MASTER CLASS : CALLAS, O ÚLTIMO (EN)CANTO. CRÍTICA DE WAGNER CORREA DE ARAUJO NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
FOTOS BY MARCOS MESQUITA
A melancólica volta da soprano Maria Callas, após o fim do desastrado caso amoroso com Aristóteles Onassis, agravado com o afastamento da carreira, a transforma num fantasma de uma artista mitificada.
Reencontrando apenas um instantâneo êxito cinematográfico, via Medea de Pasolini, com uma personificação que a consagrara na versão operística de Luigi Cherubini de similar titulação, mas desta vez sem uma nota musical sequer.
Era uma vã tentativa pela subsistência do seu talento de atriz dramática que , na ópera, se expressava sobremaneira no caráter psicológico dos seus 47 personagens femininos.
Quando aceita (1971) dar as aulas para 25 alunos da Julliard School of Music de Nova York, ela o faz com o rigor e eficiência de uma mestra na técnica vocal.
Mas , ao contrário da exacerbação de sua altivez mostrada na“Master Class” do dramaturgo Terrence McNally era , segundo depoimentos da época, franca nos comentários e moderada nos elogios.
Mas , ao contrário da exacerbação de sua altivez mostrada na“Master Class” do dramaturgo Terrence McNally era , segundo depoimentos da época, franca nos comentários e moderada nos elogios.
Para os aficionados em Callas, o ressentimento cruel causado por tantos reveses na vida e na arte nunca teria se transformado no sarcasmo, quase caricatural, como o exposto na peça .
E quando a direção de José Possi Neto explora, na medida da medida, o exponencial talento dramático de Christiane Torloni ,é alcançada a teatralidade ideal para marcar as variações emocionais da conflituada Callas.
Especialmente nos seus apoteóticos solilóquios confessionais, entre a glória e a amargura. Ali, personagem e intérprete, Callas e Torloni, se confundem na culminância de uma grande performance, de meticulosa gestualidade estética e sensível intensidade emocional.
As tonalidades mais aquareladas da iluminação (Wagner Freire), nestes monólogos, contrastam, ilustrados com a grande aria daMedea na voz de Callas, as luzes vazadas das cenas de lições teatralizadas para ser criativo, cantando e atuando no palco.
Os figurinos( Fabio Namatame) procuram fugir à sobriedade convencional por uma nuance mais fashion para a protagonista e ironizados para os alunos/cantores. Enquanto a cenografia(Renato Theobaldo) sugestiona ,em painéis abstratos , o design clássico verticalizado de uma plateia operística.
Dos corretos personagens / aspirantes à competição lírica, a insegura Sophie(Bianca Tadini) se espanta perante uma intérprete mor da ingênua Amina (Ah!Non credea mirarti), em La Sonnambula.
O presunçoso Anthony(Leandro Lacava) sente-se maior como Cavaradossi ( Recondita Armonia) em Tosca. E a bravura dramática da cena da carta em Macbeth (Vieni t’affretta) é ambicionada pela impositiva Sharon( Julianne Daudt).
Completando-se pela precisa interferência de dois Thiagos/ atores , o convincente pianista Emmanuel( T. Rodrigues) e o simplório contra regra/dublê de tenor ( T. Soares).
Entre o sonho e a realidade , o “Vissi d’arte, vissi d’amore” no Ato II da Tosca e a Casta Diva do Ato I de Norma , representam o retrato sem retoques dos reveses do destino da divinal Maria Callas.
Na conceituação teatral, é a aspereza reflexionada na metafórica lição de Master Class: “Se eu pareço dura, é porque eu aprendi a ser dura comigo mesma”.
Wagner Correa de Araujo
MASTER CLASS está em cartaz no Teatro Clara Nunes, Gávea, sexta e sábado, 21h; domingo, 20h. 90 minutos. Até 6 de março.
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