RESUMO DA ÓPERA 2013- O BALANÇO DA TEMPORADA. CRÍTICA DE LEONARDO MARQUES NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

Leia uma análise crítica do ano lírico no Brasil e seus principais destaques. Theatro Municipal do Rio é a decepção de sempre.

Montagem de Aída no Municipal de SP

Fim de ano é época tradicional de balanço. Nada mais natural, então, do que analisar como foi o ano lírico em nosso país. Esta, aliás, foi a primeira temporada em que consegui assistir a óperas devidamente encenadas em todas as cinco principais cidades produtoras do Brasil: São Paulo, Belém, Manaus, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Não vi tudo o que gostaria, mas vi o suficiente para chegar a algumas conclusões, que compartilho aqui com os leitores.
Dividirei este pequeno balanço, basicamente, em três partes. Na primeira, citarei brevemente alguns dados estatísticos (não conclusivos, o que é pena) referentes à quantidade de óperas apresentadas país afora; na segunda parte, farei um resumo comentado das temporadas específicas das cinco principais praças produtoras supracitadas; e, por fim, apontarei o que de melhor vi e ouvi dentre as 12 óperas encenadas e outras oito em forma de concerto que tive o prazer de apreciar neste 2013 que se despede.
A ópera se espalha, mas há lacunas
Num post que já se tornou tradicional aqui no www.movimento.com, organizado por nosso editor, Antônio Rodrigues, encontramos números consideráveis a respeito de óperas apresentadas no Brasil em 2013. Acrescentando algumas produções que não constaram do referido post, tivemos:
• 34 óperas encenadas ou semiencenadas, sendo: nove em São Paulo, três em Belém, três em Manaus, três em Belo Horizonte, cinco no Rio de Janeiro (sendo apenas três no Theatro Municipal e duas em espaços alternativos), duas em Brasília, duas em Santa Catarina, duas em Curitiba (sendo que nenhuma no Teatro Guaíra), uma em Salvador, uma em Vitória, uma em Recife, uma em Jacareí e uma em São José dos Campos.
• 15 óperas em forma de concerto, sendo: oito no Rio de Janeiro, três em São Paulo, duas em Manaus, uma em Curitiba e uma em Campinas.
Ao passar os olhos por esses números, é interessante notar a movimentação em praças que até muito pouco tempo sequer apresentavam uma única ópera, como Salvador, Recife e Vitória. Outro fato a destacar é perceber a expansão da lírica para cidades do interior.
Por outro lado, é inaceitável que um teatro como o Guaíra, de Curitiba, negligencie a ópera. Quando o Guaíra vai tomar jeito? O que fazem seus administradores? O mesmo vale para uma cidade como Porto Alegre. Já o Festival de Brasília, que ofereceu em 2013 sua terceira edição, precisa tomar rumos mais consistentes.
Essas são conclusões iniciais, pois tais números não são definitivos. Certamente houve outros espetáculos que não entraram nesta conta. A propósito, as óperas apresentadas em formato de bolso não foram contabilizadas, assim como os programas duplos contaram como uma única produção.
Para o próximo ano, peço – e sei que falo também em nome do Antônio Rodrigues – aos produtores interessados, sobretudo aqueles responsáveis por montagens realizadas fora das cinco cidades principais, que nos enviem os dados de seus trabalhos (títulos, récitas, elenco etc.), para que possamos acrescentá-los no post referente às óperas de 2014. Tal post já está publicado e seguirá sendo atualizado ao longo do ano.
Por ora, a conclusão óbvia é que há espaço para o crescimento da produção nacional, há um número considerável de artistas precisando de trabalho e outro tanto de jovens profissionais necessitando ganhar experiência para empreender voos mais altos no futuro.
Hoje, a maioria de nossas capitais já tem a sua orquestra sinfônica, o que ajuda no caminho para a produção lírica. Capitais sem tradição na produção de ópera não só podem, como devem se esforçar para montar pelo menos um título. Aquelas que já fazem um título por temporada, podem correr atrás do segundo, e assim por diante. É um caminho árduo, todos sabemos, mas é para isso, dentre outras coisas, que secretários de cultura dos quatro cantos do país recebem mensalmente seus salários.
As cinco praças principais
Neste segundo tópico, vamos relembrar como foi o ano das cinco cidades com maior tradição na produção lírica.
SÃO PAULO
Em 2013, o fato mais comentado, analisado, elogiado ou criticado, admirado e invejado da cena lírica brasileira foi a posse do maestro John Neschling como diretor artístico do Theatro Municipal de São Paulo. E não era para menos, pois Neschling já chegou mostrando a que veio: em termos de programação, o Municipal paulistano pairou soberano sobre qualquer outro teatro brasileiro, apresentando cinco produções encenadas (The Rake’s Progress, Aida, Don Giovanni, Cavalleria Rusticana/Jupyra e La Bohème) e uma em forma de concerto (O Ouro do Reno) que só não foi encenada por desentendimentos entre o encenador André Heller-Lopes e a direção da casa. Para compensar, o elenco desta ópera foi o melhor que subiu ao palco do teatro paulistano na atual temporada (leia aqui).
Não faltaram, porém, polêmicas na Praça Ramos de Azevedo. A mais recente foi o afastamento de Mário Zaccaro da regência titular do Coral Lírico, segundo a imprensa paulistana, por desentendimentos com Neschling. Além do cancelamento da encenação da única ópera de Wagner programada pela casa no ano do bicentenário do compositor, outro fato que gerou discussões acaloradas foi a questão dos solistas estrangeiros contratados para a temporada, especialmente aqueles chamados para atuarem em partes secundárias ou terciárias.
É possível encontrar argumentos para defender cada um dos lados da moeda. Daqui, pode-se dizer que papeis pequenos podem ser cantados, sem maiores dificuldades, por intérpretes brasileiros. Dali, rebate-se que alguns artistas brasileiros não aceitariam cantar papeis pequenos. Fato é que, numa conta rápida, talvez com um erro para cá ou para lá e já descontadas as repetições de nomes, contei 40 cantores brasileiros e 32 estrangeiros nos elencos das seis óperas apresentadas pelo Municipal paulistano, e muitos dos brasileiros cantaram papéis protagonistas ou secundários. É óbvio que, dentre esses, figuraram alguns dos nossos melhores cantores, reconhecidos como tal pela crítica especializada.
Entre aqueles que ouvi, havia, claro, um ou outro estrangeiro que não precisava ter vindo ao Brasil, mas a grande maioria desses estrangeiros que ouvi eram cantores realmente bons ou muito bons, e uns três ou quatro realmente excelentes, que valeram o convite. Essa troca é saudável e é por isso que muitos dos nossos cantores brilham em palcos estrangeiros.
Outro fator importante a se considerar é que é muito fácil perceber o projeto de Neschling para o Municipal de São Paulo. Ele já disse mais de uma vez que quer transformar a casa numa referência internacional, especialmente para a América Latina. Não há como fazer isso sem algumas revoluções, sobretudo estruturais. E se considerarmos que, no Brasil, temos um teatro do porte do Municipal do Rio (como se verá mais abaixo) que é semi-inoperante em termos de produções líricas próprias, é extremamente necessário que tenhamos em nosso país um teatro do mesmo nível (ou até melhor) que o Colón de Buenos Aires ou o Municipal de Santiago do Chile. Até para que esta casa lírica sirva de paradigma para os outros teatros de ópera do país, da mesma forma que a Osesp é paradigma no campo sinfônico.
Polêmicas à parte, a temporada do Theatro Municipal de São Paulo foi um sucesso de público e crítica. E as perspectivas para 2014 são ainda melhores, com a presença de nomes importantes da cena lírica brasileira e mundial, dentre os quais se destacam Ambrogio Maestri, o último Falstaff do Metropolitan, e Marcelo Alvarez, que dispensa apresentações.
Como se não bastassem as óperas do Municipal, São Paulo ainda teve no Theatro São Pedro o segundo maior produtor lírico do país em termos de títulos encenados (quatro). Dentre estes, uma estreia mundial de compositor brasileiro (O Menino e a Liberdade, de Ronaldo Miranda), e uma das mais belas encenações do ano (A Volta do Parafuso, lembrando os 100 anos de nascimento de Benjamin Britten). Esta última contou com um trabalho primoroso da diretora Livia Sabag, que tratou com enorme sensibilidade e delicadeza uma história que envolvia, dentre outras coisas, sugestões de pedofilia. La Cenerentola e Falstaff completaram a programação da casa.
O São Pedro parece finalmente ter encontrado seu caminho e é por isso que espero com grande curiosidade a divulgação de sua próxima temporada.
BELÉM
O Festival de Ópera do Theatro da Paz confirmou este ano uma nítida trajetória ascendente. Se, em 2012, sua produção de Salomé foi uma das melhores do ano em todo o país, em 2013 o Festival consolidou de vez sua importância na temporada brasileira com produções aclamadas por público e crítica (O Elixir do Amor, O Trovador e O Navio Fantasma).
Ótimos solistas vocais (especialmente Atalla Ayan, Eliane Coelho, Denise de Freitas, Walter Fraccaro, Rodolfo Giugliani, Sávio Sperandio, Rodrigo Esteves e Ricardo Tamura), belas encenações, uma orquestra que vem apresentando contínua melhora e soou bastante coesa (especialmente sob Silvio Viegas, em O Trovador) e um alto nível de organização são fatores que saltaram aos olhos em Belém.
Por tudo isso, espero com ansiedade a divulgação oficial do Festival de 2014, que deve ter Othello, de Verdi, novamente com regência de Viegas, e, talvez, Mefistofele, de Boito. Se tais títulos forem realmente confirmados, o ano promete.
MANAUS
Já o Festival Amazonas de Ópera, o mais tradicional festival lírico do país, precisa de atenção por parte de seus organizadores. Pelo segundo ano consecutivo, foi impossível encontrar no Teatro Amazonas um programa de sala (falha elementar). Além disso, já ouvi relatos de desorganização por parte de alguns cantores que participaram recentemente do Festival.
Não obstante, foram apresentadas cinco óperas, sendo duas em forma de concerto (Rei Roger, de Szymanowski, e Un Ballo in Maschera), duas encenadas no Teatro Amazonas (Aventuras da Raposa Astuta, de Janacek, e Parsifal) e uma encenada ao ar livre (O Morcego).
De Parsifal, a única que vi, merece menção o belo trabalho de Luiz Fernando Malheiro junto à Amazonas Filarmônica, assim como a participação de solistas como Diógenes Randes (Gurnemanz) e o mexicano Noé Colin (um maravilhoso Amfortas). Nota negativa foi a fraca Kundry da soprano russa Olga Sergeyeva. Engraçado que cantor estrangeiro fraco só é criticado duramente nas redes sociais quando é contratado por John Neschling…
Infelizmente, ainda não tenho notícias sobre o Festival de 2014. De qualquer forma, salvo por alguma mudança de última hora, dificilmente voltarei a Manaus para a próxima edição, devido a alguns projetos particulares que se realização na mesma época em que o Festival costuma ser realizado.
BELO HORIZONTE
No Palácio das Artes, em Belo Horizonte, vi a bonita encenação de Fernando Bicudo para Un Ballo in Maschera, na qual o grande destaque foi o Oscar de Lina Mendes. A soprano, a propósito, teve em 2013 um ótimo ano, e elevou-se definitivamente a um papel de destaque na cena lírica nacional. Ela é jovem, tem muito chão pela frente: um nome para se observar atentamente. Outro ponto a se destacar nessa produção foi o belo efeito visual da cena de Ulrica, por sua vez bem interpretada pela mezzosoprano Ana Lúcia Benedetti.
Antes deste Ballo, a Fundação Clóvis Salgado apresentou a ópera contemporânea Fedra e Hipólito e, ainda, Madama Butterfly – esta última no Jardim Japonês da Fundação Zoobotância da capital mineira.
Mesmo reconhecendo os esforços dos administradores da Fundação Clóvis Salgado, faz-se necessário afirmar: uma cidade do porte de Belo Horizonte precisa apresentar, pelo menos, mais uma ópera em sua temporada. Quatro óperas seria um número satisfatório para a capital mineira, principalmente quando lembramos que, dentre todos os teatros líricos brasileiros, é no Palácio das Artes em que se vê o maior número de jovens na plateia. Sempre que fui a BH ver uma ópera, o público estava recheado de gente jovem. Como é bom saber que o jovem mineiro gosta de ópera!
RIO DE JANEIRO
O Theatro Municipal do Rio de Janeiro, a cada ano que passa, consegue se superar… às avessas! A administração Carla Camurati chegou em 2013 ao seu sexto ano à frente da casa, e, em todo esse tempo, dona Carla nunca conseguiu dar ao Municipal um padrão de programação. No ano que termina, o Municipal carioca apresentou apenas três produções líricas (Aida, A Valquíria e Billy Budd), sendo que somente a primeira foi uma produção própria. A segunda veio de São Paulo, e a terceira, do Chile. Essas parcerias são muito positivas (a produção chilena foi de encher os olhos), mas e a produção própria? É só umazinha mesmo e olhe lá?
Diante disso, uma pergunta se impõe: afinal, o que faz Carla Camurati no Theatro Municipal? Eu mesmo respondo: é uma gerente de pauta, ou seja, distribui as datas disponíveis no calendário da casa entre os conjuntos da Fundação OSB, a Orquestra Petrobras Sinfônica, a temporada internacional da Dell’Arte, as parcas produções próprias da casa (sempre aquém do necessário) e outras atividades artísticas de qualidade discutível, além de eventos fechados do governo fluminense.
Camurati tem se esforçado para justificar a média ridícula de produção lírica da casa. Diz (está no site oficial da instituição, na aba “Municipal em números”) que o Theatro vem montando nos últimos 15 anos uma média de três óperas por temporada (esquecendo-se que, em três dos seus seis anos como presidente, ela montou só duas…). Ou seja, dona Carla justifica a mediocridade da programação atual com a mediocridade da programação passada, além de ser um pessoa sem forças e sem influência para melhorar a programação do Municipal.
Uma análise mais atenta mostra que o Municipal do Rio sofre de um ciclo vicioso, a saber:
1- O governo do Estado não dá ao Theatro condições financeiras de produzir uma temporada quantitativamente satisfatória;
2- Em seis anos à frente da secretaria de Cultura, Adriana Rattes nada fez (nada mesmo!) para mudar esse quadro, aceitando quietinha, tal qual cordeirinha, seu orçamento ridículo;
3- Carla Camurati, por seu turno e nos mesmos seis anos, seguiu a receita de Rattes, ou seja, é uma cordeirinha quietinha, mansinha, que não incomoda o amigo do Cavendish por melhores condições de programação;
4- Durante este tempo, o Municipal contou com três diretores artísticos: Roberto Minczuk, Silvio Viegas (em caráter interino) e Isaac Karabtchevsky, sendo que este em momento algum assumiu a função e vem atuando apenas como um prestador de serviço de luxo, ajudando a definir os títulos da temporada e atuando como regente convidado da casa;
5- Pesa ainda contra Karabtchevsky o fato de ter declarado publicamente que daria prioridade à ópera em sua atuação junto ao Municipal. O ano mostrou que, ao contrário de Neschling, que disse o que iria fazer e efetivamente o fez, Isaac prometeu e não cumpriu. É provável, é verdade, que lhe tenham feito falsas promessas para convencê-lo a emprestar seu nome a uma instituição semifalida, mas ele continua lá, emprestando seu nome…
Conclusão: não há real interesse, seja por parte do governador, da secretária de cultura ou da presidente da casa, de transformar o Municipal do Rio num produtor lírico sério. As duas últimas querem apenas manter seus cargos até o final do governo e sonham com a vitória do candidato da situação nas eleições de outubro para, quem sabe, continuarem em seus carguinhos, mas sem ter que apresentar maiores resultados, como duas boas peemedebistas.
Já o amigo do Cavendish, que voltou a flanar por aí de helicóptero como se não houvesse amanhã, anunciou que deixará o governo em 31 de março para concorrer ao Senado nas próximas eleições. Não é difícil entender essa atitude. Afinal, o que sabe ele fazer além de má política? Já vai tarde, não fará a menor falta.
A propósito, pesquisa recente do Ibope, divulgada em 14 de dezembro pelo jornal O Globo, atesta que 61% da população fluminense reprovam a gestão e o desempenho pessoal de Cabral, ao passo que 65% disseram não confiar no governador. Como se não bastasse, dois comentaristas políticos do mesmo jornal resolveram dizer umas verdades sobre Cabral. Merval Pereira, comentando as mudanças no ambiente político e social do Rio, afirmou em 22 de novembro: “A revelação das relações promíscuas do governador e de seu grupo político com empresários e empreiteiros, especialmente Fernando Cavendish, da famigerada Delta, pode ser dada como o ponto de partida para reversão de expectativas”.
Já Ricardo Noblat, em 16 de dezembro, comentando o fato de Cabral ter voltado a usar o helicóptero oficial para levar a esposa, filhos, babá, periquito e papagaio para Mangaratiba nos fins de semana (com a desculpa esfarrapada das “questões de segurança”), afirmou de maneira definitiva: “O governador é obrigado a comparecer diariamente ao seu local de trabalho – e nada mais natural, no Rio ou em qualquer outro lugar, que seja acompanhado de seguranças. Não é obrigado a veranear nos fins de semana. Se o fizer, que seja às suas próprias custas”.
Para fechar com chave de lata, O Globo de 18 de dezembro afirma que o secretário estadual de Saúde, Sérgio Côrtes, que estava ao lado de Cabral e de Cavendish na já famosa farra europeia dos guardanapos na cabeça, e o subsecretário de Comunicação Social, Ricardo Cota, “foram condenados por terem aplicado em propaganda verbas destinadas à saúde”.
Não me surpreende. Há alguns meses venho denunciando aqui a montanha de dinheiro que o governo fluminense gasta com propaganda. Em 2013, ainda com os dados de dezembro inconclusos, foram nada menos que R$ 143,9 milhões torrados com publicidade e propaganda, enquanto a programação do Municipal tem que sair do papel com pouco menos de R$ 7 milhões. Se, por um lado, esta é a única defesa possível para Rattes e Camurati, por outro, faz com que nos perguntemos por que continuam a participar de um governo incompetente e vagabundo como esse? Por quê?
Voltando à programação lírica, a verdade é que o Theatro Municipal do Rio de Janeiro finge que monta ópera e, como se não bastasse, há até mesmo uma parcela da crítica (mínima e quase insignificante, é verdade) que finge que ele monta mesmo… E, por falar em crítica, espero, sinceramente, que o novo crítico do jornal O Globo, Eduardo Fradkin, que assumiu a função recentemente depois da morte de Luiz Paulo Horta, tenha força e disposição para combater seriamente o marasmo lírico do Municipal.
Aliás, em meio a esse marasmo, dois solistas estrangeiros, a prima donna de Aida e o tenor de A Valquíria, foram dois desastres, mas, recapitulando o que eu disse um pouco acima, o pessoal das redes sociais só reclama veementemente dos estrangeiros quando é o Neschling que contrata…
O que realmente chamou a atenção no Rio em 2013 foram as duas séries líricas (Ônix e Ágata) da Orquestra Sinfônica Brasileira – Ópera & Repertório. Ainda que em forma de concerto, o ano nos reservou alguns ótimos momentos como nas óperas Sonho de uma Noite de Verão, O Rapto do Serralho, A Voz Humana, Moema e O Turco na Itália.
As perspectivas para 2014 ainda pairam no ar. No Rio, tudo fica para depois, e os anúncios das temporadas clássicas não me deixam mentir. Até agora, somente a Dell’Arte e Petrobras Sinfônica anunciaram suas programações, e a da OPES está muito fraca. O Municipal deu a entender que faria quatro óperas no próximo ano quando divulgou audições para cantores, mas é prudente contar com apenas três, pois dona Carla sempre cancela alguma coisa, e essa “alguma coisa” é sempre uma ópera. Também pairam dúvidas sobre a continuidade das séries líricas da OSB – O&R.
Já a direção da Cidade das Artes (ex-Cidade da Música) deixou vazar que pensa em montar duas óperas em 2014, com participação da OSB. Seriam muito bem-vindas, considerando a pasmaceira do Municipal, mas eu só acredito quando a cortina subir.

Os melhores do ano

Encerro este balanço citando, dentre tudo aquilo que vi em 2013, os principais destaques da temporada. Reitero o que disse lá no começo: vi e ouvi bastante coisa, mas não vi nem ouvi tudo que gostaria. Portanto, é possível que minha opinião aqui registrada seja diferente daquela do leitor.

Grande destaque do ano: Temporada Lírica do Theatro Municipal de São Paulo, com cinco óperas encenadas e mais uma em forma de concerto.
Melhor produção de ópera: Aida (na foto), no Theatro Municipal de São Paulo, que reuniu ótimos cantores em seu elenco principal (exceto pelo barítono inglês que interpretou Amonasro) e uma encenação de excelente nível.
Melhor concepção e direção cênica: Livia Sabag, que, com A Volta do Parafuso, no Theatro São Pedro, ofereceu um dos trabalhos mais inteligentes, sensíveis e precisos que já vi em 18 anos frequentando casas de ópera. Não sei amanhã, mas hoje Sabag é a melhor encenadora de ópera do Brasil.
Melhor cenógrafa: Duda Arruk, por O Navio Fantasma, no Theatro da Paz. Arruk é outra profissional em destaque na cena brasileira e por dois anos consecutivos elaborou cenários de alto nível para o Festival de Ópera do Theatro da Paz.
Melhor figurinista: Elena Toscano, por O Navio Fantasma, no Theatro da Paz.
Melhor iluminador: Caetano Vilela, por O Navio Fantasma, no Theatro da Paz.
Melhor regente: Luiz Fernando Malheiro, por três óperas de Wagner (Parsifal, no Teatro Amazonas; A Valquíria, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro; e O Ouro do Reno, no Municipal de São Paulo). O ano rendeu ótimos trabalhos apresentados por alguns de nossos melhores regentes, como Isaac Karabtchevsky (Aida e Billy Budd), John Neschling (Aida e La Bohème) e Silvio Viegas (O Trovador), mas o voo mais alto foi de Malheiro.
Melhor orquestra: Orquestra Sinfônica Municipal, por sua atuação em cinco das seis óperas da temporada do Theatro Municipal de São Paulo.
Melhor cantor: Sávio Sperandio, por suas atuações como Hunding (A Valquíria, no Municipal do Rio); Ferrando (O Trovador, no Theatro da Paz); Fafner (O Ouro do Reno, no Municipal de São Paulo); e Creonte (Medeia, em concerto, com a OSB – O&R).
Melhor cantora: Denise de Freitas, por suas atuações como Fricka (A Valquíria, no Municipal do Rio; e O Ouro do Reno, no Municipal de São Paulo) e, especialmente, por sua memorável Azucena (O Trovador, no Theatro da Paz).
Revelação: Lina Mendes, por suas atuações como Oscar (Un Ballo in Maschera, no Palácio das Artes) e Blonde (O Rapto do Serralho, em concerto, com a OSB – O&R). Não é à toa que a soprano está escalada para Falstaff, no Municipal de São Paulo, em 2014.
Descobertas: Diógenes Randes (Gurnemanz, de Parsifal, no Teatro Amazonas), Ricardo Tamura (Erik, de O Navio Fantasma, no Theatro da Paz) e Cláudia Azevedo (Fiorilla, de O Turco na Itália, com a OSB – O&R) são excelentes cantores brasileiros semidesconhecidos por aqui. Randes já cantou Wagner várias vezes em Bayreuth e é figurinha fácil na Ópera de Munique. Tamura é outro artista que canta bastante na Alemanha e acaba de debutar no Metropolitan. Já Azevedo, que também foi Musetta na Bohème paulistana (no elenco que não vi) e já cantou Rossini sob Alberto Zedda, mostrou-se no Rio de Janeiro uma encantadora soprano lírico coloratura.
Observação: para os destaques individuais, considerei apenas artistas brasileiros ou radicados no Brasil.

Leonrdo Marques

Fonte: http://www.movimento.com/

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