"LA BOHÈME", ÓPERA DE PUCCINI PELA ASSOCIAÇÃO CORAL DA CIDADE DE SP. CRÍTICA DE CARLOS EDUARDO CIANFLONE NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

   Cheguei cedo e fui dar uma estudada no teatro. Tem muito veludo nas cadeiras e o chão é 100% acarpetado, as paredes laterais são revestidas em madeira, e aparentemente o teto também. O Teatro Bradesco não é um teatro gigantesco. Passei a achar que pode ser um lugar razoável para óperas, contrariando a minha opinião anterior, forjada no ano passado quando me sentei mais atrás e tive alguma dificuldade em ouvir os solistas. O fosso tem a largura do palco, mas é bem curto e relativamente raso. Estranhei ter visto microfones sobre a orquestra e caixas de som apontando para a plateia. 
   Não sei dizer se o som estava sendo amplificado eletronicamente, pois estava meio longe do palco para perceber. O volume da orquestra estava adequado e nítido. Eu estava sentado na décima fila, assento central, razoavelmente perto do palco e com excelente visão. Gostei do destaque dado para a harpista, quase dentro do palco, que dialogou bastante com os solistas - algo que eu não percebi nas outras versões que já assisti.
   Ópera iniciada, cortina se abre com o cenário simples e eficiente. Esta ópera de quatro atos transcorre em três cenários (apartamento dos artistas, Quartier Latin + Cafe Momus, Portão em Paris, volta para o apartamento no final). Tudo funcional e baratinho, e o truque do apartamento fazendo uma concha acústica deu uma bela ajudinha nos solistas. Muito bom. Iluminação OK, efeitos bonitos, neve caindo lá fora, Che Gelida Manina meio no escurinho como tem que ser, estava tudo ótimo. 
  Figurino de época, com uns arroubos esquisitos, uns casacos de plástico transparente que não combinavam muito com o resto da ópera, mas também não estragou o espetáculo. Parecia roupa de circo, sei lá. I Pagliacci feelings.
   O coral desta ópera aparece apenas em trecho curto do segundo ato, pior ainda, cantaram boa parte do tempo atrás do cenário, virados para a parede. Uma pena, pois o coral é a marca registrada da Associação Coral e um dos motivos de sua existência. Vi que estavam se divertindo, agradeceram felizes os aplausos e se despediram do público ao término da cena.
E chegamos finalmente aos solistas. Obviamente não conhecia nenhum de nome, o que foi ótimo, pois sem referências anteriores o que valeu foi o que assisti na hora. Depois li os currículos no programa.
Personagens principais
Mimì – Camila Rabelo
Musetta – Jayana Paiva
Rodolfo – Eduardo Trindade
Marcello – Rodolfo Giugliani
Schaunard – Charles Keiti
Colline – Andrey Mira:
Vamos lá. Já era a segunda apresentação do grupo, mas tivemos uns cinco minutos titubeantes a título de aquecimento. Depois a trupe masculina dá uma boa engrenada. Nenhuma grande surpresa até o Che Gelida Manina, quando percebemos onde o casal protagonista poderia chegar. A personagem Mimi é meio ingrata para a solista, pois é toda frágil, doentinha, e assim foi devidamente encenada. Me lembrou muito a Micaela de Carmen. Depois li que Camila Rabelo tinha já feito a Micaela na Carmen de 2018, e tudo se encaixou perfeitamente. Rodolfo faz bem o seu papel e bola pra frente.
Comentei anteriormente que a orquestra estava com o som bem potente - alguém com acesso à produção consegue confirmar se foi mesmo amplificada? Eu acho que não foi, mas fiquei encafifado com os microfones e caixas de som. (Nota do Editor: O regente Luciano Camargo confirmou que a ópera não foi amplificada). Com o casal em cena, por alguns instantes, a orquestra abafava os solistas agudos. Como eu disse, o cenário em concha ajudou BEM a destacar as vozes agudas, grande sacada.
   Mas daí aparece o casal Marcello e Musetta, e realmente roubam a cena pelo resto do espetáculo. Jayana Paiva dá um show de voz e interpretação, é divertida, segura e expressiva. Grande presença de palco, o seu papel permitia isso. Grata surpresa. Marcello/Rodolfo Giugliani com sua voz potente e precisa faz um excelente par para esta Musetta. A plateia reagiu de acordo e foram de fato os mais ovacionados ao final do espetáculo.
Os demais solistas fizeram bem a lição de casa, sem maiores comentários.
RESUMO DA ÓPERA
O que eu espero de uma ópera? Que a história seja contada (e foi), que a música seja tocada (e foi), que seja bem cantada (e foi). Gosto de montagens tradicionais e não faço questão de pirotecnias de cenário (embora goste de cenários móveis, guindastes, gente voando pra lá e pra cá, palcos flutuantes ou giratórios, iluminação neon e por aí vai). A interpretação dos solistas lembra Pavarotti ou Callas? Definitivamente não. Mas me diverti, me emocionei, ri no Cafè Momus e chorei copiosamente a morte de Mimi. Assistiria de novo sem a menor sombra de dúvida e recomendo fortemente para todos os paulistanos, paulistas e brasileiros que não conseguem sair do país para assistir a uma grande produção de prestígio com solistas de destaque. Espero ansioso pelo anúncio da produção de 2020, a qual vou prestigiar com certeza.
Carlos Eduardo Cianflone.

Foto facebook de Luciano Camargo.

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