Menino Peralta: L’ Enfant et les Sortilèges ou O Menino e os Sortilégios
L’ Enfant et les Sortilèges ou O Menino e os Sortilégios em português é denominada como fantasia lírica. Maurice Ravel (1875-1937) levou vários anos elaborando a obra, brigou com a libretista , rasgou esboços e por fim conseguiu uma musicalidade única. Toda a peça é uma miscelânea de números irônicos. Muitos lembram o século XVIII , passam pelo romantismo do século XIX e terminam no ragtime estadunidense. A união desses números está no libreto que nos leva ao mundo da imaginação.
Um garoto peralta, que precisa de umas boas palmadas, faz toda a espécie de travessuras. Todos se revoltam: móveis , animais e elementos naturais. No decorrer da peça surpresas e mais surpresas. Um grande trabalho que agrada ao público de todas as idades. A récita do dia 13/10/2011 comprovou o gosto do público pela ópera.
A produção acertou em cheio.Cenários condizentes com o enredo, que fazem a imaginação viajar para outras esferas. Crianças encantadas e marmanjos felizes com uma variedade de cores e técnicas teatrais. Figurinos impecáveis, desfilaram todo o tipo de recurso cênico: Luz negra, projeções e objetos de tamanho enorme realçaram a encenação. Lívia Sabag entendeu o contexto, movimentou de maneira inteligente e perspicaz todos os cantores, deu uniformidade e transformou a obra em um belo conto de fadas. O coreografo Luiz Fernando Bongiovanni arrasou, seu ponto alto foi a Dança das Rãs.
O tema da obra pode ser infantil, mas a partitura não tem nada de fácil. Jamil Maluf soube com uma sensibilidade que lhe é peculiar explorar todas os temas com precisão. Volume e medidas certa, deixou os cantores livres. Fez uma leitura clara e precisa.
Os solistas estiveram em noite inspirada. Denise de Freitas fez um Menino mais que peralta, sua voz volumosa e com graves fartos é ideal ao personagem. Luciana Bueno com sua voz única, luminosa e recheada de graves penetrantes foi uma grande mãe+ chicara chinesa +libélula. Caroline de Comi assumiu 3 personagens, o fogo+a princesa e o rouxinol, uma voz de agudos brilhantes , únicos e marcantes. Luiza Francesconi foi mais um destaque, cantora inspirada. Destaque positivo para os solistas: Gabriela Pace, Leonardo Pace e Paulo Queiroz.
Não entendo o porquê da tradução do libreto para o português. Sou a favor da manutenção da língua original. A concepção da obra é única, sagrada. Os ingleses tem essa mania, Janet Baker fez um Giuliu Cesare in Egito de Händel em inglês , nem sua grande voz conseguiu salvar a obra. Com a tradução perde-se a musicalidade da peça, o português não é uma língua musical como o francês. Fica esquisito e se a intenção é facilitar o entendimento por que colocam as legendas? Porque a maioria não entende o que está sendo cantado.
Nada justifica um atraso de 15 minutos para o início do espetáculo. Não me importo que crianças falem , comentem com as mães os detalhes , as alegrias e mazelas do que se passam no palco. Conversar o tempo todo é uma afronta. Na cena do fogo um guri se assustou e soltou o berreiro, os pais do garoto sequer o tiraram do recinto, deixaram que ele chorasse à vontade. O público respeitou a regra de não tirar fotos, grande evolução. Na ópera João e Maria de Humperdinck os flashes eram constantes.
Ali Hassan Ayache
Ali Hassan Ayache
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