CORO LÍRICO MUNICIPAL DE SP COMPLETA SEUS 80 ANOS DE FUNDAÇÃO NO THEATRO MUNICIPAL. ARTIGO DE MARCO ANTÔNIO SETA NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

                         Coro Lírico Municipal de São Paulo completa seus 80 anos de fundação no Theatro Municipal.

   No início de 1939 o maestro Armando Belardi oficiou à Câmara Municipal de São Paulo, propondo a seleção de sessenta vozes para compor o Coral Lírico Municipal, tendo em vista a sua necessidade nas temporadas líricas anuais que o Teatro Municipal já realizava. Belardi era também o diretor do Municipal entre 1938 a 1945).
          O assunto foi estudado e aprovado, pelo então prefeito Prestes Maia,  decretando-se assim, em caráter estável, a formação desse conjunto coral que hoje completa os seus 80 anos de fundação, num atraente e belo espetáculo comemorativo à efeméride. 
         O maestro Fidelio Finzi foi o seu primeiro regente titular e ensaiador: vários outros vieram a dirigí-lo  ao longo das décadas: Sisto Mechetti assumiu o posto de maestro titular em 1947 e em 1951 o coro foi oficializado, permanecendo nas mãos da família Mechetti, passando ao filho Marcello Mechetti, posteriormente seu neto Fabio Mechetti, Oswaldo Colarusso,  e após Mario Zaccaro desde 1994 até 2013,  reassumindo em 2017 essa função. Dirigiram este coral também grandes maestros concertatores como: Francisco Mignone, Edoardo de Guarnieri, Souza Lima, Eleazar de Carvalho, Wolker Wangeheim, Simon Blech.
          Uma das características do coro, é a presença de vários solistas que passaram e compõem os seus naipes. Através das décadas por ele já atuaram José Perrotta, Ingard Bianca Muller, Paulo Adonis, Wilson Carrara, Norma Cresto, Nina Duna, Victória Kerbauy, Renata Lucci, Airton Nobre, Pedro Coca, Luiz Orefice, Andrea Ramus, Marília Siegl, Benedito Silva e Paulo Szot, entre tantos. 
           E grandes nomes da cena lírica internacional dividiram o palco com o Coral Lírico. Citaremos os maiores na década de 1939-1949:  Beniamino Gigli, Bidu Sayão, Zinka Milanov, Solange Petit-Renaux, Paulo Ansaldi, Agnes Ayres, Ferruccio Tagliavini, Violeta Coelho Netto de Freitas e Toshiko Hasegawa (Mme. Butterfly - 1940), Mario Del Monaco, Ebe Stignani, Leonard Warren, depois, Gianni Raimondi, Marta Rose, Gino Bechi, Fedora Barbieri, Tito Gobbi, Virgínia Zeani, Gian Giacomo Guelfi, Giuseppe Taddei, Ghena Dimitrova, Nicolla Martinucci e Eva Marton. Na histórica temporada de 1951, também vieram Renata Tebaldi, Nicola Rossi-Lemeni, Giuseppe de Stefano e Maria Callas. 
            "Turandot", uma ópera de massas, de mostra de fantasia, a mesma em que o Coro estreou em 1939, com ela o conjunto transmite a atmosfera e o misticismo de ambiente exótico desta que é a obra-prima de Giacomo Puccini (1858-1924) - "Perchè tarda la luna ?...e após Diecimila anni al nostro Imperatore ! O Sole! Vita! Eternità!"  
             Na sequência, sob a regência do maestro Alessandro Sangiorgi, (Assistente da OSM) foi selecionado uma resenha de excertos do repertório de 111 óperas já montadas no teatro paulistano por esse coro. Ouviram-se o Coro dos Peregrinos de Tannhauser, de Richard Wagner; cuja última e bela encenação deu-se em julho de 1996, sob a direção do maestro Siegfried Kohler; seguido pelo Coro das bruxas Ato I de Macbeth, de Verdi, encenada pela primeira vez em São Paulo em 1976, depois em 1982 e 2002; a Meditação de Thaís, de G. Massenet em límpido solo de Alejandro Aldana (spalla); ópera vista aqui em 2015 numa montagem espetacular do regisseur Stefano Poda; a Lacrimosa do Requiem de Mozart e o majestoso Dies Irae do Requiem, de G. Verdi, aqui cantado pela primeira vez em março de 1964 sob a regência de Armando Belardi, depois em 1971 na versão de Simon Blech com a Filarmônica de São Paulo, em 1989 com John Neschling:  em 2011 com Abel Rocha; novamente em 2016 com Neschling e,  por último em 2019 com Enrico Arturo Diemecke, maestro mexicano e atual diretor artístico do Teatro Colón de Buenos Aires. Todas essas execuções do Requiem de Verdi, inclusive a deste espetáculo, foram de grande expressividade dramática e vocal. 
             Mario Zaccaro surgiu como pianista e compositor da música Passagem à qual introduziu também as vozes de seu coro lírico. "Carmen", de Bizet, encenada inúmeras vezes,  nos trouxe o "Les Voici" do ato IV numa descontraída exibição de seus componentes desfilando pela plateia, comunicando-se com o público. Os coros do ato III de La Traviata trouxeram dois ex-cantores como solistas: o barítono Luiz Orefice e o mezzo soprano Elisa Nemeth, resgatando o tempo em que participaram do grupo. E o famoso "Va, pensiero " deu enlevo do preparo e da especialidade de Mario Zaccaro na direção desse conjunto vocal.
              O Fortuna, de Carmina Burana, Carl Orff (1895-1982) emoldurada pela invocação da deusa do destino, cuja roda do destino é uma parábola das subidas e descidas da vida humana. O calor e a emoção nas vozes dos oito naipes do Coro Lírico Municipal  comprovam que sua música é um arquivo vivo do Theatro Municipal e é também expressão de uma necessidade direta e elementar de vivência.  

Escrito por Marco Antônio Seta, em 24 de Agosto de 2019.
Jornalista inscrito sob nº 61.909 MTB / SP
Diplomou-se em Piano, Teoria, Harmonia e História da Música, no Conservatório Dramático e Musical "Dr. Carlos de Campos", em Tatuí, SP
É licenciado em Artes Visuais pela UNICASTELO em São Paulo/SP. 

Comentários

Postagens mais visitadas