A Arte do Canto - Maria Bayo e os ecos do Rigoletto.


   Frequentadores de teatro lírico formam, muitas vezes,  uma confraria. Os confrades que estiveram no Theatro São Pedro no dia 16 de Setembro,  para o concerto da Maria Bayo,  comentavam o Rigoletto,  em cartaz no Teatro Municipal de São Paulo. A maioria estava revoltada com os solistas e com a encenação, soltavam marimbondos africanos pela boca. Um senhor, com seis décadas de experiência nas costas, me pergunta qual o melhor Rigoleto do Municipal de São Paulo.  Fico pensando, vou puxando pela memória alguns que se apresentaram nesse teatro e que eu não vi. Chuto: Tito Gobbi, Juan Pons e Fernando Teixeira. Com um sotaque carregado no italiano ele me diz que o grande Rigolleto do Teatro Municipal de São Paulo foi Aldo Protti,  que se apresentou em 1960. Para ele, esse foi o melhor de todos os tempos em São Paulo. O tal senhor não se conformava, desejava que todos os solistas pegassem uma bela pneumonia no espelho d'água do terceiro ato. "Onde já se viu, bater na porta virou encher a mão na água, ora essa!"
  Voltemos ao São Pedro.  Maria Bayo apresentou,  com a Orquestra do Teatro, um repertório com músicas de Handel e Mozart. Tenho uma dezena de gravações com ela, minha expectativa era grande. Entrou um pouco fria na ária "Tornami e vagheggiar",  da ópera Alcina,  de Handel, melhorou substancialmente na ária "Piangerò a la sorte mia" da pérola do barroco,  Giulio Cesare in Egito. Daí pra frente,  mostrou todo seu talento de intérprete. Soltou agudos claros, numa voz que seduz pelo lirismo, pela leveza e clareza na emissão das notas. Cantou com a segurança que só os grandes sopranos do mundo possuem. Seu melhor momento foi em Mozart, "E Susanna non vien... Dove Sono",  acelerou o tempo da música e nos proporcionou uma emotiva interpretação da ária das Bodas de Figaro. Da ópera Don Giovanni,  escolheu a ária "In quali eccessi... Mi tradi..." da personagem Donna Elvira.  A leveza e a clareza de sua voz se mostram incompatíveis com essa ária: para seu tipo de voz encaixa melhor a personagem Donna Anna.
   A jovem Orquestra do Theatro São Pedro apresentou musicalidade correta e sonoridade de volume preciso. Roberto Duarte entende do assunto, conseguiu boa sonoridade para uma orquestra recém formada. Na saída reencontrei o confrade, o homem estava animado. Dizia em voz alta  -  italianos e descendentes adoram falar alto -  "Isso é soprano belo, não aquilo que apresentaram no Municipal. Uma ária dessa moça vale mais que todo o Rigoletto de ontem." Não titubiei, disse a ele  - "Esta bravo com o Rigoletto,calma, as Valquírias estão chegando" .


Ali Hassan Ayache

Comentários

  1. conheço bem esses caras que t^^em um ícone que idolatram e passam a vida lembrando disso, nada mais presta, tudo é ruim, só o Protti é bom... Aqui em Curitiba vivia cheio deles, mas todos já se foram para encontrar seus ídolos no paraíso... Tinha um que só falava em Caruso, outro em Toscanini, aquele era Callas pra cá, Callas prá lá... Bem,pelo menos eles tinham suas Callas... nós hoje em dia somos meio órfãos...

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  2. De facto, existem por todo o lado. Acho que é outro dos componentes peculiares do mundo da ópera.

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  3. Eu adoro Rigoletto. Não precisa nem cenário, nem figurino especial. Muito menos espelho d'água...

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  4. pelas várias críticas que já li de sua pessoa, tenho a certeza que o senhor permanece constantemente atrás do espelho. quem esteve no Theatro São Pedro para assistir Maria Bayo escutou, infelizmente, o oposto da sua festiva e duvidosa crítica.

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