LANTERNAS VERMELHAS : VALOROSO TEATRO COREOGRÁFICO CHINÊS. CRÍTICA DE WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

FOTOS/JAMAR HUTCHESON/ RENATO MANGOLIN


Há seis décadas o Balé Nacional da China vem se impondo  como a mais antiga cia de balé de seu país e a primeira a estabelecer laços coreográficos com as tradições do Teatro, da Música e da Ópera, aliadas ao folclore e à arte nativista. 

Embora tenha no período maoísta priorizado as obras de conteúdo político e propagandista, mesmo assim continuou seu aprendizado das técnicas clássicas do balé russo, graças à proximidade ideológica com o regime soviético. 

Após o epílogo da Revolução Cultural, esta Cia inicializa um gradual processo de abertura ao repertório contemporâneo, mais focado em criadores como G. Balanchine, e num maior intercambio com os grupos e coreógrafos do Ocidente. Ao lado de maior inclusão de clássicos fora da exclusividade antológica russa, não abandonando de vez obras da era Mao como o mitificado O Destacamento Vermelho de Mulheres. 

Onde, através de Lanternas Vermelhas, houve um especial significado na ideia da transposição do filme, de 1991, dez anos depois, em similar titularidade, para a cena coreográfica, com a enorme repercussão mundial da obra fílmica dirigida por Zhang Yimou.

Assim, o cineasta foi convocado a utilizar o seu enredo cinematográfico para inédita e avançada revitalização do Balé Nacional da China. Inspirando-se no memorial das tradições chinesas, indo do milenar e popular teatro das sombras ao referencial à Ópera de Pequim, sem esquecer as lutas marciais.


Ao mesmo  tempo em que tematizava a situação inferiorizada da mulher na China ancestral, que de concubina tornava-se de contrastada independência na era comunista. Numa narrativa dos domínios da clã de um patriarca, rodeado de asseclas masculinos, exercendo seu poder opressivo sobre  três esposas/concubinas.

Uma trama próxima dos melodramas operísticos, carregada de paixões proibidas, traição e morte, através de elementos estéticos que remetem, além da ópera, aos recursos mímicos e à representação teatral, pontuado por cenas de teatro dentro do teatro e um entreato mais lúdico com mesas de jogos (mahjong). 

Numa cenografia orientalista à base de painéis móveis (Zeng Li) de rica plasticidade, e na elegância de uma indumentária, misturando conservadorismo com sutis toques de modernidade, pelo franco estilista Jérome Kaplan. Completada na magia de um design de luz do próprio cineasta (Zhang Yimou), com  prevalência  focal/emotiva no reflexo vermelho das lanternas.

A linha coreográfica, em dúplice realização de Xin Peng Wang e Wang Yuanyuan, ambos com passagens profissionais pelos palcos americanos, faz um mix de bases néo-clássicas, sem grandes arroubos técnicos.  Salvo grandes extensões de pernas e exibicionismo de pontas no naipe feminino, além de um energizado gestual das formações masculinas, lembrando visualmente os celebrizados guerreiros esculturais em terracota.

Sustentando passagens mais sinfônicas com ritmos nativos e danças étnicas, em provocativas inserções gestuais oriundas da mímica e do kung fu, a música fragmentária na diversidade de estilos (Qigang Chen) não entusiasma com o mesmo dimensionamento da concepção cênica.

Embora não tenha a completa identidade expressiva do filme original nesta sua adaptação coreográfica, Lanternas Vermelhas não deixa de revelar um transcendente significado pela artesanal unicidade de proposta estética.

Tanto por seu grandioso apelo visual e pela qualidade da performance de afinado elenco, como pelo simbolismo emblemático de uma nação que coloca em primeiro plano o aporte e incentivo à cultura da dança e aos seus mentores, nas suas correlações com a tradição e a modernidade.

Que comparativa diferença e que tamanho desalento!!! Quando contextualizados numa sub valorização do inventário artístico, na atual governança de um certo país abaixo da linha equatorial...

                                            Wagner Corrêa de Araújo

O Balé Nacional da China cumpre turnê nacional apresentando-se no Theatro Municipal/RJ, até 26 de maio, seguindo para São Paulo, Curitiba e Belo Horizonte, em temporada extensiva a 9 de junho.

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