PHILHARMONIA, A ORQUESTRA QUE EM SEU AUGE, SUPEROU AS FILARMÔNICAS DE BERLIM, VIENA E A DO CONCERTGEBOUW DE AMSTERDAM! ARTIGO DE ISAAC CARNEIRO VICTAL NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.


Era por volta do final da última Guerra Mundial quando o produtor Walter Legge formou uma orquestra dos sonhos em Londres com os melhores músicos disponíveis no Reino Unido, no intuito de oferecerem um número limitado de concertos e realizarem gravações lançadas exclusivamente pela EMI. Muito se fala de Legge e dos maestros que ele arranjou Karajan, Klemperer e Giulini, todos esses 3 gigantes estiveram estreitamente ligados ao conjunto nos seus anos iniciais, mas pouco se fala do dinheiro do MARAJÁ DE MYSORE! Por causa do generoso patrocínio desse ricaço indiano, a orquestra pode se lançar aos projetos mais ousados, exemplo a primeira gravação da Música para Cordas Percussão e Celesta de Bartok em 1949, dirigida por Karajan. O marajá gostava de música moderna e pagava por todas essas extravagâncias.

20 anos depois de fundada a orquestra, Legge achava que o conjunto não conseguiria mais se manter financeiramente. Também estava em conflito com a EMI, perdendo poder e influência dentro da companhia, o que para esse tipo era intolerável. Num rompante de loucura, o produtor fundador do conjunto decide acabar com a orquestra! Acabou mesmo foi com a própria carreira! A orquestra continuou sob o nome de New Philharmonia, sem exclusividade com a EMI, o cargo de Legge na gravadora foi para seu assistente Suvi Raj Grubb e Legge teve que se contentar em produzir discos para sua mulher Elizabeth Schwarzkopf.

Nos anos 50 até 70 a Philharmonia era incontestavelmente a melhor. Enquanto as Filarmônicas de Berlin, Viena e a do Concertgebouw se destacavam na interpretação dos grandes clássicos austro germânicos, a Philhamonia se excedia explorando todo o repertório. Do barroco à moda romântica de Klemperer, aos clássicos e românticos sob Klemperer, Giulini e Karajan, passando pelos impressionistas Debussy e Ravel com Giulini e Cantelli, Respighi com Karajan e Munch até os modernos, exemplar a gravação da Sagração da Primavera de Markevitch. Ainda realizaram históricas gravações de ópera, destaco a Aída de Muti, ou o Falstaff de Karajan. Do repertório coral, existe no catálogo da agrupação uma gravação de referência do Réquiem de Verdi por Giulini. Até música brasileira gravaram, especificamente o Momoprecoce e as Bachianas n. 3 de Villa Lobos com Ortiz e Ashkenazy. O mesmo vale para a música latino americana, com primeiras gravações de obras de Revueltas sob regência de Eduardo Mata. Também algumas das melhores gravações de grandes clássicos ingleses são registros dessa orquestra, a saber Os Planetas de Holst de Adrian Boult, a Sinfonia da Requiem de Britten, dirigida pelo próprio compositor e as Variações Enigma de Elgar por Giuseppe Sinopoli.

Em se tratando dos grandes solistas, nomes lendários como David Oistrakh gravaram peças como a Sinfonia Espanhola de Lalo sob a direção de Jean Martinon com a Philharmonia, bem como o Concerto n.1 para violino de Shostakovich sob regência de Maxim, filho do compositor. Yehudi Menuhim gravou o Concerto n.2 para violino de Bartok, Antal Dorati conduzindo. Annie Fischer gravou o Concerto n.1 para piano de Liszt, dirigida por Klemperer. Nathan Milstein gravou os concertos para violino de Prokofiev com essa orquestra, o primeiro com a colaboração de Giulini, o segundo, com a participação de Fruhbeck de Burgos.

Desafio alguém a mostrar um legado fonográfico superior ao da Philharmonia, nem a Filarmônica de Berlin de Karajan supera! E isso sendo Londres uma cidade carente de uma verdadeira sala de concertos com boa acústica, ao contrário de Berlin e Viena. Por isso as orquestras londrinas gravam em espaços alternativos, como o agora demolido Kingsway Hall, os salões da prefeitura de Walthamstow e de Watford, os estúdios da EMI em Abbey Road ou as igrejas nem sempre com acústica excelente, exemplos o Henry Wood Hall, Saint John Smith Square ou a All Saints Church, Tooting.

Isaac Carneiro Victal


Comentários