e principalmente o estilo da ópera romântica francesa que ele conseguiu traduzir com êxito. Méritos também da orquestra e do Coral Lírico que colaboraram eficazmente. 
         O tenor Giovanni Tristacci possui a tessitura adequada à ópera francesa de Gounod, e como Romeu saiu-se bem especialmente em suas árias "Ah, léve-toi soleil e", do Ato II e "O ma femme! o na bien-aimée"!, como também nos duetos com Julieta. Esta, na voz de Oriana Favaro, a cantora argentina (soprano ligeiro) de bonito timbre, porém um volume muito reduzido, some-se que sua projeção vocal da região central para baixo é quase inaudível. De sua coloratura no Ato I, o que se ouviu,  não excedeu ao regular. Paulo Szot (Mercucio) um dos melhores cantores-atores em cena, poder-se-ia incluí-lo para um Gonzalez em "Il Guarany", de nosso grande compositor Carlos Gomes, a próxima produção da Fundaçao Clóvis Salgado ! Savio Sperandio é um Frei Lourenço de primeira grandeza e Thiago Soares (Theobaldo) destacou-se como um tenor coadjuvante de qualidades. Os demais:  Eduardo Amir,(Capuletto); Luciana Monteiro (Gertrude); Pedro Vianna (Conde Páris); Mario Chantal (Duque Montecchio); Aline Lobão (Stephanio), Lucas Ellera (Benvolio) e Célio Souza (Gregório),  razoáveis. 
           Pablo Maritano fez uma boa direção cênica, experiente homem do teatro argentino;  figurinos de Sayonara Lopes de bonito efeito visual, cenários da lavra de Theobaldo, como sempre único, e movido em módulos, coreografia muito primária de Lydia Del Picchia e iluminação de Pedro Pederneiras pedestre.  

Escrito por Marco Antônio Seta em 30 de maio de 2016.
Jornalista Inscrito sob nº 61.909 MTB / SP

Romeu e Julieta, fotos Internet.

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