CRÔNICA DE UM BALÉ ASSASSINADO - O LAGO DOS CISNES, DE SANDRO BORELLI, NA PIOR VERSÃO DE TODOS OS TEMPOS. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

  

O inesperado aconteceu na apresentação do balé "O Lago dos Cisnes?" (a produção se deu o direito até de mudar o nome colocando esse ponto de interrogação) no Teatro Municipal de São Paulo em Dezembro de 2008. 
  Sentaram na minha frente uma mãe e seus dois belos filhos. Um aparentava 8 anos e o outro 13, vestiam suas melhores roupas, para eles era uma noite de gala. Seus olhos irradiavam um brilho único, talvez por ser a primeira vez que visitavam o TMSP. O encanto e  o glamour do antigo teatro os pegou, tiraram suas câmeras digitais e se fartaram com as fotos. Maravilhados com o nosso mais belo teatro esperavam um balé com cenários e figurinos suntuosos, belas bailarinas , música que soasse suave aos ouvidos, um conto de fadas na história. Queriam se emocionar, era para ser uma noite inesquecível, daquelas que se comenta com os colegas de sala lhes fazendo inveja. Coitadinhos! O que viram foi algo bem diferente.
    Uma coreografia assinada por Sandro Borelli que beira ao ridículo atroz. Bailarinos quase sempre deitados, rastejando no chão, movendo-se de maneira sem nexo e muitas vezes até sem coordenação. Homem sobre Homem, mulher agarrada a outra mulher. Sem sentido para os marmanjos e até para aqueles que conhecem a arte do balé, imagina o que pensaram as duas crianças. Ao invés de cenários reais, luxuosos, com palácios encantadores que chamam a atenção de todos, viram um cenário criado pelo colega Jean Pierre Tortil com placas de metal enferrujadas que adormeciam inertes no fundo e nas laterais do palco. Esperavam luzes de diferentes cores que realçassem a história e encontraram no desenhista de luz André Prado o monocromático e o estático.
        Assustaram-se com os figurinos de Marcelo Pies (a dificuldade foi tanta que Marcelo precisou da assistência de Carol Lobato), roupas rasgadas e desgastadas para mostrar que a moçada que faz balé é "cabeça", de vanguarda. Esses dois meninos, que quando chegaram se maravilharam ao ver a  Orquestra Experimental de Repertório no fosso, ouviram dela na regência do maestro Juliano Suzuki uma música que soava com volume excessivamente alto. Uma barulheira que lembrava as vezes que foram a Penápolis e ouviram a banda na praça central. A bela melodia do Lago dos Cisnes que sua mãe lhes havia mostrado de um CD que comprara na banca de jornal agora doía os ouvidos. Parecia que era diferente, outra música, talvez a mãe tivesse comprado o CD errado. Toda hora entrava uma música eletrônica, uma tal de A Balada da Menina Afogada de uns caras que nada tem a ver com balé,  Bertold Brecht e Kurt Weill. Isso não estava no CD mamãe!
      Perplexos os dois guris perguntaram a mãe o que estava acontecendo? Cadê o lago, cadê o cisne, que hora entram as bailarinas de branco? Ela embasbacada, de cara no chão, sem saber o que falar pegou os dois filhotes e se mandou mais cedo para casa. Mas não foi só ela, muitas outras mães e marmanjos fizeram o mesmo diante de tal afronta.
    Quando essas crianças vão voltar ao teatro para ver um balé ? Quando essa pobre mãe que queria cultura e diversão aos filhos terá a cara de pau de chamá-los para ir ao TMSP novamente? Vocês sabem a resposta excelentíssimos senhores diretores do teatro. Com certeza nunca mais. Devido ao desrespeito de vocês com a obra. Graças as suas invencionices "modernas " ou releituras. Vocês que nunca fazem balé clássico devido as dificuldades técnicas e quando fazem sai essa montagem que beira a galhofa.
    Aos que resistiram até o fim ficou um misto de vaias e aplausos, mais vaias que aplausos. Os bailarinos receberam ambos meio sem jeito e com pressa para acabar. As crianças que sobraram estavam mortas de sono e não viam a hora de ir para casa. Os adultos, muitos deles tiraram uma pestana no meio da apresentação.  
    O TMSP conseguiu espantar o publico. Caso tivéssemos uma temporada completa de balé clássico, uns dez títulos por ano e no meio dela entrasse essa versão bizarra, até poderíamos aceitar essas maluquices. Bastava uma restrição a idade mínima para entrada. Mas em um balé que tem o nome de "O Lago dos Cisnes", música de Tchaikovsky e ingressos esgotados as pessoas esperam um balé no sentido literal do termo. 
Ali Hassan Ayache

Comentários

  1. Por que não deixam os clássicos de repertório em paz? Por que se inspiram no que já foi feito, muito bem feito, em lugar de buscar temas próprios. Ao menos estariam expondo ao ridículo sua própria obra. Fico desesperada com esse tipo de "coreógrafos" cuja criação não será lembrada daqui a cinco anos.

    ResponderExcluir
  2. Ai o Ali como sempre tão conservador!Zubin Mehta falou numa entrevista ao Roda Viva,antes do programa ser transformado por Augusto Nunes numa tribuna política do governador,o que se segue:"Há muitos compositores,precisamos ver o tempo dirá.Há pouco tempo regi uma peça de Luciano Berio chamada Sinfonia.Hoje tocamos isso como peça clássica.Precisamos filtrar a música,como o café,e ver o que vai sobrar."Creio que filtrou-se também as Métaboles de Duttilleaux,Turangalila de Messiaen,sinfonia n3 de Lustolawski,sinfonia 14 de Shostakovich,concerto para piano n1 de Ginastera e muitas outras.No Brasil quase nunca tocam nenhuma dessas peças,só pude o ouvir o Ginastera,que foi tocado para comemorar o centenário do compositor,só assim mesmo.Gostei muito da OSESP nesse dia e o solista Jorge Federico Osorio me deixou de boca aberta,por outro lado a sala estava vazia.Deve-se parar de fazer esse espantalho da arte de hoje!Para quem se interessar,o solista se pesquisarem no YOUTUBE aparece numa outra interpretação desse concerto,que foi gravado pela primeira vez por João Carlos Martins com a Boston Symphony quando o artista estava no apogeu de suas habilidades como pianista.Isaac Carneiro Victal.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. "Filtraram-se também",seria o correto,perdão pelos muitos erros que cometo.Isaac C. Victal.

      Excluir
  3. A atual "gestão" do Municipal conseguirá seu objetivo: destruir o que ainda resta de público da música clássica, ópera e balé...

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas