GRUPO CORPO : INSTIGANTE INVENTIVIDADE GESTUAL ENTRE A URBANIDADE DE “CORPO” E O REGIONALISMO DE “PARABELO”. CRÍTICA DE WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

                                                         Fotos/Sharen Bradfors e José Luiz Pederneiras
 

Prestes a completar seu meio centenário o Grupo Corpo continua a expandir sua potencial singularidade como um das mais inventivas Cias de dança contemporânea do Brasil. Capaz, sempre, de continuar surpreendendo mesmo na retomada de coreografias antigas de seu repertório, como é o caso destas tituladas como Corpo e Parabelo, respectivamente criações dos anos 2000 e 1997.

Sabendo como bem explorar o conluio de recursos cênicos, da iluminação aos figurinos, a favor de uma energizada e interativa corporeidade dançante que nunca deixa a desejar na sua busca por um perfeccionismo técnico na unicidade performática de seus bailarinos. A partir, sempre, da peculiar gramática coreográfica estabelecida pelo ideário concepcional de Rodrigo Pederneiras.

Dentro de um dimensionamento estético/coreográfico a prevalência temática do Grupo Corpo se apoiando em permanente brasilidade que aparece, ali, desde 1976, com a obra propulsora da fama da Cia, Maria Maria, inspirada nas composições de Milton Nascimento, sendo esta sua estreia visionária, inicializada pela lavra do coreógrafo argentino Oscar Araiz.

Na travessia histórica do grupo muitas foram estas incursões por trilhas de compositores da MPB, numa especificidade que se desenvolveu por intermédio da participação direta dos músicos autores na sua montagem, paralela à arquiteturação cênica/coreográfica dos espetáculos. Em peças antológicas da Cia mineira caso, entre outras, como Corpo, por Arnaldo Antunes, ou através da parceria Tom Zé e Miguel Wisnik, em Parabelo.

                                    Fotos/Sharen Bradfors e José Luiz Pederneiras

A primeira delas - Corpo - estruturada sob acordes de prevalência percussiva, com base composicional tecno-eletroacústica, para um texto recortado verbalmente como um poema concretista, sinalizado nos leitmotivs de palavras e frases vocalizadas (pé /mão /pé /mão – mão/ umbigo / braço) indutoras de vigoroso gestual mecânico/robótico dos bailarinos.

Onde a indumentária (Freusa Zechmmeister e Fernando Velloso) de malhas negras referencia um quadro cênico e luminar (Paulo Pederneiras) de tonalidades futuristas, preenchido virtualmente pelo piscar de luzes de um painel eletrônico, através de um movimentar-se diferencial capaz de sugestionar “esse composto de ossos, carne sangue órgãos músculos nervos unhas e pelos”.

Enquanto Parabelo dá um salto da realidade urbana para o sertanismo, naquela que seu próprio coreógrafo (Rodrigo Pederneiras) considera a sua obra de mais plena brasilidade, a partir de uma abordagem estética/regionalista da fome nordestina. E da sua resistência, na pulsão de crenças populares e religiosas, pelo desafio para sobreviver à insólita paisagem do agreste.

A peça tendo um componente icônico em sua trajetória, do êxito de suas apresentações anos 90, no Festival de Dança de Lyon/França, e como tema artístico de abertura das Olimpíadas de 2016, no RJ, ou por sua caracterização imagética que pode remeter também a um memorial do universo dos sertões.

Toda esta proposta plena de um sensorial alcance desde os figurinos (Freusa Zechmeister) em malhas escuras que descortinam traços vermelhos no corpo e nos pés, à plasticidade cenográfica (Fernando Velloso) com a simbologia dos painéis de ex-votos às fotografias que registram o cotidiano e as lembranças sertanejas.

Movimentando-se nos ritmos do baião e do xaxado ao forró, os bailarinos potencializam danças envolventes de apelo popular, carregadas de um autentico sabor regionalista sob formas brasileiras, retomando signos emblemáticos das coreografias do Grupo Corpo, no molejo dos requebros de quadril e nos remelejos da sua corporeidade.

Em outra retomada luminosa de uma criação coreográfica, pautada no substrato nativo e, mais uma vez, provando como seu original legado artístico a transformou globalmente numa das mais carismáticas companhias de dança do País e do mundo...

Wagner Corrêa de Araújo

(Crítico de Dança)

                                                Fotos/Sharen Bradfors e José Luiz Pederneiras

O Grupo Corpo está em temporada no Teatro Multiplan/Shopping Village Mall, de quarta a sábado, às 20h; domingo, às 17h, até 02 de junho.

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