FALANDO DE MÚSICAS ESTRANHAS OU POUCO CONHECIDAS. ARTIGO DE ISAAC CARNEIRO VICTAL NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.


Nunca escrevi nada tão pessoal aqui, tenho uns gostos bem estranhos e gostaria de comentar sobre peças que amo ouvir mas que parecem quase nunca serem interpretadas, no mundo inteiro; Farei uma defesa delas, assim quem sabe, perdoem tanta pretensão, tiro um pouco da poera acumulada dessas partituras. São obras quase todas escritas nos últimos 100 anos,não tem nada muito antigo, algumas talvez ainda esperam seu tempo chegar.

Respighi: Concerto in Modo Misolidio. O compositor italiano escrevia brilhantemente para piano e orquestra, uma qualidade que ninguém associa a ele.Também nunca um grande pianista reconheceu isso e colocou essa peça, bem como o outro concerto que nos deixou esse autor em Lá menor, em repertório concertante. Não devem nada aos cavalos de batalha que os pianistas e orquestras insistem em programar escritos nessa mesma época É como se esse repertório não existisse. Gravação recomendada por Olli Mustonen e Orquestra da Radio Finlandesa,direção Sakari Oramo.
 

Messiaen: 3 Pequenas Liturgias da Presença Divina. Uma pequena obra-prima do inicio da carreira desse gênio, usando já ondas maternot em meio a uma colorida e original orquestração.O texto das tais pequenas liturgias é de Messiaen mesmo,um dos últimos compositores que ainda era católico fervoroso. Gravação recomendada por Myung Whun Chung,Orquestra e Coro da Radio Francesa,Piano Roger Muraro e Ondas Maternot Valerie Hartmann-Claverie.


Barber: Concerto para Piano. A sedutora obra desse compositor parece não surtir muito efeito fora mundo anglo-saxão.Nem Marin Alsop, que gravou esse concerto,programou a peça enquanto esteve regendo por essas bandas. O finale é feito sob medida para estimular gritos de "bravo" vindos do público. Ao contrário das outras obras desta lista,esta esse ano está programada para ser tocada pela melhor orquestra do Brasil na Sala Minas Gerais.Gravação recomendada Elizabeth Joy Roe.London Symphony dirigida por Emil Tabakov.


Dutilleux: Concerto L'Arbre de Songes. Esse é aquilo que se pode chamar de um compositor clássico-moderno,cujas obras vão com certeza cada vez mais serem compreendidas e apreciadas dadas suas muitas qualidades.Dutilleux conseguiu criar "todo um mundo distante"(nome de uma de suas composiçoes)através de sua música e em meio a esses timbres,harmonias e melodias tenho inebriantes sensações que me seduzem completamente.Gravação recomendada por Pierre Amoyal violino e Orquestra Nacional da França dirigida por Charles Dutoit.


Isaac Carneiro Victal

Comentários

  1. Que bom o texto teve boa aceitação,por parte do administrador do blog!Meus agradecimentos.Possuo todo um sortimento de estranhezas e raridades aqui para compartilhar.Tem mais.Isaac Carneiro Victal.

    ResponderExcluir
  2. Sugestão para o artigo número 2 da série


    Dobrando a aposta,segundo artigo sobre músicas estranhas ou pouco conhecidas


    Dada a boa aceitação por parte do Ali do primero texto,agora vou cometer maior ousadia.Não usarei como critério principal a qualidade da composição musical para mencionar as peças,o critério principal é a estranheza ou raridade das obras.Além disso,se havia dito que minha intenção era remover a poeira acumulada sobre partituras negligenciadas,dessa vez enumero músicas para levantar a poeira,celebrando o barulho e o escândalo.Digamos que a maior inspiração desses compositores foi a Sagração de Stravinsky,vista sobre diferentes contextos muito particulares.


    Avet Terterian:Terceira Sinfonia.O compositor da Armênia escreveu uma barulhenta e nacionalista peça sem sutileza alguma.Tudo nela é nu e cru.Resta ao ouvinte ou se entregar ao frenesi,talvez se mexer junto com terremoto,ou sair correndo.Não se trata de uma obra-prima,é uma peça de efeito bombástico,impressionante.Gravação recomendada Orquestra Filarmônica da Armênia,Loris Tjeknavorian.


    Jon Leifs:Hekla.Literalmente uma explosão.Música que procura evocar uma erupção vulcânica.Hekla é um nome de um vulcão na Islândia,terra do compositor.Também não se trata de obra excepcionalmente bem escrita.É barbarismo puro,busca o efeito e impressionar o público,o que efetivamente consegue.Para isso que serve.Gravação recomendada Orquestra Filamônica de Helsinqui,Leif Segerstam.


    Alberto Ginastera:Panambi.Agora um negócio mais próximo da gente,um balé sobre uma lenda dos índios da região do rio Paraná.Dessa vez se trata de uma obra-prima,opus 1 de um menino de 21 anos!Sucessivamente ouvimos muito barulho e as mais delicadas sutilezas.Harmonias e melodias cativantes e orquestração de um mestre dos timbres orquestrais.É UM MILAGRE O QUE CONSEGUIU ESSE RAPAZ.Recomenda-se ouvir o balé completo,para se ter uma melhor noção do que estou falando,uma suíte dessa obra funciona como aperitivo.Gravação recomendada Orquestra Filarmônica de Gran Canária,Pedro Halftter.



    Silvestre Revueltas:trilogia de poemas sinfônicos Esquinas,Ventanas e Cuauhnahuac.Aqui temos um compositor que parece ter adorado as sobreposições de Stravinsky em A Sagração da Primavera .Servindo-se de diferentes técnicas de composição modernas,foi capaz de criar algo bastante original,quase um Varèse que canta,de maneira irônica ou distorcida.Algumas vezes temos melodias próptias evocando o folclore,outras vezes temos um modernismo acerbo nada nacionalista.Essa música dificilmete terá vasta difusão.São as melhores obras dessa lista.Na primeira versão de Esquinas(1931)temos uma soprano entoando melodias sem texto,sendo interrompida por clamores orquestrais.A peça mesma se inicia com um clamor das trompas,num salto para um difícial agudo,seguem-se madeiras e metais evocando talvez a cacofonia de uma esquina engarrafada,depois temos um glissando no trombone e toque do gongo.Uma das introduções mais estranhas que já ouvi.Ventanas parece uma guerra de fanfarras orquestrais,interrompidas por trechos de calmaria,numa peça estruturalmente não repetitiva(Through-Composed para falar na terminologia erudita).Cuauhnahuac é tão estranha quanto seu nome indígena.Começa atonal,com a orquestra explodindo aqui e ali,trompetes procurando chegar até a região mais aguda e trompas perdendo o fôlego ao tentar fazer o mesmo.Segue-se uma bonita seção lenta bem menos dissonante,onde aparece uma polifonia mais tradicional;isso por pouco tempo,rapidamente tudo muda,se chocam vários materiais,tanto novos quanto já ouvidos antes,em diferentes tonalidades,uma verdadeira orgia musical.Imagino que o encaixe correto de todos esses elementos deve ser dificílimo para a orquestra e o regente.Estamos num terreno de "classicos alternativos",isso é complexo e original demais para ser largamente apreciado.Gravações recomendadas Esquinas Sinfônica de Guanajuato,José luis Castillo(versôes 1931 e 1933).Ventanas Orquestra de Louisville,Jorge Mester.Cuauhnahuac Filarmônica da Cidade do México,Enrique Bátiz.

    Isaac Carneiro Victal.


    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Caríssimo Ali,se não for pedir demais,gostaria que o último comentário,em que dobrei a aposta,viesse como um artigo em separado no blog,como o segundo de uma série que estou preparando ...Encarecidamente,Isaac Carneiro Victal.

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas