MAHLER EM MINAS ! O QUE DIZER DO CICLO PUBLICADO PELA FILARMÔNICA DE MINAS GERAIS ? CRÍTICA DE ISAAC CARNEIRO VICTAL NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.




Como não achei na mídia quase nada sobre o lançamento esse ciclo em streaming, decidi falar pois se trata de um evento histórico. Nunca uma orquestra brasileira gravou esse conjunto de sinfonias em estúdio. Também nunca uma orquestra latino americana fez isso. Nem sequer uma orquestra ibero americana. Da Espanha veio um ciclo incompleto pela Filarmônica de Gran Canaria e Adrian Leaper. Na Itália a orquestra Verdi de Milano lançou recentemente um ciclo incompleto regido por Claus Peter Flor que mereceu comentários elogiosos do crítico David Hurwitz. Essa orquestra de fato desde quando era a orquestra RAI de Milano dirigia por Vladimir Delman, tem o costume raro entre orquestras de países latinos de interpretar ciclos mahlerianos, como muitas gravações da RAI e piratas que sobreviveram estão por aí como prova.


Até mesmo o Japão até onde sei publicou em CD apenas um ciclo mahleriano completo, dirigido por Eliahu Inbal. Existem ciclos incompletos dirigidos por Takashi Asahina e Seiji Ozawa com sua orquestra Saito Kinen. Da Austrália veio outro ciclo dirigido por Ashkenazy.

Como uma orquestra brasileira pode se sair nesse repertório? Primeiramente o que me chamou a atenção é a acústica primorosa da Sala Minas Gerais, conseguimos escutar detalhes das partituras nunca ouvidos se as mesmas peças são tocadas na Sala São Paulo. É inquestionável que se trata da melhor sala sinfônica do país e por outro lado a Sala São Paulo na verdade tem uma acústica cacofônica, muito ruim. Existe um CD esgotado com uma gravação da Segunda de Mahler pela OSESP, registrada na inauguração da Sala SP. Fica evidente como a orquestra paulista tocava muito melhor na época de John Neschling do que hoje, mas a acústica da Sala MG faz muita diferença, escutamos um equilíbrio perfeito entre os naipes da orquestra na gravação da mesma peça feita em Belo Horizonte.

Essas qualidades estão presentes ao longo de todo o ciclo. Por outro lado a qualidade das interpretações varia bastante. Se a Filarmônica é hoje de longe a melhor orquestra do país, só tocar tudo certinho não adianta. As interpretações estão quase sempre extremamente contidas, com pouca variação de dinâmicas. Os momentos mais explosivos e emocionantes deixam muito a desejar, enquanto o ponto forte aqui são passagens calmas como a marcha fúnebre da Primeira Sinfonia. Destaco o som fraco dos pratos, quem tocou os pratos nessas gravações parecia evitar a todo custo fazer muito barulho! Sobre os andamentos, a regência de Mechetti é metronômica demais para peças romântico tardias como essas sinfonias. Enfim empreitada decepcionante devido ao alto nível dos instrumentistas, coro e solistas. Tudo muito certinho, mas sem muita emoção e também sem muita personalidade.

Gostaria também de dizer que discordo das falas tanto de Neschling como de Mechetti defendendo Mahler como um compositor fundamental para a construção da sonoridade orquestral. Mahler representa uma concepção romântico tardia germânica de orquestração, mas existem outras. Nosso maior compositor Villa-Lobos era elogiado como grande orquestrador por Messiaen e sempre se inspirou na sonoridade orquestral francesa, que é uma outra vertente. Tanto a OSESP quanto a Filarmônica de Minas Gerais se estruturaram em tempos recentes emulando uma sonoridade orquestral germânica, mas esse não é o único modelo disponível nem os clássicos sinfônicos austro germânicos dominam o repertório sinfônico como dominavam no século XIX.

Isaac Carneiro Victal.





Comentários

  1. Concordo plenamente com os comentários. Acústica da Sala MG e melhor, o nível da orquestra, no geral, excelente, mas padecendo dessas concepções interpretativas anotadas, que empobrecem a expressão mahleriana, sim. Falta emoção..
    Mas no geral, iniciativa das mais louváveis é importantes. Viva a Filarmônica, e que viva a OSESP também, mesmo na sua atual fase menos brilhante....

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  2. Marco Antônio Seta disse: Excelente iniciativa da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, sob a brilhante direção artística e regência do maestro Fabio Mechetti.

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