Crônicas operísticas: Todos somos atores no Theatro Municipal de São Paulo. Die Walküre (A Valquíria) do dia 23/11/2011.
Taetro Municipal de São Paulo
Quando vou ao teatro de ópera não é só apresentação que conta. O publico diz muita coisa. Todos no teatro de ópera se transformam, cada um faz seu tipo, quer mostrar um ar de intelectualidade, muitas vezes de superioridade. Sinto que para muitos a récita é o menos importante. Ver e ser visto, mostrar o mais moderno aparelho de telefone celular, contar aos amigos que foi ao teatro e dissertar sobre a produção e vozes, dar uma de entendido, isso é o legal da coisa. O burburinho das pessoas no longo intervalo, pena que não da pra conversar durante a apresentação, ai seria uma farra geral.
Na noite de ontem me deparo com as figuras de sempre. Cantores que vão prestigiar os colegas tem aos montes, pessoas tirando fotos nas escadarias do Theatro Municipal de São Paulo esta virando um ritual de passagem . Os saudosistas, que sempre lembram algum grande tenor ou soprano que passou pelo palco do teatro carimbaram sua posição. Sem esquecer os atrasadinhos, os que querem um lugar melhor, os que deixam o celular ligado (Hello Motto), os que adoram filmar a récita e aqueles que tentam descolar um ingresso de graça, sempre tem alguém com um sobrando.
Afirmo categoricamente, cada um no teatro de ópera tem seu tipo. Baco ou Dionísio, deus grego do êxtase e do entusiasmo, deus do vinho e dos atores, não é incorporado apenas pelos artistas. Todo o publico é um ator nato, fiel em sua representação única, muitas vezes estranha, comovente, mas verdadeira. No Municipal de São Paulo cabem mais de 1500 pessoas, temos uma enormidade de figuras pitorescas, muitas delas exóticas, parecem saídas de um romance de Dostoievsky .
Cena da Valquíria
Me chama a atenção uma bela jovem, acompanhada do namorado bonitão e da mãe recheada de cirurgias plásticas e botox. A moça é de uma beleza monumental, aquela que por onde passa os olhares se fixam. Seios fartos com um vestido que os deixam tentadores, cabelo louro digno de uma Isolda, mais de 1.80 de altura e um sorriso excitante. Os homens babam, as mulheres morrem de inveja e no fundo todos queriam possuí-la: homens e mulheres. Quem não quer uma garota assim! Eu quero.
No saguão ela tira fotos com o namorado, passeia pela escadaria feliz da vida, afinal de contas, vai assistir a uma ópera de Wagner. Imagina o que as amigas pensarão dela, haja ar de inteligência, o “Face” vai bombar amanhã. Depois de saborear alguns petiscos a família feliz vai ao camarote, senta-se no primeiro, pertinho do palco. Esse é um dos piores , é difícil ver as legendas. Lê o programa com ar concentrada. Quando começa a apresentação ela se altera, aquele sorriso já não é tão simpático, a cara de bons amigos da forma a um jeitinho bravo. Até assim a danada é bonita. Diferente da maioria do publico que ficou até o fim , ela , namorado e mamãe não passaram do segundo ato. Fazer o que , agüentar 5 horas de música incomoda os ouvidinhos da beldade.
Rega bofe do Municipal
Vou falar da ópera antes que alguém reclame. Um casal conversa amorosamente próximo a minha poltrona. Tinham lido que seria uma Valquíria brasileira, ela indaga surpresa que não viu nenhuma menção ao samba ou ao futebol. Percebeu que o diretor abrasileirou de forma inteligente, a orquestra continua muito boa, os solistas são os mesmos, a qualidade vocal do soprano Janice Baird como Brünnhilde caiu em demasia por motivos de doença. Eiko Senda tem voz especial e canta Sieglinde muito bem. Esse casal é uma das raridade que existem na vida. Antes de assistir a ópera pesquisaram sobre o tema, trouxeram um exemplar da coleção da Folha , me perguntam se a tuba que esta tocando é mesma que foi elaborada por Richard Wagner para o ciclo do Anel.
Sou pego de surpresa, fiquei aterrorizado, quem faria uma pergunta dessas, só quem entende do riscado. Sinceramente, não faço a menor idéia se a tuba é mesma que foi elaborada pelo grande compositor alemão. Um casal desses dignifica a récita, me disseram que pesquisam antes de assistir a qualquer espetáculo. Se todos fossem assim teríamos discussões acaloradas no teatro, o pau quebraria entre alguns, seria divertido. Afinal de contas, alguém de vocês sabe qual tuba foi usada?
Tuba wagneriana.
Ali Hassan Ayache
Brilhante CRÔNICA , Bravo!
ResponderExcluirAmanhã à noite vou poder verificar se usaram as tubas wagnerianas previstas no original ou se usaram trombones diferenciados no lugar.
ResponderExcluirCaro Ali, a OSB - Orquestra Sinfônica Brasileira tem a honra de estra emprestando as suas tubas wagnerianas para essa fantástica encenação de "A Valquíria" no Teatro Municipal de São Paulo. Excelente concepção e direção do brilhante André Heller, um elenco de solistas de primeira, uma direção musical primorosa do grande Luiz Fernando Malheiros e uma primorosa produção coordenada pelo extraordinário Pablo Castellar, com quem tenho o orgulho de compartilhar a Direção Artística da OSB.
ResponderExcluirBRAVI TUTTI!!!!!!
Eu vi as tubas wagnerianas no primeiro ato. Vi um par delas, ao lado da tuba comum. No 2º e 3º atos, por alguma razão, não as vi mais. Havia trompas onde estavam as t.w. Não sei se mudaram de lugar, se foram mais para o fundo. De onde eu estava não as pude ver mais. E que legal que a OSB emprestou os instrumentos!
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