DON PASQUALE, TEATRO SÃO PEDRO/SP - 02/09/2011.
A idéia de montar uma ópera, guardar a montagem para fututras exibições é comum em diversos países. No Brasil, esse salutar habito, esta começando a ser empregado. O Theatro Municipal de São Paulo já tem diversas óperas em seu repertório, o Theatro São Pedro segue o mesmo caminho. A montagem da ópera Don Pasquale de Gaetano Donizetti é apresentada pela terceira vez em um curto espaço de tempo no Theatro São Pedro. Inumeráveis são os benefícios dessa ação para a ópera e o público.
Os comentários sobre a récita do dia 02/09/2011 pouco diferem da análise do dia 24/08/2010. A ópera cômica troxe muitos acertos: tivemos boa música, produção adequada, direção criativa, cantores excelentes, cenários simples e um público satisfeito. O que mais pode desejar um apreciador do canto lírico?
Começemos pela a orquestra. Poucos maestros entendem que ópera é diferente de concerto, essa arte exige uma sonoridade peculiar. Cada teatro tem suas especificações, conseguir um volume e sonoridade adequados torna-se tarefa árdua. O Theatro São Pedro tem dimensões pequenas, não se pode tocar nele como se estivesse no Municipal do Rio de Janeiro ou no Scala de Milão. Vito Clemente, proveniente da terra da pizza e do macarrão conseguiu, mais uma vez, captar a sonoridade ideal. A Orquestra do Theatro São Pedro soou perfeita, o homem acertou a mão. Seu ritmo combina com o dramatismo e a comicidade da obra, sem exageros, sonoridade e tempos impecáveis.
Os solistas mostraram boas performances. O baixo Saulo Javan mostrou um Don Pasquale de graves cheios , encorpados e muitas vezes ágeis, interessantes para o persongem. Inácio de Nonno fez um Malatesta engraçado, de voz cheia e graves generosos. A Norina de Rosana Lamosa tem um belo timbre e técnica apurada, sua voz é lírica, suave . O tenor Fernando Portari prova porque faz larga carreira internacional, seu vozeirão tenoril é luminoso, timbre sedutor que emite as notas com facilidade. Grande apresentação. O engraçado, hilário e inesperado é a atuação de Paulo Ésper: seu tabelião é um bêbado desengonçado, que anda com uma pinga Velho Barreiro (até a garrafa é coisa fina) e faz um belo casamento de mentira. Valeu Paulo, você que colocou tantos para cantar, mandou bem na sua vez.
A direção do lendário baixo Enzo Dara é criativa e tem boas idéias. Simples e convencionais, mas interessantes e dinâmicas. Movimenta toda a galera, dos solistas ao coro. Respeita o texto e não inventa moda. Para a mudança do cenário coloca os cantores perto do fosso, desce um painel ou fecha a própria cortina, assim mantém o andamento e a fluência do enredo. Faz os solistas cantarem e atuarem em diversos lugares, utiliza toda a extensão do palco e muitas vezes transporta a ação para as cadeiras, pertinho do público. Apoiado a cenários básicos e figurinos interessantes, consegue uma história bem contada. Entende que essa ópera é cômica e faz de tudo para tirar risos do espectador. Impagável o dueto de Malatesta e do Don Pasquale, ambos cantam trechos de grande agilidade mexendo o chapéu com uma bengala. Bravo Enzo Dara.
Algumas provas incontestáveis aparecem nesse Don Pasquale: a Orquestra do Theatro São Pedro está excelente. Produção e direção precisam ser criativas, podem ser simples e baratas, boas idéias compensam o luxo. No Brasil existem excelentes solistas, poderiam estar cantando nos grandes teatros líricos do mundo. Ópera de título conhecido atrai público e remontá-las barateia os custos . Espero que a direção faça o mesmo com outros títulos apresentados, espero que as óperas que estiveram e que estarão em cartaz sejam apresentadas diversas vezes. O Theatro São Pedro pode começar a montar seu próprio repertório.
Ali Hassan Ayache.
O que o senhor tem contra "inventar moda"? Quer ver sempre a mesma velha montagem, as mesmas velhas soluções, os mesmos velhos convencionalismos, o mesmo velho gestual? Por favor, que venham novas modas, para dar um novo sopro de vida à ópera! Tudo o que ela precisa é justamente de re-invenção, e de novos títulos.
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