QUERIDO EVAN HANSEN / O MUSICAL : O CONFLITO DE UM ADOLESCENTE PROBLEMA NO DESAFIO DE UMA FAKE NEWS. CRÍTICA DE WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO NO BLOG DE ÓPERA 7 BALLET.

 

Querido Evan Hansen. Tadeu Aguiar/Direção Concepcional. Agosto/2024. Fotos/Silvio Júnior.


Desde sua estreia na Broadway, em 2016, à sua versão fílmica, em 2021, Querido Evan Hansen vem levantando polêmicas no entorno de uma temática não muito convencional para o teatro musical. O que acabou dividindo as opiniões dos especialistas na crise mental adolescente, vista por eles como um retrato superficial, estendendo-se ainda às normais preferências do público e da crítica quanto a este gênero teatral.

No formato de musical, sob a sempre artesanal direção concepcional de Tadeu Aguiar, Querido Evan Hansen finalmente chega aos palcos brasileiros, com breve temporada, entre o Rio de Janeiro e São Paulo. Contando com um elenco de conceituados nomes do teatro ao lado de reveladoras atuações de uma nova geração de atores/cantores.

O caráter diferencial já começando pelo libreto de Steven Levenson que fala aqui sobre a narrativa sintomática de um conflituado adolescente de curso médio que tem, como prescrição de seu terapeuta, a tarefa de escrever no computador cartas motivacionais  para si mesmo.

Para, assim, tentar aliviar sua ansiedade no crescente isolamento familiar diante de mãe solteira, sempre ausente numa jornada diária de enfermaria, e do seu difícil convívio com colegas de escola com os quais mal consegue se comunicar, deixando um vazio até na sua pretensão amorosa por uma de suas amigas.


Querido Evan Hansen. Com Hugo Bonemer (Connor) e Gab Lara (Evan). Agosto/2024. Fotos/Silvio Júnior.


E é a partir de um encontro casual com o também problemático Connor que, este ao assinar no braço engessado de Evan, surrupia de seu bolso uma carta enigmática que vai precipitar a trama paralela no sequencial suicídio deste colega de classe.

Ao encontrarem junto ao corpo do filho Connor a estranha missiva, seus pais passam a julgar que Evan certamente deveria ser o seu amigo mais confiável. Imerso numa confusa trajetória Evan assume esta mentira que vai conectar os acontecimentos de uma forma inesperada.

Outro caracter conceitual do musical é sua trilha, escrita por uma dupla (Benj Pasek e Justin Paul) premiada com o Oscar de melhor canção pelo filme La La Land, estruturada, agora, mais sob um dimensionamento contemporaneo psicoreflexivo, entremeado por acordes roqueiros mais suaves e menos expansivos.

Na caprichada direção musical e arranjos de Liliane Secco atenta à proposta terapêutica do enredo, com canções melodiosas e emotivas, mesmo que não alcancem o eco mais energizado de uma ambiência mental tipicamente adolescente. Capaz de destacar a tessitura vocal aguda, com um sutil sotaque de contra tenor, pelo protagonista Gab Lara. 

O jogo comportamental incitado pelo acaso de um fato incidental leva Evan, com sua recusa para negar que aquilo em que acreditavam os pais e amigos de Connor, a nada desmentir. Tal como um destes prognósticos avassaladores do mundo virtual por intermédio das fake news, tornando-o um falso herói no seu meio comunitário.

O elenco com oito integrantes, entre novos talentos e conhecidos atores, traz no papel titular a supreendente performance titular de Gab Lara como o adolescente em crise. Sabendo como se adequar a um gestual e a expressões faciais de timidez capazes de  remeter ao seu solitário mundo, pleno de ansiedade e depressão, recorrendo a quaisquer recursos que o tornem, afinal,  um vencedor na escola e no amor.

No seu circuito de amigos com idade e condições psicofísicas de escolares jovens, aparecem Thati Lopes (Zoé), a irmã de Connor (Hugo Bonemer em papel de breves aparições), além de Gui Figueiredo (Jared) e Tati Christine (Alana). Entre os papéis adultos, a luminosa atuação vocal de Vanessa Gerbelli (mãe de Evan) e a coesiva e funcional interpretação de Mouhamed Harfouch e Flávia Santana, como o casal Murphy  progenitor dos irmãos Connor e e Zoé. 

A arquitetura cenográfica em três planos paralelos, tendo ao fundo um painel com projeções de recortes virtuais fotográficos, tem a acertada assinatura de Natália Lana. Os figurinos (Dani Vidal/Ney Madeira) com um sugestivo suporte cotidiano, sob efeitos luminares (Dario Sanchez), incidindo sobre as ocasionais intervenções coreográfico/gestuais de Sueli Guerra.

Mesmo longe de um carismático envolvimento palco/plateia Querido Evan Hansen vale ser conferido por representar não só uma busca experimental, antes de tudo qualititiva, de outros caminhos para o musical, quase camerístico em seu menor porte concepcional...

 

                                            Wagner Corrêa de Araújo


Querido Evan Hansen está em cartaz no Teatro Liberdade / São Paulo, sexta às 21h; sábados, às 16 e 20h; domingo, às 16h. Até  22 de setembro.



Comentários

  1. Texto sensacional, de uma fase difícil para qualquer adolescente, independente de gênero.

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