DUAS ÓPERA EM ESPETÁCULO BEM CUIDADO NO THEATRO SÃO PEDRO/SP. CRÍTICA DE MARCO ANTÔNIO SETA NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

                                      Cena da ópera Turandot, de Busoni no Theatro São Pedro


             O Theatro São Pedro apresentou na noite de 02 de agosto um espetáculo bem cuidado nos trazendo duas óperas. A primeira;  "Turandot", ópera fabulosa em dois atos, de Ferruccio Busoni (1866~1924), sobre libreto próprio, baseada na homônima fábula teatral de Carlo Gozzi (1762) cuja primeira representação deu-se no Teatro Estadual de Zurich a 11 de maio de 1917. 
              O maestro Ira Levin dirigiu o espetáculo que num ambiente de fábula e fantasia, Busoni exerce a sua ironia em tudo, no qual seu tom irônico encontra-se acentuado pela presença das três máscaras, aqui defendidos por Daniel Umbelino (tenor, nas vestes de Truffaldino) muito bem vocal e cenicamente; pelo baixo Gustavo Lassen (Pantalone) igualmente correto em seu personagem, e o barítono  Douglas Hahn (Tartaglia) completando as máscaras.Os temas tornam-se intrinsicamente inspiradas em temas orientais, chineses e árabes, traduzidos pela Orquestra do Theatro São Pedro em momentos de agradável sonoridade. 

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             Daniel Umbelino como Truffaldino


              Marly Montoni assumiu o papel de Turandot. Essa cantora tem se apresentado em papéis de responsabilidade no registro de soprano dramático; seus papéis foram a Abigaille de "Nabucco" (Verdi), a Leonora de "Fidelio (Beethoven); a Missa de Requiem, de Verdi, o papel título de "Aida" ; a Bess em Porgy and Bess; (Gershwin); "The Rake's Progress" ( Anne ), de Stravinsky. Com registro amplo e emissão certeira na voz, nos deu satisfatória versão da princesa chinesa. 
               Nas vestes de Adelma, sua confidente (mezzosoprano) Juliana Taino, emitiu lindos pianissimos em seu canto somados a bom desempenho cênico. Completaram o elenco Giovanni Tristacci (Kalaf); Rodrigo Esteves (Barach) satisfatórios; o baixo-barítono Saulo Javan (Imperador Altoun) revelou emissão ruim com ausência das notas mais graves; o contralto Nathália Serrano cantou a canção de origem popular de autor desconhecido,  em tonalidade menor, e a rainha-mãe de Samarcanda, soprano Raquel Paulin em boa atuação. Figurinos de Fabio Namatame bastante elegantes e iluminação de palco predominantemente branca ou muito escura de Mirela Brandi;  preparação do coro muito eficiente e musical de Bruno Costa e a cenografia de Duda Arruk exagerou no preto e é pouco criativa, frisando e sobretudo considerando-se tema tão inspirador.   

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               Componentes do Coro da ópera "Turandot", de F. Busoni

               Prosseguindo encenou-se "Gianni Schicchi", de G. Puccini numa homenagem aos cem anos da morte do compositor, bem como de F. Busoni, ambas ocorridas em 1924. Gianni Schicchi faz parte integrante de "Il Trittico", óperas estreadas em 14 de dezembro de 1918 no Metropolitan de Nova Iorque, com libreto de Giovacchino Forzano, que derivou a comédia de algumas linhas do canto XXX do Inferno de Dante. Gianni Schicchi, que exibe uma inesperada veia cômica em Puccini, tem um paralelo notável com Verdi e seu "Falstaff". 
                Nessa tão típica obra "de conjunto", todos os artistas devem ser artistas de verdade. O brilho pessoal desaparece ante a necessidade de um conjunto homogêneo; apesar disso, cumprida tal exigência vê-se o efeito gratíssimo de cada um dos papéis. A direção cênica de Alexandre dal Farra nos oferece um ritmo global de encenação, onde cada sistema cênico evolui de acordo com seu próprio ritmo; o trabalho de ordenação (lógica e narrativa) da encenação pelo espectador consiste propriamente na percepção das diferenças de velocidade, das defasagens, das embreagens e das hierarquias entre si. Farra optou também, por uma época bem mais moderna nas duas óperas que encenou. A primeira, na década de 1950 e Gianni Schicchi já nos dias contemporâneos. Fabio Namatame seguiu paralelamente a sua opção, elucidando com figurinos adequados e ajustados aos diversos personagens. 
                  O cenário de Duda Arruk desta vez apropriado à ação cênica e a iluminação de Mirella Brandi, poderia diversificar e centralizar melhor a acão em seus diferentes rítmos e situações. 

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                     Daniel Umbelino (Rinuccio), Raquel Paulin (Lauretta) e Rodrigo Esteves (Schicchi)

                     
           Ira Levin o maestro "concertatore e diretore d'orchestra" ralentou os andamentos musicais. Talvez isso favoreça a alguns cantores, mas por outro lado,  pode dificultar para os outros solistas. Na parte instrumental funcionou bem, com bonitas interjeições solistas nas cordas, madeiras e metais. 
                       Rodrigo Esteves acertou na interpretação de Gianni Schicchi revelando farta emissão e projeção vocal somada a interpretação concisa e bastante adequada nas cenas em que se faz passar por Buoso Donati durante o testamento. 
                       Raquel Paulin, deu-nos linda interpretação de sua Lauretta, especialmente na celebérrima ária "Oh! mio babbino caro" e no dueto "Lauretta mia, staremo sempre qui ! lançando lindos pianissimos, filamentos  e amplos agudos coloridos. Cenicamente demonstrou versatilidade. 
                       Daniel Umbelino, o tenor lírico-ligeiro ofereceu canto desenvolto, muito musical,  emitindo notas agudas com facilidade, resultando num Rinuccio amplamente satisfatório , verifiquem-se: "Avete torto!.....Firenze è come un alberto fiorito..." com emissões muito corretas. 
                       A Zita de Nathália Serrano (contralto) indicou a sua dificuldade para emitir as notas mais altas resultando numa sonoridade feia e desafinada. Gustavo Lassen intérprete de Betto di Signa, o baixo cantante ofereceu muito boa interpretação cênica e vocal. Saulo Javan baixo-barítono (Simone) ; Giovanni Tristacci (Gherardo); razoáveis, apesar de uns deslizes. 
                       Vale destacar ainda a presença do soprano Marly Montoni  (Nella) e Juliana Taino mezzosoprano (Ciesca) que muito engrandeceram o domínio cênico e as partes vocais do conjunto, como os pianissimos emitidos durante as cenas plurais: "Addio, Firenze, addio, cielo divino, ecc" 
                        Completando o cast apreciamos o maestro Spinelloccio de Ádamo,  bem audível em sua cômica entrada; Douglas Hahn (Marco); Isaque Oliveira (Ser Amantio di Nicolao); Andrey Mira (Pinellino); Pedro Côrtes (Guccio); Barbara Blasques (Gherardino) e Ney Piacentini (Buoso Donati). Satisfatórios. 

Escrito por Marco Antônio Seta, em 03 de Agosto de 2024
Jornalista inscrito sob nº 61.909 MTB
Licenciado em Artes Visuais pela UNICASTELO - São Paulo/SP
Diplomado em piano, teoria, solfejo, história da música, harmonia e contraponto pelo Conservatório Dramático e Musical "Dr. Carlos de Campos", em Tatuí, Estado de SP. 

Comentários

  1. Excelente a crítica de Marco Antônio Seta , bem criterioso , sincero e justo como sempre.
    Parabéns Marco !

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