"FIDELIO" EM CONCERTO REGULAR NO THEATRO MUNICIPAL DE SP. CRÍTICA DE MARCO ANTÔNIO SETA COM EXCLUSIVIDADE PARA O BLOG DE ÓPERA & BALLET.

         

   A ópera  Fidelio de Beethoven estreou a 20 de novembro de 1805, em Viena revisada várias vezes até 1814, baseada num libreto frouxo, que entra no campo do Singspiel, pela alternância da palavra falada com a cantada, cabe dizer que, musicalmente, supera a fraqueza de seu texto, que desequilibra a obra. Para ela Beethoven compôs sucessivamente três aberturas (Leonore I, II e III), o que prova  seu interesse principalmente sinfônico pela tarefa. A inclusão da abertura Leonora III, antes do quadro final, foi introduzida por Gustav Mahler quando era diretor da Opera Imperial de Viena, por volta de 1900.
                     Com algumas adaptações foi com esta ópera que Cleber Papa abriu a esperada temporada de ópera em concerto do primeiro semestre de 2017 na noite de sete de Abril no Theatro Municipal, com a introdução de narração de Cida Moreira (que estava rouca e num traje muito feio). A obra é ouvida como um verdadeiro hino à liberdade e um impropério contra a arbitrariedade tirânica. Outra curiosidade é que os solistas se apresentaram de calça jeans, fraque e sapatênis, as  duas cantoras a rigor e coro e orquestra também a rigor. O contraste é negativo, antagônico  e não sei onde querem chegar !
                      Roberto Minczuk, o atual regente titular da Orquestra Sinfônica Municipal, apresentou uma leitura um tanto tímida e inexpressiva em todo o Ato I, incluindo-se a abertura Leonora Op. 72. Entretanto, no ato seguinte sua postura fez render melhores sonoridades nas trompas e nas cordas do tão bem elaborado conjunto sinfônico de Beethoven (Leonore III, Op.. 72-a). Interessante a disposição de Minczuk ao disciplinar as cordas e trompas no fosso elevado; acomodou os sopros de madeira, os trompetes e tímpanos nas laterais no palco; ao centro: os solistas secundados pelo coro, concluindo bem. 
                       O Coro Lírico Municipal foi o responsável pelos melhores momentos: o comovedor coro dos prisioneiros, onde os raios de sol os tornam aliviados; a apoteose final do Ato II; denotando cuidadosa preparação do maestro Mário Zaccaro, de volta ao nosso Municipal. 
                        De Marly Montoni ouviu-se uma Leonora jovem, dona de um timbre bonito e escuro de soprano lírico-dramático, porém seu personagem é grande demais para a sua jovialidade profissional. A sua atuação principal "Abscheulicher" seguida pela ária "Komm Hoffnung", obteve apenas resultados medianos, devido às muitas dificuldades de controle vocal, intensidade sonora  a que se submete a intérprete, as quais ainda não conseguiu driblar na mulher apaixonada e determinada, por um sentimento absoluto e puro. 
                        O tenor lírico spinto Ricardo Tamura que integra o elenco do Metropolitan Opera de New York, não se preparou o suficiente para interpretar o Florestan, papel para tenor dramático, que não é o seu registro. De difícil tessitura evidenciou em seu dramático solilóquio, e apesar de registrar boa técnica, não se livrou de se perder e errar nos momentos finais no Ato II. Cantar em São Paulo, nossa grande megalópole,  é realmente um desafio para todos os cantores !
                         Sobressaiu-se espontaneamente o soprano lírico de coloratura Caroline De  Comi, numa Marzelline revelando belo timbre, domínio do papel e boa técnica vocal, juntando-se com o seu par o tenor Giovanni Tristacci  como Jaquino, com o qual resultou bons momentos de bel canto. 
                          O papel de Rocco magistralmente vivido por Hans Sotin, Manfred Jungwirth, Karl Ridderbusch, Gottlob Frick entre outros grandes baixos de envergadura vivido aqui por Carlos  Eduardo Marcos  o qual é um tanto bisonho. Douglas Hann  exagerou em suas inflexões como Don Pizarro. Completando o elenco, vocalmente muito  bem, estiveram Paulo Queiróz e Rafael Thomas (1º e 2º prisioneiros), e finalmente uma boa surpresa, Pedro Ometto (Don Fernando) baixo cantante cuja voz projetou-se satisfatoriamente e o melhor de tudo: promete para dias futuros.
                           Apreciar este Fidelio com um elenco repentino, e o que é mais importante, de cantores líricos nacionais preparados aqui no Theatro Municipal de São Paulo, aponta-se que o caminho a palmilhar é certeiro, empenhando assim o aprimoramento do artista brasileiro, apto para integrar elencos de vários gêneros e  em diversos estilos artísticos. 

Escrito por Marco Antônio Seta, aos 9 de Abril de 2017.
Jornalista inscrito sob nº 61.909 MTB / SP

Foto: Facebook Edilson Venturelli.

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