Romeo et Juliette, Ópera de Gounod no Theatro São Pedro, 10/08/2011



Ópera no Theatro São Pedro, sempre tem alguém que atrapalha.  


A obra teatral Romeu e Julieta, do dramaturgo inglês William Shakespeare, é transposta para a ópera pelo grande compositor Gounoud. O amor e a morte encaixaram perfeitamente no gosto do romantismo do século XIX. Adaptar obras de Shakespeare é uma tarefa ingrata, a complexidade e a beleza dos personagens fazem muitos se perderem pelo caminho. Os quatro grandes duetos e uma música com um lirismo tipicamente francês faz a ópera ser tão grandiosa quanto ao original teatral. 
   O Theatro São Pedro escalou o que temos de melhor em matéria de elenco. Nomes de peso do cenário lírico nacional foram convidados para as récitas. Eles não decepcionaram. Fernando Portari conhece bem o papel de Romeo, já o vi cantar o mesmo no Teatro Municipal de São Paulo em 2005. Sua voz só melhorou, ganhou corpo e  potência. Lírica e consistente em todas as passagens e notas. Mostrou um Romeo apaixonado e sedutor. Alta qualidade em toda a récita.
  Tomei um baita susto com Rosana Lamosa, sua primeira entrada mostrou uma voz fria, sem cor. Lembrei de sua apresentação no Teatro Municipal de São Paulo e pensei , o que esta acontecendo ? Felizmente tudo se acertou na sua primeira grande ária. Sua emissão voltou ao normal, seus agudos brilhantes apareceram e toda a cor sedutora de sua voz nos emocionou. Sua última ária, do quarto ato foi empolgante, cantou com vontade, correu riscos, soltou a voz. Suas coloraturas tinham todas as nuances, sinais de cansaço são desprezíveis quando uma cantora se entrega dessa forma. Que seja um exemplo para os demais sopranos, não tenham medo de arriscar. Uma bela apresentação que emocionou demais. 
   A escolha dos comprimários foi acertada, todos em estado de graça. Leonardo Neiva esteve excelente como Mercutio. Uma voz segura, com grande beleza tímbrica. Saulo Javan mandou bem como Frere Laurente e a voz pequena e de belo timbre de Alzeny Nelo encantou a platéia.
   A leitura da partitura por Luis Gustavo Petri é de música extremamente forte nas cenas dos Capuletto e Montecchio e de delicadeza nas cenas entre Romeo e Juliette. A sonoridade soou volumosa demais nos atos ímpares e lírica nos pares, ouvem-se todas as nuances em detrimento das vozes dos cantores. Visão diferente e interessante da obra.
   Vinicius Torres Machado inventou moda, fez os coristas serem engraçados, em uma obra romântica, com movimentos esquisitos no primeiro ato. Todos mascarados como nos carnavais de Veneza, já ia me esquecendo, o romance se passa em Verona. Alguns jogam golfe, outros Basebol e os do fundo têm a roupa de açougueiro ensangüentada. Colocar os cantores pra se apresentar no meio da platéia já virou um clichê, a cama com o lençol vermelho é uma idéia comum. Falta de unidade na concepção, palhaços adentram as cenas sem a menor necessidade e um deles dá um grito ensurdecedor e anuncia o início do ato. Tudo sem nexo , que não contribui para o desenvolvimento do enredo. Depois falam que eu sou chato e ameaçam processo. Essa é a verdade nua e crua, uma concepção equivocada da obra.
   Os cenários são simples e funcionais, os figurinos oscilaram entre o interessante e o maluco e a luz regular. O início da ópera ,as 20:00 horas, fez com muitos se atrasassem, depois do primeiro ato o teatro lotou e todos se maravilharam com a grande música de Gounod. A tradição prevalece e os solistas vão receber os cumprimentos do respeitável público, todos se beijam e se abraçam em uma grande confraternização. Os mais empolgados tiram fotos para postar nas redes sociais, mas quem escreve crítica de ópera não tem nada a ver com isso. 
Ali Hassan Ayache  

Comentários

  1. Nada a acrescer ou mudar, Ali!, Análise perfeita e no ponto. Concordo integralmente com ela. Parabéns!.
    demi

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  2. Romeu Julieta no Theatro São Pedro em 10.08.2011
    Tito Verdi di Pietro - tito.pietro@terra.com.br
    Lindíssimo espetáculo. Vale a pena assistir. Adorei tudo, menos a direção cênica e cenografia, cujos detalhes menciono abaixo.

    O elenco de solistas é de primeiríssima linha.

    O desempenho da Julieta de Rosana Lamosa foi lindo, embora me parecesse que alguma coisa não estava bem com ela no início. Artista experimentada, ela deu o máximo de si e superou o que quer que a estivesse perturbando. Alguém cogitou que ela está grávida. Será?!

    O Romeu do Fernando Portari foi vocalmente muito bonito, ainda que ele não parecesse estar tão apaixonado pela sua Julieta. Se seus agudos lembram o esforço do Carreras, todos saíram à contento.

    O papel do Frei do Paulo Javan, ao contrário dos papéis que eu assisti em outras óperas, proporcionou à ele uma excelente oportunidade para demonstrar seus dotes vocais, com um belíssimo timbre de sonoridade muito agradável e um pleno domínio da voz, mesmo nas notas mais graves. Pena que o mesmo tenha sido obrigado a usar um chapéu, uma capa e um crucifixo estapafúrdios e injustificáveis. O gestual que lhe foi imposto também foi esdrúxulo e meio apatetado. Felizmente sua bela voz superou todas estas besteiras.

    O Mercúcio de Leonardo Neiva foi apaixonado e encantador, valorizado pela beleza de sua voz e pela interpretação. Pena que Mercúcio morre logo no início, privando-nos de usufruir melhor os dotes do Leonardo.

    A Alzeny Neto arrasou com seu Stephano. Ela utilizou lindamente sua pequena voz de uma forma que encantou a platéia, haja visto o incremento dos aplausos ao final da apresentação. Fiquei com uma vontade enorme de vê-la fazendo o Oscar do Baile de Máscaras de Verdi: estou convencido de que seria um arraso.

    Assim como o Saulo Javan, o papel do Conde Capulet deu ao Ademir Costa uma oportunidade maior de demonstrar seus belos recursos vocais, com uma voz de timbre encantador e o perfeito domínio técnico da mesma.

    O Fábio Siniscarchio brilhou com seu Tybald, valorizado pelo timbre e técnica de sua bela voz. Cênicamente foi um dos melhores.

    A Fernanda Nagashima interpretou uma Gertrude de maneira especial, apesar do seu tipo físico não ser o mais adequado para interpretar uma ama madura.

    A curta interferência do Duque de Verona nos privou de ouvir mais sua bela voz, mas enriqueceu o espetáculo de forma marcante.

    Apesar de curtas intervenções, as vozes do Daniel Germano, como Conde Páris, do André Angenendt, como Gregório e de Pedro Vaccari como Benvolio, enriqueceram esta belíssima apresentação.

    O desempenho do coro e da orquestra foi delicioso e encantador, pelo que parabenizo seus componentes e maestros, Luis Gustavo Petri e Teresa Longatto.

    Não gostei da direção cênica e da cenografia. Ressalto, porém, ter gostado da oportunidade e dos recursos de luz da cena inicial, em que Romeu e Julieta aparecem estáticos junto do coro.

    A idéia de incluir os palhaços não foi de todo má, mas faltou o talento de um Zefirelli ou de um Tacla para desenvolvê-la de formas mais coerente e agradável. No todo ficou um besteirol sem sentido e até mesmo atrapalhando e tirando o foco das cenas.

    Os cenários, e/ou a falta deles, deixou muito a desejar, culminando com uma horrível varanda da Julieta, feia, deslocada e sem fazer sentido com o texto cantado na ocasião.

    Os açougueiros, os tacos de golfe e de baseball não chegaram a prejudicar a encenação, mas foram recursos sem razão de ser no contexto da obra.

    Horrível também a aparência da cama de Julieta, levada para sua tumba e que depois atrapalhou demais a apresentação final dos participantes na já pequena boca-de-cena deste Theatro.

    Inteligível e horrível foi o “colar” da noiva Julieta. Que falta de gosto. Teria sido menos chocante pendurar uma melancia no pescoço do personagem.

    Tudo somado, porém, foi um espetáculo maravilhoso, que eu gostaria de rever.

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  3. Entristeci-me quando uma pessoa, mesmo que rotulado com o título de crítico, tenta destruir o trabalho de uma pessoa porque esta na verdade, conseguiu enfim sair do óbvio. O espetáculo de ontem mostrou para muitos que ópera não precisa ser algo para idosos ou para elite, ou para os dois. Graças a Deus, a direção cênica, mostrou que é possível sim, divertir-se ao mesmo tempo em que uma tragédia acontece. Emoções não são independentes, podemos sofrer e sorrir ao mesmo tempo, e foi essa difícil mistura de sentimentos que ontem nos foi colocada.
    Palhaços em uma ópera talvez possam ser invenção de moda, mas talvez possam ser algo novo, algo que toque mais, algo que una o público, algo que alegre, algo que saia do comum. Acho que mais do que fazer uma crítica simplista como a sua, é preciso pensar mais, estudar mais, sentir mais. Não podemos sentar em uma cadeira e apenas esperar mais do mesmo. Quem sabe assim, com uma nova postura, poderemos ler textos e críticas que, como na ópera de ontem, fujam do óbvio. Pense bem, quem sabe assim você possa também inventar uma moda, uma moda melhor do que as antigas.
    Obs.: espero que esse comentário, mesmo sendo contra a sua crítica, não seja bloqueado, e possamos assim continuar com uma discussão saudável com outros leitores deste blog, o que imagino seja a função deste meio.

    Gustavo

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  4. Em qual esfera uma crítica se baseia no gosto pessoal? Ser crítico significa ter propriedade, conhecimento, domínio sobre o assunto. Basear uma "crítica" em opinião pessoal, para mim, é ignorância e prepotência. Só algumas considerações: "corista" foi o papel que Whoppi Goldberg interpretou em 'Mudança de hábito'. O termo é 'coralista', ou simplesmente 'coro', já que são todos cantores. Faltou esclarecer ao Sr. Ali Hassan Ayache que Vinicius Machado é diretor de teatro e soube muito bem o que fez. Isso é claro para quem tem a menor noção do que é teatro. Posso lhe indicar uma boa bibliografia a respeito. Leia sobre o teatr...o renascentista italiano, pra começar. Existe uma coisa em teatro chamada caracterização, alguns chamam estilização. Mas 'movimentos esquisitos' não é um termo técnico...Ser 'apreciador de ópera, creio, não lhe dá nenhuma propriedade sobre o assunto. Deixe isso para os entendidos...Ai que saudades do Sérgio Casoy!
    Angelica Menenzes

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  5. Eu gostaria de saber se você realmente entendeu a ópera. Porque não é o que parece. Me perdoe a franqueza, mas para quem se diz tão conhecedor não entender o que os palhaços significavam me espanta. Ao invés de criticar que tal ir assistir sem preconceitos para poder entender realmente o que as coisas querem dizer? Parece que estou lendo uma crítica de um adolescente de colegial. Lamentável….
    Camila

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  6. Camila, o que mesmo significavam os palhaços? Por favor explique aos ignaros, que foram ver Romeu e Juleita, peça de um autor inglês bem conhecido, transmudade em ópera pelo Gounoud...

    Angelica, invertendo a sua lógica, se você é erudita em teatro isso não a habilitaria, autmaticamente, a ser ter opiniões profundas sobre ópera. Ópera é, mais que teatro, música e canto. Além de um enredo, logicamente. É claro que Shakespeare "falhou" ao não incluir palhaços no seu Romeu e Julieta e Gounoud caiu na mesma armadilha, mas os novos encenadores sempre poderão reparar essas falhas, do alto de sua (deles) intelecção superior, a que os pobres Shakespeare e Gounud não teriam tido, nem acesso nem inspiração... Menos... menos..
    Ah, e crítica é sempre uma atitude e postura pessoal. Não há crítica "participativa", ou "democrática", ou "pluralista"...

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