A explosão amorosa da Valquíria no Theatro Municipal de São Paulo.
Prosseguindo as comemorações de seu centenário, o Theatro Municipal de São Paulo apresentou a monumental ópera de Richard Wagner, Die Walküre (A Valquíria) no último dia 17/11/2011 . Segunda parte de uma tetralogia conhecida como Der Ring des Nibelungen (O Anel do Nibelungo). Baseada em lendas nórdicas , a obra é de grande complexidade , tudo nela é grandioso. Desafio para todos os profissionais envolvidos e para o publico, agüentar mais de 4 horas no teatro virou tarefa hercúlea no século XXI. Nosso maior teatro e o público tirou de letra essa aventura Wagneriana.
A direção de André Heller-Lopes é extremamente feliz nos conceitos e nas ideias centrais. Faz Siegmund e Sieglinde se apaixonarem ao primeiro olhar. A intensidade da paixão só aumenta no decorrer da récita. Vestir a personagem Sieglinde de muçulmana, ressaltando o véu, mostra a opressão que ela sofre do marido. Remete as mulheres oprimidas do oriente médio ou à todas as mulheres oprimidas . Grande sacada. O personagem Hunding , marido de Sieglinde, lembra um sacerdote e chega acompanhado de sua silenciosa trupe. Outra bela idéia. A cena final do primeiro ato é um primor de ousadia e criatividade. A moça se rebela e o símbolo dessa rebeldia é a tirada do véu. Termina deitada na mesa com o amante e ao mesmo tempo irmão. Um primeiro ato Perfeito.
Os cenários são assinados pelo diretor, o primeiro ato está em dois níveis. Uma bela árvore divide a cena, a raiz é a parte inferior e o caule é a superior. Mudanças de cores em uma luz equilibrada realçam as movimentações cênicas. O segundo ato mostra os ex-votos de Aparecida do Norte (SP), cenário carregado e estreito. A movimentação dos cantores expressou os sentimentos dos personagens. A morte de Siegmund por Hunding é feita com um bastão de basebol, acompanhado de toda sua turma o marido traído arrebenta com o herói wagneriano. Wotan depois derruba todos, um a um eles vão caindo como bonecos. Muito interessante.
Os cenários são assinados pelo diretor, o primeiro ato está em dois níveis. Uma bela árvore divide a cena, a raiz é a parte inferior e o caule é a superior. Mudanças de cores em uma luz equilibrada realçam as movimentações cênicas. O segundo ato mostra os ex-votos de Aparecida do Norte (SP), cenário carregado e estreito. A movimentação dos cantores expressou os sentimentos dos personagens. A morte de Siegmund por Hunding é feita com um bastão de basebol, acompanhado de toda sua turma o marido traído arrebenta com o herói wagneriano. Wotan depois derruba todos, um a um eles vão caindo como bonecos. Muito interessante.
O terceiro ato é de uma leveza única, com painéis negros e esfumaçados. Colocar os Cavalhadas de Pirenópolis (GO) na cavalgada das Valquírias é interessante. Profusão de cores na cena, moderna e bem brasileira. As Valquírias, trazendo os heróis mortos , quase nus e vestindo-os com roupas dignas é outra parte memorável da abertura do terceiro ato. Grande direção, digna de ser apresentada em qualquer grande teatro lírico do mundo. Modernizou a obra, acrescentou questionamentos e mesmo assim se manteve fiel a Richard Wagner.
As vozes estiveram niveladas pela excelência. Surpreendi-me com o tenor Martin Muehle, voz wagneriana por excelência. Escura e com grande beleza tímbrica, sustenta as notas no limite. Agudos possantes e vivos. Canta e interpreta de forma genial, coloca a alma no canto. Um Siegmund completo. Outra surpresa foi o soprano Lee Bisset, sua Sieglinde tem voz quente, de qualidade superior, dramática , ora forte , ora leve e delicada. Tudo de acordo com as necessidades do momento. Belos dotes cênicos.
O Hunding de Gregory Reinhart mostrou um belo timbre nos graves, mas não chega a empolgar. Janice Baird começou fria em sua participação como a Valquíria Brünnhilde. No terceiro ato melhorou, mostrou agudos luminosos . Um grande soprano que poderia ter rendido mais. Stefan Heidmann fez um Wotan com grande credibilidade, graves cheios e escuros com consistência do começo ao fim da apresentação. Sua voz não tem o peso ideal para o personagem, a compensação está na bela técnica e no timbre escuro. Denise de Freitas arrasou, sua Fricka tem voz áspera, perfeita para uma mulher chata , que inferniza o marido infiel. Graves potentes e sólidos realçaram sua apresentação.
A Orquestra Sinfônica Municipal nas mãos de Luiz Fernando Malheiro esteve impecável, tocou com sonoridade wagneriana ímpar. Os metais mostraram uma uniformidade única, as cordas foram marcantes e as madeiras líricas. Volume e tempos corretos fizeram a apresentação ser uma das melhores dos últimos anos da orquestra paulistana.
Nem tudo são flores em uma grande apresentação. O programa só foi distribuído entre o segundo e o terceiro ato e em quantidade insuficiente, alguns o disputaram a tapa. Fazer um intervalo de 45 minutos , entre o primeiro e segundo ato. Para os mais abastados jantarem, atrapalha aqueles que dependem de transporte publico. Lembro que a récita terminou após a meia noite.
Previ que a maioria não ficaria até o final da apresentação. Minha preocupação era a complexidade da história, a dificuldade de deglutir a música de Wagner e o longo tempo da recita fizessem o teatro esvaziar. Quebrei a cara. Plateia concentrada e fixa se manteve fiel até o fim. Foram embora os que dependiam de transporte público. Uma pequena minoria que não pode acompanhar o fim grandioso da ópera. Labaredas envolvem a Valquíria Brünnhilde, os painéis se fecham sobre ela, a espera de um herói que a retire desse sono será grandiosa.
Ali Hassan Ayache
Belo texto Ali, muito obrigado! Quase assistimos à récita.
ResponderExcluirMuito revoltante ler uma crítica onde se percebe que foi escrita por alguém totalmente ignorante no assunto...
ResponderExcluirResumindo o que assisti na récita de 17/11:
Como em toda espetáculo, parece que as pessoas com tosse resolvem ir ao teatro por não ficar tossindo em casa... comentários durante a cantoria, como se falar baixo não atrapalhasse as pessoas ao redor... barulho de bolsas e pulseiras... irritante...
O programa não estar pronto a tempo, foi realmente uma falha imperdoável...
Cenário: bonitinho no primeiro ato... cenário estranho no segundo ato... orquestra razoável, tocou "direitinho"... regência sem muita sutileza... no geral, a interpretação cênica foi fraca, muuuuuito fraca...
Nâo vou falar de cada cantor, que no geral foram nota 6 (de 0 a 10)... mas de dois que foram destaques: O Tenor Martin Muehle fez uma apresentação interessante, sua técnica e bela voz nos fez não prestar muita atenção a atuação cênica um pouco fraca... por outro lado, Denise de Freitas fez uma péssima, senão a pior Fricka que já assisti, sem falar da horrível parte cênica, nunca ouvi no teatro uma voz tão feia e estranha... uma mezzo leve querendo se passar por uma contralto possante, resultado: musicalidade zero, cantou empurrando todas as notas, quase colocando as tripas para fora, uma voz agoniante de se ouvir, mesmo sabendo que estava cantando em alemão, não era possível se entender nenhuma palavra, tamanho engolamento...
Ou seja: não valeu o ingresso de R$70. E o teatro que já não estava lotado desde o início, ao contrário da inverdade escrita na crítica, foi-se esvaziando a cada intervalo...
Uma vergonha!
Qualquer ópera do Anel é grandiosa e empolgante, seja no todo, seja em cada um de seus muitos detalhes
ResponderExcluirVi a montagem de Manaus, de Malheiro, e gostei muitíssimo, fiquei emocionado com a qualidade da apresentação no lindo Teatro Amazonas. Não acredito que esta do Municipal tenha ficado aquém, afinal de contas, André Heller é experiente e criativo, e Malheiros tem uma perfeita compreensão da escrita wagneriana. Não acredito que sua regência tenha sido "clomo sutil", como diz o "fantasma da ópera". Quem sabe esse "fantasma" não estava um tanto assombrado???
Digo: POUCO sutil
ResponderExcluirGostei do que assisti nesta seXta-feira, dia 25.
ResponderExcluirA Orquestra e os solistas: Impecáveis (100%) e a concepção cênica: bastante inovadora (85%).