OITAVA DE MAHLER A MODA TUPINIQUIM COM REGENTE INSEGURA E DESFILE DE MODA. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

   


   As celebrações dos 20 anos da Sala São Paulo iniciaram-se com uma obra grandiosa, a Oitava Sinfonia de Mahler. Segundo o compositor a principal de toda sua obra e um hino à vida, a redenção e aos céus. Lembro que o programa de inauguração da Sala São Paulo foi a Segunda Sinfonia de Mahler. 
   Antes do início do concerto a chatice de sempre, Nestrovski e seus amigos pegam no microfone e exaltam tudo e todos. Com direito a distribuição de medalhas de honra ao mérito. Meia hora de desperdício de tempo.
   A dificuldade de se apresentar a oitava começa do ponto de vista humano, são necessários no mínimo 350 músicos. Reuniram-se músicos da OSESP, da OSUSP e coralistas do Theatro Municipal de São Paulo.
   O grande Toscanini, alguém se lembra dele, dizia "O maestro deve ter a partitura na cabeça e não a cabeça na partitura". Marin Alsop parece não conhecer o grande regente, o negócio dela é só Bernstein. Sua regência prova mais uma vez minha tese, a digníssima não se prepara devidamente para os concertos. Regeu o tempo todo olhando somente para a partitura, mostrou-se insegura e sem precisão. Parecia nem saber onde estava tamanha a falta de sensibilidade musical com o excessivo volume orquestral. 
   O risco de ter um grande número de músicos é se perder na pesada instrumentação e no exagero vocal. Marin Alsop caiu na armadilha, não conseguiu sonoridade e texturas suaves. A música mahleriana deve conter o celestial e o imaterial, esse fator é o mais  mais importante da oitava e ficou a cargo da belíssima e grandiosa iluminação da Sala. Sua sorte é que a OSESP é experiente e conseguiu a livrar de um vexame. 
  Os solistas estiveram em alto nível, uma seleção do que temos de melhor em vozes estiveram no palco. Paulo Szot, Gabriella Pace, Lina Mendes, Denise de Freitas, Sávio Sperandio, Paulo Mandarino e Luiza Francesconi mandaram grandes petardos vocais, embora alguns tenham sido prejudicados pelo sistema de microfonia. 
   Pela primeira vez na história da oitava tivemos solistas trocando de roupas, um entra e sai de cantores com direito a troca de vestidos e tiaras na cabeça. Uma verdadeira junção de Show de Calouros com desfile de moda.
   O público com certeza sai entusiasmado, diria que eufórico ao fim do concerto. Afinal a música de Mahler provoca isso nas pessoas. Quem analisa o concerto friamente vê que a apresentação foi menor que a proposta do compositor. 
   Dizia Nelson Rodrigues que "toda unanimidade é burra, quem pensa com a unanimidade não precisa pensar". Todos afirmam de boca cheia que a OSESP é a melhor orquestra do Brasil. A evolução da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais nas mãos de Fabio Mechetti a credencia ao título na atualidade.
Ali Hassan Ayache

Foto:Twitter Marin Alsop.
    

Comentários

  1. Vi apenas o ensaio aberto por enquanto, só amanhã vou ver a Sinfonia 8 completa. Mas notei diversos pontos que você ressaltou no ensaio, principalmente a falta de controle sobre a massa vocal. Notei Valentina Peleggi se movimentar nervosamente da plateia fazendo muitos sinais para os coros enquanto carregava a partitura, uma atitude um pouco estranha que denota despreparo. Ela e Marin aliás se entreolhavam toda hora, pareciam desencontradas. Enfim, acho que essa Sinfonia 8 eh uma das mais difíceis de Mahler e eh necessária muita concentração e coordenação para que sua execução seja satisfatória. No YouTube há a apresentação completa regida por Bernstein com a Filarmônica de Viena. Não me parece que sua aluna Marin tenha atingido o mesmo patamar.

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    1. Caro Omar, essa movimentação nervosa e aflitiva dos assistentes, que por vezes quase chega às raias da histeria, tem sido tomada aqui por essas bandas como sinal de "profissionalismo". A mim, não passa de um teatro da pior qualidade para mostrar "eficiência" ao chefe, o que só contribui para introduzir mais tensão onde não deveria haver.

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  2. Ali, como é bom poder discordar de você e ter a certeza de que meu comentário será publicado. Tive a oportunidade de ver o ensaio e a primeira apresentação ontem, um ensaio geral como vimos na quarta, serve exatamente para que os detalhes e eventuais falhas sejam devidamente corrigidos e melhorados, e isto eu percebi ao comparar o ensaio geral e a apresentação, tudo fluiu de maneira mais natural e equilibrada na apresentação de ontem, as massas sonoras certamente estavam muito mais equilibradas, o "desfile de moda" em minha opinião foi extremamente positivo e mostra que a Marin leu o Fausto de Goethe,assim como eu, a movimentação dos personagens da obra me remeteram imediatamente ao master opus de Goethe, que na minha opinião é uma obra absolutamente teatral. A OSESP mais uma vez mostrou-se uma grande orquestra e o que ela mais precisa é de grandes obras e grandes maestros. Ali, você vivia se queixando da falta de apoio aos cantores brasileiros, foi lindo ver aquele time de cantores tupiniquins solando ao lado dos coros, impondo respeito e mostrando uma qualidade extraordinária, a Lina Mendes e a Francesconi, abraçaram o papel, as duas respiram teatro, foram todos incríveis.

    Em 2011, tivemos esta mesma sinfonia nos dias 4, 6 e 8 de outubro; com o colossal maestro Gennady Rozhdestvensky falecido ano passado aos 87 anos. Foi uma experiência incrível, porém pecaram em um ponto, os solistas que foram Manuela Freua soprano, Lisa Milne soprano, Talia Or soprano, Silvia Tessuto contralto, Ednéia de Oliveira mezzo, Jon Villars Tenor e Rodolfo Giugliani baixo -barítono e Nikolai Didenko baixo; ficaram todos posicionados no fundo do palco e foram microfonados, ficou uma performance apagada por parte dos solistas, além disso não se aproveitaram os recursos técnicos da sala, como a movimentação do teto e as cores e jogos de luz, talvez pelo fato do Gennady não conhecer a sala bem. Assisti a todas as récitas de 2011 e posso dizer que hoje a OSESP está mais madura e os músicos ao lado dos coros fizeram um trabalho ainda melhor do que foi feito em 2011. Afirmo convictamente que este foi o melhor concerto da Marin junto a OSESP.

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    1. Excelente e sensato comentário o seu, Marcelo. Também assisti ambos concertos da OSESP na 8a. de Mahler (2011 e agora) e o atual demonstrou sim o amadurecimento da OSESP (orquestra e coro) nesta difícil obra mahleriana. A longa 2a. parte da Sinfonia dos Mil deixou isso ainda mais claro. Foi sensacional a concepção cênica desta parte, com figurinos diversos e iluminação especial. Ajudou a plateia a absorver melhor ainda a história criada por Goethe. Assisti os 2 últimos concertos e foram maravilhosos.
      O uso do teto móvel ao máximo, deixando entrever o belo vitral no alto do palco, além de dar mais beleza plástica ampliou a reverberação num nível muito bom para esta grandiosa obra de Mahler.

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  3. Não sei quem pensou em razão de todo volume sonoro e efetivo empregado nessa obra,necessitava-se que se levantasse até o máximo os painéis do teto,a ponto dos vitrais ficarem de fora para todos verem.Isso aumentou o tempo de reverberação e arruinou a acústica,tornando impossível qualquer performance musical decente devido ao som excessivamente reverberante,quase de catedral.

    Ouvi a transmissão desse concerto e a versão gravada no Municipal com a participação de cantores e coralistas que são os mesmos.Os solistas no teatro não precisam se esforçar tanto frente às falanges mahlerianas.Para os interessados apenas no aspecto visual a construção do arquiteto Cristiano Stockler das Neves realmente é um edifício suntuoso,muito chique!

    O seu Kunze da Concerto pode viajar para avaliar a acústica de salas pelo mundo.Esteve em Hamburgo para conhecer a Elbphilharmonie(trombeteada como a sala com melhor acústica do mundo,assim foi a propaganda).Rasgou elogios ao edifício.Os músicos de renome que já se apresentaram lá não pensam a mesma coisa.Riccardo Muti afirmou que nunca mais vai perder tempo nesse lugar.Jonas Kaufmann também se recusa a cantar de novo neste recinto por sentir sua voz mal projetada.Recordo os casos de Gasteig em Munique(Leonard Bernstein recomendou atearem fogo nessa sala),Barbican Centre em Londres e o David Geffen Hall em New York.

    Curioso saber na sala hamburguesa o tempo de reverberação é de 2.3s.Uma sala reconhecida mundialmente pela boa acústica o Symphony Hall de Boston,por sua vez conta com apenas 1.8s.Esse pessoal da Nagata Acoustics parece estar querendo fazer experiências e ousaram até 2.7s de tempo de reverberação no Lotte Concert Hall em Seul.Não dá para compreender a razão dessas escolhas,pois simultaneamente a empresa esteve envolvida na construção de 2 salas em Paris.No caso da Maison de la Radio temos 1.8s de tempo de reverberação,já em se tratando da nova sede da Orchestre de Paris por sua vez 2.6s!O projeto que tornou famosa no mundo essa empresa,o Suntory Hall em Tóquio,possui tempo de reverberação de apenas 2.1s.

    Cada vez mais se exige acústica perfeita.Karajan demorou 1o anos depois de inaugurada a sala Philharmonie para gravar nela e mesmo hoje ainda recorrem à igreja de Jesus Cristo para gravações.A Rapsódia Espanhola de Ravel foi gravada por Boulez na igreja e por Abbado na sala,duas gravações com a mesma orquestra bem diferentes,prefiro a versão do italiano.As gravações feitas em Milão,essas produções da Callas escalígera ,possuem todas uma qualidade sonora muito pobre.Dado o tempo de reverberação de apenas 1.1 segundos do teatro milanês,mais próximo da acústica ideal para um teatro falado,isso é perfeitamente compreensível.Outra coisa são as gravações da cantora realizadas na excelente Salle Wagram em Paris.

    Com certeza essas orquestras que conhecemos com sede em Amsterdam,Viena ou Berlim devem muito de suas qualidades à qualidade da acústica das salas onde ensaiam e se apresentam.Como anedota,vale contar a história da visita de John Pritchard e a Sinfônica de Londres ao México em 1979.Estender andamentos é comum na música clássica,mas estender pausas é algo mais raro.A Quinta sinfonia de Sibelius é famosa por se encerrar com seis acordes intercalados por pausas.O maestro inglês estendeu ao máximo que se tem notícia cada uma dessas pausas,causando assombro no público mexicano,quase 9 segundos se passaram entre um acorde e outro!O regente encantado com a acústica da então nova Sala Nezahuacoytl,já tinha dado a entender durante os ensaios que faria algo no sentido de obrigar o público que acudiu para ouvir uma das melhores orquestras do mundo escutar o silêncio no concerto, onde não há orquestra,não há nada.A sentença repetida pelo maestro nos ensaios:"Aqui se escuta o silêncio em todo seu esplendor!"Isaac Carneiro Victal.

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  4. Gravações ao vivo recomendadas pelo blog sujo:

    Abbado em Berlim DG

    Bernstein DG em áudio e em vídeo

    Haitink vídeo em Amsterdam

    Mitropoulos em Salzburg áudio Orfeo

    Sinopoli vídeo gravado no Japão com a Philharmonia

    Dudamel na Venezuela DG

    Maazel New York

    Josep Pons vídeo Madrid DG

    Chailly Amsterdam Decca

    Isaac Carneiro Victal.

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  5. E aí, a maestrina Marin Alsop não virá a Campos do Jordão apresentar a 8ª de Mahler !
    Qual o motivo !

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