ROCK IN RI0 40 - O MUSICAL : A TRAJETÓRIA E O PROCESSO CRIADOR SOB O DESAFIO DE UM SONHO. CRÍTICA DE WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

 

Rock in Rio 40- O Musical. Charles Moeller/Dramaturgia e Direção. Claudio Botelho/Supervisão Musical. Rodrigo Pandolfo no papel de Roberto Medina. Janeiro/2025. Caio Galucci /Fotos.

 

Titulado muito a propósito, Rock in Rio 40 - O Musical quer fazer um tributo a um dos mais ousados projetos brasileiros no entorno do show business, em outra das realizações da celebrada dupla de especialistas no teatro musical - Charles Moeller / Cláudio Botelho.

A partir do ideário sobre o que está por trás e o público desconhece, na sua envolvência com o fascínio do produto final, num original direcionamento assumido neste espetáculo. Conectando, estéticamente numa espécie de documentário cênico-musical, o show em grandes proporções sob o ar livre transmutado em teatro, dimensionado nos limites de seu tradicional espaço cênico - o palco.

Não para falar cronologicamente de cada artista ou banda e como foi sua atuação, de 1985 aos nossos dias, mas priorizando a história daquela equipe de uma agência de publicidade em seus sequenciais atributos no empenho para tornar realidade o sonho quixotesco de um empresário - Roberto Medina.

Daí, tornando suas as palavras visionárias do personagem de Cervantes, com seu presencial conceitualizado na triste figura do cavaleiro andante, imerso no delírio de duelos imaginários com moinhos de vento, na  convincente e afetiva caracterização de André Dias (extensiva à outra sobre o pioneiro do grande musical brasileiro - Oscar Ornstein).

Rock in Rio - O Musical. Moeller / Botelho/ Ideário Concepcional. Com Beto Sargentelli, Malú Rodrigues, Rodrigo Pandolfo e Gottscha. Janeiro/2025. Caio Galucci/Fotos.


E para concretizar a narrativa dramatúrgica há as personificações típicas dos funcionários da empresa de Medina, a começar do próprio, em correspondente figuração atoral por Rodrigo Pandolfo que, mesmo longe de um perfil físico similar, já de imediato, mostra sua convicta entrega ao papel, mais inclusiva como ator do que cantor.

Ao seu lado, dividem o protagonismo, desde a chefe administrativa da agência (no caso a Artplan) Dora, figurada pela luminosa atriz/cantora Gottscha, ao funcionário João (Beto Sargentelli) e a estagiária recém contratada Beth (Malu Rodrigues), estes tornando-se, ao longo do enredo, o apaixonado par romântico do musical.

Onde um energizado Beto Sargentelli se destaca em absoluta caracterização de temas pop-roqueiros, enquanto uma extasiante Malu Rodrigues dá outra de suas potenciais performances em sotaque mais lírico e extensão vocal que a equaliza a uma prima donna do teatro musical brasileiro.

Precedida, no prólogo e em outras oportunas interveniências, do apelo como qualificada atriz, por Bel Kutner fazendo a mesma Beth em idade mais madura. Na busca de suas lembranças como aquela sonhadora estagiária, por intermédio de um livro que teria escrito, servindo de mote ficcional para contar a história do Rock in Rio.

A trilha sonora (Zé Ricardo), sob a direção musical de Marcelo Castro, é fragmentária num compasso de um pout pourri com temas não apenas de alguns grupos, internacionais ou brasileiros, que passaram pelo Festival. Estendendo esta faixa a canções que ali nunca integraram sua programação, como uma especial menção à música francesa em exímia interpretação da franco-brasileira Yara Charry.

O apuro cenográfico (Ana Biavaschi) na grandiosidade de um pórtico frontal remetendo à Cidade do Rock, é preenchido por projeções em 3D numa diversidade de ambiências, sendo ampliado pelas luzes ora vazadas ora psicodélicas (Vinicius Zampieri), ressaltando figurinos mais cotidianos (Fábio Namatame).  

Enquanto o reiterativo movimento de ida e volta do elenco de cantores/bailarinos em clima burocrático e institucional, ainda que seja intermediado por um funcional gestualismo coreográfico (Mariana Barros) cria uma certa expectativa, quanto à sequencialidade narrativa com novos enfoques, para maior parte dos espectadores, mas que acaba não acontecendo no segundo ato. 

Redimida quando André Dias reaparece como o  Quixote do Homem de La Mancha, com os quiméricos versos da canção Impossible Dream (na versão de Chico Buarque / Augusto Boal), concentrando ali um emblemático significado para o musical: 

Vou saber que valeu delirar / E morrer de paixão / E assim, seja lá como for / Vai ter fim a infinita aflição / E o mundo vai ver uma flor / Brotar do impossível chão”...

 

                                               Wagner Corrêa de Araújo

 



Rock in Rio 40 - O Musical está em cartaz na Cidade das Artes/Barra RJ, quintas e sextas às 20hs; sábados e domingos em duas sessões, às 15 e às 19hs. Até o dia 23 de fevereiro.

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