PULCINELLA & ARLECCHINO FAZEM DOBRADINHA DESIGUAL NO THEATRO SÃO PEDRO/SP. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.


    A Santa Marcelina Cultura, nova gestora do Theatro São Pedro/SP, apresenta seus primeiros espetáculos de ópera e balé na casa. A abstinência operística está acabando. A escolha foi uma dobradinha de compositores da primeira metade do século XX, Pulcinella com coreografia de Giovanni di Palma e música de Igor Stravinsky e Arlecchino de Ferruccio Busoni. É factível que ambas tem um tema em comum, a commedia dell'arte e são da mesma época, sendo assim o programa é bem casado.
   Stravinsky retorna ao passado musical com Pulcinella, nela referências (para não dizer cópias, trabalhando o timbre, mudando apenas cores harmônicas e redistribuindo o material original)  a compositores como Pergolesi, Parisotti, Gallo e Monza. Sua estreia teve cenários desenhados por nada mais nada menos que Picasso. Existia uma identidade estética entre ambos e esse balé foi o ponto de partida. O libreto é típico da commedia dell'arte com trocas de identidades e a veia cômica presente.
   A nova direção age corretamente ao optar pelo diálogo entre instituições culturais e chama a São Paulo Cia de Dança  para interpretar o balé Pulcinella. A técnica primorosa exibida pelos dançantes da Cia unida à criativa coreografia de Giovanni de Palma deram o tom. O espectador viu cenários modernos, desenho de luz ágil e figurinos condizentes. Prevaleceu a elegância nos passos unindo o clássico com o moderno.
   Após o intervalo foi a vez da ópera de Ferruccio Busoni, Arlecchino. Uma curiosidade, poucos sabem que Busoni compôs uma ópera chamada Turandot, a única coisa nela melhor que a homônima de Puccini são os três enigmas, esses mais elaborados. Voltando a Arlecchino, falta no libreto uma coisa essencial a commedia dell'arte, ser engraçada. O texto é cansativo e muitas vezes de uma chatice sem precedentes. Cenas que não empolgam em uma história complexa que para o entendimento do público precisava ser melhor trabalhada. Ajudou a piorar a música pouco inspirada de Busoni: nenhuma ária impactante, nada de melodias agradáveis e muita enrolação musical. Não por acaso ela é pouco apresentada nos teatros líricos pelo mundo afora, sua qualidade deixa a desejar em diversos níveis.
   Quem salvou e tornou o espetáculo menos entediante foi a direção cênica de William Pereira, utilizando os mesmos cenários do balé propôs saídas criativas e impôs movimentação cênica que deram dinâmica ao enredo. Os solistas com seu talento vocal e cênico conseguiram excelente desempenho, a exceção de Giovanni Tristacci que pecou nos agudos. Vinícius Atique esta no auge vocal e consolida-se como um dos melhores barítonos do Brasil, Denise de Freitas de voz encorpada e belos graves, Johnny França cênica e vocalmente consistente, Rodolfo Giugliani, voz em estado de graça e o sempre carismático e talentoso Pepes do Vale.
   A Orquestra do Theatro São Pedro regida por Ira Levin manteve bom nível em tempos corretos. Conhecedor da linguagem musical da ópera e da dança Levin extraí dela sonoridade em volume compatível com a linguagem que ambas exigem. 
   O próximo passo do Theatro São Pedro é uma ousadia, Don Giovanni de Mozart está programado para ser apresentado em breve, as dificuldades vocais e de montagem exigirão o máximo da equipe do teatro para que esse título seja um sucesso. Aguardamos com ansiedade.
Ali Hassan Ayache





Fotos , cenas de Pulcinella e Arlecchino, fotos Internet.
   
    

Comentários

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  2. Fui, vi, ouvi e gostei...Recomendo...apesar da Orquestra do São Pedro ter perdido um pouco de seu encanto....depois de tantas adversidades....

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