"VILLA-LOBOS ALÉM DE COMPOSITOR, É UMA DAS GRANDES PERSONALIDADES MUSICAIS DO SÉCULO XX".ENTREVISTA COM A REGENTE SIMONE MENEZES.

Natural de Brasilia, Simone Menezes é uma regente brasileira reconhecida pelo seu engajamento em projetos criativos e inovadores. Fundou a Camerata Latino Americana, uma orquestra de câmara que atraiu a atenção da International Society for the Performing Arts em Nova York. Além do repertório standard, se dedica a divulgação da música de concerto brasileira e latino americana, tendo gravado 2 CDs e estreado mais de 20 obras. Baseada na França desde 2017, Simone colabora com artistas como Paavo Jarvi, Thomas Adés, Ole Edward Antonsen, Marin Alsop, entre outros. Em 2019 ficou em segundo lugar no concurso europeu Mawoma Maestra Women, regendo a Wiener KammerOrkester in Viena.
   Simone Menezes regerá a Orquestra do Theatro São Pedro/SP nos próximos dias 12 e 13 de Outubro. O tema "Inspirações" é composto por músicas de Villa-Lobos, Ravel e Paizzolla. A regente radicada na França deu uma entrevista exclusiva ao Blog de Ópera & Ballet onde fala de seu trabalho:

Blog: Você mora na Europa, como é vista a música clássica brasileira no velho continente?

Infelizmente ela ainda é desconhecida e pouco tocada. O velho continente é muito tradicional e programar música brasileira é sempre um desafio, as instituições são mais tradicionais nas escolhas de repertorio. Curiosamente quando passamos a barreira e tocamos nosso repertório é sempre um sucesso!

Blog:  Ficar segundo lugar no concurso Mawoma Maestra Women nesse ano vai dar um impulso à sua carreira?

Espero que sim, risos.

Mas não tenho o que reclamar, graças a Deus nos últimos anos tenho tido oportunidades de dirigir boas orquestras.

Blog: As chances de trabalho na Europa para regentes é maior que no Brasil?

O mercado europeu é muito maior que o mercado brasileiro. O Brasil, maior que a Europa em termos de território, tem menos orquestras que um país como a França que é do tamanho de apenas um estado brasileiro. Sem contar todos os outros países. O fato do mercado ser maior aumenta as possibilidades, porém a qualidade e a concorrência também é muito alta.

Blog: Você divulga a música de Villa-Lobos pela Europa, na sua opinião em que nível de qualidade o compositor se encontra se comparado a gênios da música clássica?

O Villa-Lobos além de compositor, é uma das grandes personalidades musicais do século XX. Sua produção musical é variada, difícil compará-lo com um compositor, mas gosto de fazer alguns paralelos: vejo um paralelo grande entre a Sinfonietta 1 e a Sinfonia Clássica do Prokofiev, entre Uirapuru e o Pássaro de fogo de Stravinsky, ou entre Floresta do Amazonas e Carmina Burana. Além disso o repertório para Violão, o quinteto de sopros e Rudepoema são reconhecidos como masterpieces.

blog: Como você avalia o nível técnico das mulheres regentes na atualidade?

A questão da mulher na regência é um assunto delicado. Até 5 anos atrás elas eram invisíveis. Eu acompanhei o processo de transformação, que em geral, veio de algumas instituições maiores e formadoras de opinião que eram mais esclarecidas. As oportunidades dadas as mulheres eram menores, e a falta de “horas de voo” tão importante para um regente criou uma diferença técnica, que aos poucos começa a se igualar.

Blog: Regência é um mercado dominado por homens, imagina que um dia as mulheres conseguirão se equiparar nessa profissão?

Não sei se o objetivo seja termos 50% de mulheres regentes, acredito que o objetivo seja que mulheres talentosas e capacitadas não sejam ignoradas e se tornem invisíveis, obrigando-as a criar suas próprias orquestras como tem sido prática por décadas. Para que isto aconteça é necessário que tenhamos pessoas esclarecidas na direção das instituições, no jornalismo, nas instituições financiadoras, etc.

Blog: No programa que você regerá no Theatro São Pedro/SP, nesse fim de semana, constam trechos da ópera Maria de Buenos Aires, você pretende um dia reger óperas ?

Por enquanto não tenho previsto reger a opera. Porém a música é ótima, mostra o lado surrealista mais modernista de Piazzolla.