FESTIVAL AMAZONAS DE ÓPERA : SOLUÇÃO OU DEMISSÃO. ARTIGO DE LEONARDO MARQUES NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

Teatro Amazonas recebe prêmio internacional, enquanto seu festival lírico corre enorme risco de desaparecer.


Desde meados do último mês de março, havia boatos no meio clássico sobre o cancelamento do Festival Amazonas de Ópera (FAO), um dos mais importantes festivais de música (seja em que vertente for) do país. O primeiro a levantar a bola publicamente foi Ali Hassan Ayache em seu blog. Algumas semanas depois, o site daRevista Concerto noticiou o cancelamento do Festival – o que foi pronta e publicamente desmentido pelo secretário de Cultura do Amazonas, Robério Braga. De lá pra cá, porém, em nenhum momento aqueles que deveriam apresentar uma solução para o problema abriram a boca para dizer qualquer coisa que realmente prestasse.
O Movimento.com tem tentado obter informações junto à assessoria de imprensa da Secretaria de Cultura do Amazonas, que, até o momento do envio deste artigo para publicação, não informou absolutamente nada que tenha servido para alguma coisa. Em defesa da referida assessoria, diga-se que esta somente nos repassa o que lhe é permitido repassar pela autoridade competente, como o faz, aliás, toda e qualquer assessoria de imprensa.
Já estamos em junho, e, diante da falta de novidades, a Revista Concerto deste mês traz um contundente artigo assinado pelo professor Jorge Coli a respeito do aparentemente irreversível cancelamento do FAO. Recomendo a todos a leitura desse artigo, que também pode ser encontrado no perfil do ilustre professor no Facebook.
Por ora, o (des)governo do Amazonas e o secretário de Cultura têm a “dizer” somente o que se segue:
“O modelo do planejamento de ações da Secretaria de Estado da Cultura, discutido com os diretores de cada área do órgão nesta quinta-feira, 28 (de maio), na sala de reunião do auditório Rio Solimões, pelo secretário da pasta, Robério Braga, mostra um novo momento cultural para a capital e interior do Amazonas.
“Ainda em fase de debate e contribuição de ideias pela equipe da Secretaria, as principais ações serão submetidas a novos debates internos para serem levadas ao governador do Amazonas, José Melo. O desafio é fazer mais e melhor com menos.
“Com mais e melhores eventos, apesar do orçamento reduzido por ocasião da crise econômica por que passa o país e o estado, o planejamento de ações da Secretaria de Estado da Cultura vai dar prosseguimento ao conjunto de ações implementadas. ‘Estamos mais vivos que nunca e com mais vontade de fazer. As ações são criativas, diversificadas e aguardamos agora ansiosos a contribuição de cada área da Secretaria de Cultura para finalizarmos um planejamento de ações à altura dos artistas e do povo do Amazonas como tem sido ao longo desses anos’, declarou Braga.
“Para isso, as premissas do plano incluem valorização da identidade amazônica, inserção cultural, integração da Amazônia Continental, parceria com a sociedade civil e estímulo à produção artística.
“No planejamento, há vários destaques desafiando o processo criativo da equipe da Secretaria.”
Em resumo, como os leitores podem concluir por si mesmos, a nota oficial divulgada não diz rigorosamente nada. O secretário Robério Braga parece estar se especializando na arte da empulhação, arte esta defendida por dez em cada dez politiqueiros brasileiros – essa raça de abutres que só possuem dois objetivos na vida: encher os próprios bolsos; e arrumar um mandatozinho nas próximas eleições, de preferência enganando e convencendo um monte de trouxas a votarem neles.

Solução ou demissão
O secretário Robério Braga
O secretário Robério Braga
Braga tem a seu favor o mérito de estar no cargo já há muitos governos. Mesmo nos momentos em que a oposição venceu a situação, nenhum governador até hoje foi homem o suficiente para destitui-lo de seu cargo, ainda que alguns desses governadores possam ter morrido de vontade de fazer isso, para agradar um idiota apadrinhado qualquer.
A defesa da continuidade das políticas públicas que dão certo sempre foi um mantra de qualquer analista político, econômico ou cultural, quase nunca seguido pelos oposicionistas quando conseguem bater os situacionistas nas urnas. Portanto, o fato de Robério Braga vir se mantendo no cargo de secretário de Cultura do Estado do Amazonas por tanto tempo é, antes de qualquer outra coisa, um mérito, pois ele conseguiu fazer com que sua ampla visão cultural pairasse acima das mediocridades da nossa política.
Braga, portanto, só tem duas saídas a meu ver: ou consegue dar uma solução definitiva ao problema do FAO, solução esta que precisa ser reconhecida como minimamente razoável pela comunidade musical; ou pede finalmente demissão do cargo de secretário, e sai do governo de cabeça erguida.
Se Robério Braga continuar secretário de Cultura sem conseguir apresentar uma solução minimamente satisfatória para a questão do Festival Amazonas de Ópera, ele estará se rebaixando ao nível rasteiro do novo governo do Estado do Amazonas. E, nessas horas, é sempre bom lembrar do célebre pensamento do investidor e filantropo norte-americano Warren Buffett: “São necessários 20 anos para construir uma reputação (o FAO teve 18 edições), e cinco minutos para destruí-la”.

Ironia das ironias
Justamente agora, quando o FAO está correndo seriíssimo risco de ser cancelado, o Teatro Amazonas acaba de ser agraciado com um prêmio internacional. A nobre casa manauara receberá o prêmio Travelers’ Choice Atrações, por ter sido considerada um dos pontos turísticos mais bem avaliados do Brasil pelo TripAdvisor, um dos mais populares sites de viagens do mundo. A informação foi divulgada na última terça-feira, 2 de junho. O prêmio acontece anualmente e é baseado nas avaliações e comentários dos usuários do referido site. Quem sabe esse prêmio não possa contribuir para que uma solução definitiva e satisfatória seja dada a esta “novela” do FAO?
Quando já estava encerrando o presente artigo, chegou a informação de que o governo amazonense investirá R$ 2,3 milhões no 59° Festival Folclórico do Amazonas. Esse pode ser um primeiro indício positivo de luz no fim do túnel. Se o governo consegue investir no festival folclórico, não deve medir esforços para investir também naquele de ópera.
Encerro deixando aqui, a propósito, a minha sugestão ao secretário: que se transfira parte da verba que o governo do Amazonas torra com publicidade e propaganda (quase todos os governos brasileiros, em qualquer esfera, fazem isso, alegrando os publicitários de plantão) para as ações da secretaria de Cultura. Tecnicamente não é difícil, o problema é convencer o governador…

Leonardo Marques

FONTE:http://www.movimento.com/

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