"OS CONTOS DE HOFFMANN" EM CONCERTO NO THEATRO MUNICIPAL DO RJ, APÓS 64 ANOS! CRÍTICA DE MARCO ANTÔNIO SETA NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.


          A obra póstuma de Jacques Offenbach (1819-1880), foi estreada em 10 de fevereiro de 1881 na Opera Cômica de Paris. Estranhos acontecimentos fizeram malograr o trabalho. E, como sinal de desgraça, em Viena ardeu o teatro durante o espetáculo de estreia, morrendo quase todos os presentes no espetáculo. Por conseguinte, não é de assombrar a lenda tecida em torno da famosa Barcarola: conta ela que Offenbach ouviu certa vez a melodia e, vivamente interessado, quis saber quem era o autor, o que lhe foi dificílimo. Finalmente, as pegadas o conduziram a um músico velho e miserável, que num porto francês,  vivia de esmolas. Offenbach solicitou-lhe licença para incluir a melodia na ópera. O velho contou-lhe a sua trágica história, relacionando-a à criação da melodia. Apesar da resistência, Offenbach criou com ela a Barcarola...(centro de uma lenda). 
         Opera fantástica em três atos, prólogo e epílogo, (cinco quadros), livro inspirado em contos de E.T.A. Hoffmann, por Jules Barbier e Michél Carré; o espetáculo estreou no Theatro Municipal do RJ dia 16 de maio, após  64 anos; (julho de 1955 foi a última), agora em sua versão mais famosa  "Choudens" e mais completa  que inclui vários trechos populares cortados das novas edições críticas, notadamente a famosa ária de barítono “Scintille Diamant” e o conhecido septeto do ato de Veneza. A ária “barcarola” (Belle nuit, ô nuit d’amour),  no 3º Ato, foi utilizada em muitos filmes, incluindo “A Vida é Bela” e “Titanic”.
          Priscila Bonfim regeu a Orquestra do TM com segurança e Eric Herrero apresentou em seu Hoffmann uma voz de emissão irregular e sérios momentos de desafinação, considerando-se que este é o papel principal da ópera fantástica. Nos papéis demoníacos,  onde o intérprete demonstra todos os seus recursos vocais, Vinícius Atique (Lindorf, Coppelius, Miracle e Dapertutto), saiu-se a contento, mas sua voz, nos agudos perde o brilho,  que na região mais central e grave é  bastante consistente. Destacou-se sobremaneira a interpretação do tenor leggero Geilson Santos em suas quatro personificações, apresentando um domínio cênico bastante preciso (Pitichinaccio,  sobretudo) e uma voz de esplêndido controle. 
          O septeto do ato veneziano, constituiu-se num momento de grande beleza musical do espetáculo e arrancou os maiores aplausos do público que não lotou o teatro. Cresceu o interesse do público, a presença das três musas de Hoffmann. A 1ª a boneca animada, na voz de Rose Provenzano, um soprano de técnica apurada (coloratura) deu conta do papel e conquistou o público em sua famosa ária de agilidade vocal (sábado, dia 18). No papel de Giulietta, no primeiro dia,  viu-se Marina Considera um soprano de reais qualidades e que se sai muito bem em suas disposições e escolhas de repertório (Nedda de I Pagliacci, uma espetacular Donna Anna,  de Don Giovanni, e as personagens de Carlos Gomes, que sabe muito bem interpretar). No sábado, Marianna Lima, deu o melhor de seus recursos vocais, numa linda interpretação cênico-vocal da "courtesan". A célebre Barcarola somada a voz de Niklause - Noeli Mello - meiossoprano cujas vozes se casaram, em ambos as duplas muito sonoras.  
           No terceiro ato de sábado, a Antonia de Michele Menezes, revelou uma voz de soprano ligeiro muito musical. Apenas falta-lhe um acabamento mais refinado nos finais de frase, os quais são cortados secamente, quebrando assim o fraseado. Afinação muito precisa,  a faz uma forte e adequada  intérprete de Gilda do Rigoletto. Muito acertadas foram as participações do Nathanael e Spalanzani do tenor ligeiro paraense Ossiandro Brito. O baixo Murillo Neves a contento em seus papéis ( Crespel e Schlemil).
           Participação efetiva do Coro do Theatro Municipal,  embelezou a partitura de Offenbach e muito efusiva as danças pelos alunos da Cia. de Ballet da Escola Maria Olenewa do TMRJ, em coreografia de ponta e meia ponta, com a devida correção técnica. Poderá dançar o Fausto de Gounod ao lado do Ballet do próprio teatro. 
           Anunciou-se ao início do espetáculo, que haverá em julho próximo,  a partir de 14/7/2019, a encenação da ópera "Fausto", de Gounod (produção vinda do Teatro Amazonas, grande sucesso do Festival de 2018)  a qual comemorará os 110 º aniversário do Theatro Municipal. A notícia alegra os amantes do teatro e é muito bem-vinda. Aguardamos !

Escrito por Marco Antônio Seta, em 19 de Maio de 2019.
Jornalista inscrito sob nº 61.909 MTB / SP
Formado em Jornalismo (FCP); em piano, teoria, harmonia, contraponto e história da música,  pelo Conservatório Musical Dr. Carlos de Campos, em Tatuí, SP. Licenciado em Artes Visuais pela UNICASTELO, em São Paulo / SP

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