ROOTS: ARQUITETURA GESTUAL, COM ENÉRGICA ELEGÂNCIA. CRÍTICA DE WAGNER CORREA DE ARAUJO NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.


FOTOS/MARIANA VIANNA

O  estabelecimento do diálogo entre a gestualidade da dança urbana com o clássico e o contemporâneo vem alcançando surpreendentes e inventivos resultados, das experimentações pioneiras de William Forsythe  às mais recentes gerações coreográficas, como Bruno Beltrão.

Não prevalecendo mais aquele preconceito de que a linguagem generalizada das danças  urbanas, com seus diversos  segmentos (Hip Hop, Breaking, Popping, LockingFunk, House, Krump), seria apenas a resposta e o  resultado da marginalização de uma juventude periférica.

Além de ser uma forma reconhecida de inserção social, ela  já coexiste, na sua identidade artística própria, como autêntica manifestação da vida cultural na contemporaneidade.

E é, assim, que se descortina a essencialidade e valoração do conceitual de dança urbana nesta proposta do espetáculo/performance Roots –  a  origem singularizada de uma estrela brasileira da dança clássica mundial.

Foi na ideia da retomada memorialística/cênica de seu cotidiano de dançarino adolescente de rua, nos subúrbios cariocas,  que o bailarino clássico Thiago Soares convocou renomados expoentes da criatividade estética urbana.

O coreógrafo Ugo Alexandre, figura exponencial no seu processo inicial de formação, compartilhando a direção com Renato Cruz, e o profissional de street dance Danilo D’Alma.

Aos quais  se juntaram as consistentes participações de  Pedro Cassiano( na coreografia) e Renato Machado( no desenho da luz). Além das irrepreensíveis modulações sonoras, ao vivo, do multi-instrumentista Pedro Bernardes, uma atração à parte na  performance.

Já na entrada em cena, é instalada a expectativa de  estranhamento dialogal do clássico/urbano. Quando a malha e sapatilhas de Thiago Soares e  o figurino rapper (tênis e bermuda) de Danilo D’Alma instauram uma instigante correlação visual do que está por vir.

Mas , no sequencial do percurso cênico, a convivência vai se estabelecendo num clima de celebração ritualística entre o elegante virtuosismo de arabesques e jetés  com o enérgico fluxo de movimentos livres, de improviso, intencionalmente quebrados.

Pontuados ,  ora pela contração muscular ora pelas ondas corporais e pelo feeling destas pulsações, inicialmente exclusivas de Danilo D’Alma, mas alternadamente assumidas por Thiago Soares.

Entre a largueza cadencial de braços e pernas, de base clássica, à robotização minimalista ou a desenvoltura impetuosa da fisicalidade, hábeis e emblemáticos elementos estilísticos do urbanismo coreográfico.

Roots é, enfim, um espetáculo convincente capaz de conectar, sensorialmente, palco e plateia num contraponto harmonioso e envolvente  do rigorismo  clássico com a espontaneidade investigativa das danças urbanas.

Wagner Correa de Araujo


ROOTS está em cartaz no Teatro Oi Casa Grande, quinta e sexta, 21h; sábado e domingo, às 19h. 60 minutos. Até 17 de julho.

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