"RIGOLETTO" ESPETÁCULO IMPONENTE DE JORGE TAKLA NO THEATRO MUNICIPAL DE SP. CRÍTICA DE MARCO ANTÔNIO SETA NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

    
 
                                                  Cena do Ato I de Rigoletto
    
   O assunto de "Rigoletto" provém da peça teatral de Victor Hugo, "Le Roi s'amuse" (O rei se diverte) que foi adaptada em libreto por Francesco Maria Piave. Originalmente, a ópera consistia numa denúncia frontal à devassidão da corte vienense. Os austríacos, na Itália, censuraram a obra e exigiram que a ação fosse transportada para Mântua, no século XVI. Foi um policial, amigo de Verdi, quem achou a solução para o impasse. Francisco I transformou-se no Duque de Mântua; Triboulet virou o Rigoletto e o título "A Maldição" passou a se chamar "Il Rigoletto"
         Composta em 1851 e estreada a 11/3/1851 no Teatro La Fenice em Veneza, Rigoletto inicia  a chamada trilogia popular de Giuseppe Verdi (1813-1901). Completou-se o ciclo com "Il Trovatore" (Roma, em 19/01/1853) e "La Traviata" (06/3/1853) também no Teatro La  Fenice; cuja caracterísitca principal é centrar-se na aventura do herói, que domina o drama e lhe confere unidade, predominada por um aspecto lírico intenso. A melodia serve à ação teatral.
          Um espetáculo imponente surpreendeu o público do Theatro Municipal na noite de sábado, 20 de julho, com cenários de Nícolas Boni de belo efeito visual; lindos figurinos de Fabio Namatame, confeccionados à última hora para esta produção paulistana, iluminação de Ney Bonfati, coreografia interessante de Anselmo Zolla, e uma segura, competente e muito adequada direção de cena do experiente Jorge Takla. Diga-se de passagem que a produção é originária do Teatro Colón de Buenos Aires, onde estreou em março 2019; porém cenários e figurinos foram reproduzidos novamente aqui na central técnica do TMSP. No ato III, às margens do rio Mincio, em noite sinistra, as imagens projetadas tornaram a cena espetacular. 
    O malevolente Rigoletto esplendidamente caracterizado por Fabian Veloz, este barítono argentino iniciou sua trajetória nos teatros Argentino de La Plata e Colòn de Buenos Aires, sempre com êxito; logo  subiu ao Teatro dell'Ópera de Roma, ao San Carlo di Napoli, Reggio Emilia, Arena  di Macerata, Comunale di Modena, Theatre de Metz Metropole e Atlanta Opera (EUA) entre outros. Já na meditação (cena 2 do Ato I ) "Pari siamo! io la lingua egli a il pugnale;..."  demonstoru o seu temperamento ao personagem. Cantou e representou com a dignidade que o papel requer. Na ária "Cortigiani, vil razza dannata...lançou-a de maneira respeitosa, emocionando o público, arrancando efusivos aplausos ao final do dueto com Gilda no Ato II "Tutte le feste al tempio; Solo per me l'infamia (cenas 6, 7  e 8).
                                      Ópera Rigoletto no Teatro Municipal SP. (Foto: Roberto Casimiro/Fotoarena/Folhapress)
             
      No mesmo nível artístico o baixo Luiz-Ottavio Faria realizou Sparafucile, um assassino profissional em sonoros graves lançados por uma voz plena e aveludada. A ucraniana Olga Pudova nas vestes de Gilda, esnobou o registro de soprano lírico ligeiro, desprovido de coloratura para enfrentar as apogiaturas da partitura. Sendo assim, a sua principal passagem "Gualtier Maldè...Caro nome (cena 8 do 1º Ato) amornou os espectadores, deixando-os  esperar pelo que não ofereceu. No entanto, a partir de "Tutte le feste al tempio" emitiu notas  mais consistentes do registro de soprano lírico, com vibratos excessivos e agudos estridentes. E àqueles que viram neste teatro as Gildas de
Agnes Ayres, Niza de Castro Tank e por último Teresa Godoy, é difícil aceitar tão inferior performance.
               Fernando Portari (Duque de Mantua) realmente confirmou as tentativas de driblar e enganar o público com seus sucessivos cortes das notas mais agudas, falsetes em abuso em muitas frases musicais, portamento de notas,  e o consequente desapontamento nas passagens mais aguardadas,  de maneira que "Ella mi fu rapita,.....Possente amor mi chiama, volar io deggio a lei" e "La donna è mobile" foram um fiasco.
              No "" supporting cast" destacou-se de maneira ímpar o barítono David Marcondes como precisão rítmico-musical, volume vocal e dramaticidade (Conde Monterone); o tenor Eduardo Trindade (Matteo Borsa); o barítono Daniel Lee muito musical no Conde Ceprano, e mais uma vez, o mezzo soprano Juliana Taino, sempre elogiada por este Blog, em perfeita atuação cênico-vocal de Maddalena. 
              Num nível apenas razoável apresentaram-se Wlademyr Carvalho (Marullo); Carla Rizzi (mezzo soprano Condessa Ceprano); Karen Stephanie (Giovanna); Ludmilla Thompson (soprano,  Pagem da Duquesa) e Andrey Mira (Oficial, baixo ;   mensageiro). 
               Roberto Minczuk dirigiu a Orquestra Sinfônica Municipal acelerando em alguns momentos o andamento rítmico além dos cantores; todavia regeu com segurança e autoridade toda a ópera. 

Escrito por Marco Antônio Seta, em 21 de julho de 2019.
Jornalista inscrito sob nº 61.909 MTB formado na FCL
Diplomado em piano, teoria, história da música, harmonia e contraponto pelo Conservatório Musical Dr. Carlos de Campos, em Tatuí, SP. 
Licenciado em Artes Visuais pela UNICASTELO

Comentários

  1. Olá Marco Antônio, como vai?
    Tive a oportunidade de assistir ao Rigoletto ontem, dia 23/07 e sua crítica ainda se faz verdadeira em sua maior parte. A única diferença, em minha opinião, foi a performance da soprano Olga Pudova, que ainda exagera nos vibratos e agudos do I ato, mas compensou se saindo muito bem no III (verdade que é uma passagem mais fácil). Foi uma noite maravilhosa, destaque para mise en scène em geral e Fabian Veloz como Rigoletto. O único ponto baixo foi o Fernando Portari como Duque da Mantua, muito abaixo do resto do elenco, na pior performance de La donna è mobile que já vi.

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