"UM BALLO IN MASCHERA" ÓPERA CENSURADA DE VERDI. ARTIGO DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
Un Ballo in Maschera é uma das óperas verdianas que mais sofreu com a censura. Sua inspiração é o libreto de Eugène Scribe, que conta o assassinato do rei Gustavo III da Suécia, no ano de 1792. Os censores não engoliram a trama devido à tentativa de morte contra Napoleão III, pelo revolucionário Felici Orsini. Tornou-se inconveniente retratar a morte de um rei em um teatro de ópera. Lembremos que a Itália, nos tempos de Verdi, não era um país unificado e a ópera tinha força para influenciar as massas. Sem televisão, rádio ou internet, a ópera era um forte veículo de comunicação do século XIX.
Encomendada pelo San Carlo de Napoles, acabou estreando em Roma. Por força da censura, Verdi altera o libreto: da Suécia vamos à inofensiva província de Massachusetts, na América do Norte. Independente de firulas com a censura, o libreto é bem estruturado, com personagens bem delimitados e um enredo convincente. Verdi consegue melodias marcantes em toda a escrita. Caracteriza os personagens com árias de grande poder dramático, onde a paixão atinge seu ponto alto. Diferente da ópera de períodos anteriores, o compositor de Busseto consegue uniformidade musical. Sua escrita orquestral é de alto nível do início ao fim da partitura. Verdi mostra que está em grande fase.
Existem inúmeras gravações disponíveis de Un Ballo in Maschera no mercado. Anos atrás foi lançada uma versão nas bancas, com o tenor Luciano Pavarotti e o soprano Katia Ricciarrelli, no Metropolitan Opera House de Nova Yorque, gravação de 1980, a preços populares e um encarte com explicações interessantes de Lauro Machado Coelho.
Recomendável é a versão de Salsburg, com regência de Sir Georg Solti gravada em 1990 . O tenor Plácido Domingo estava no auge vocal, sua interpretação cênica de Gustavo III é notável. Leo Nucci faz um Ricardo eficaz, voz portentosa, limpa e graves abundantes. Destaque para o soprano Josephine Barstow, que mostra técnica, voz escura e um timbre que combina com a dramaticidade de sua Amelia . A produção é clássica, de belos figurinos e cenários enormes. Uma leitura tradicional da ópera verdiana, com excelentes solistas e uma orquestração clara e elegante de Solti. O homem era uma fera, conhecia Verdi como ninguém.
O teatro Real de Madri nos apresenta uma gravação digital. Marcelo Alvarez é um dos grandes tenores da atualidade, cantou no Theatro Municipal de São Paulo em 2014, brigou com a direção e processa o teatro. Seu Ricardo tem voz com belo timbre e agudos de sobra. Violeta Urmana é a Amelia com voz escura e potente. Sua ária "Ecco l'orrido campo", que abre o segundo ato, resume bem sua técnica e competência vocal. Marco Vratogna é barítono com voz carente de grandes graves, o timbre ácido que prejudica a evolução do personagem Renato. Elena Zaremba mostra uma Ulrica sinistra, sua interpretação é exímia.
A montagem tem cenários limpos e uma luz que beira a penumbra. Os figurinos levam a versão alterada por Verdi, estamos em Boston, Estados Unidos da América. Uma versão moderna, com imagem e som de última geração e cantores de destaque no cenário lírico mundial, fazem desse Un Ballo in Maschera uma aquisição interessante.
Luciano Pavarotti tem voz que se adapta perfeitamente em muitos papéis de Verdi, Donizetti e Puccini. Seu Gustavo III tem agudos claros e fáceis. Seu belo timbre compensa a falta de atuação cênica e o enorme corpanzil. Leo Nucci é barítono de voz enorme, com graves e até agudos. Empresta dor ao persongem que acha que foi traído pelo melhor amigo. Aprile Millo é soprano com enormes recursos, técnica e respiração impecáveis, agudos e médios cheios, emociona no palco.
A montagem do Metropolitan Opera House de Nova York, gravada em 1991, é a tradição elevada ao extremo. Seus cenários são enormes e os figurinos pesados, a direção esbarra na deficiência cênica dos protagonistas. Tudo correto, certinho, história muito bem contada e delimitada e nada mais.
Ali Hassan Ayache
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