Marcus Góes no Blog de Ópera e Ballet: O que é uma "Voz Calante" .

voz-calante 
O verbo “calare” em italiano quer dizer fazer descer, cair, arriar, vir para baixo e outros significados.

Não quer dizer calar como em português, como em “calar a boca”, entrando aí em italiano o verbo “tacere”. Em português, o “calare” italiano tem parentes cognatos. Quando os de Marinha dizem que uma embarcação “cala” cinco metros, querem dizer que o calado da embarcação é de cinco metros, ou seja, que a parte da embarcaçao EMBAIXO do nível da água tem a medida máxima de cinco metros.
Perguntarão  estarrecidos  os leitores: mas que significa esse delírio náutico-linguístico em um site de música ? Calma, pedir-se-á a esses leitores. Vamos chegar lá.
É comum entre os profissionais avançados e acostumados do canto e da ópera comentar que uma determinada nota esteve “calante”, copiando em todos os países a expressão italiana para definir uma situação em que um cantor não alcança geralmente uma nota superaguda e a emite em altura um pouco abaixo do correto, quase sempre sem chegar a um semitom a menos. Isso ocorre na maioria das vezes com os sopranos, principalmente em óperas italianas.
Tal fato NÃO é geralmente percebido pelo público, que quase sempre não tem familiaridade nem com as partituras, nem com a exatidão da altura das notas. Já se viu muitos sopranos “CALAREM” todos os superagudos em uma ópera e serem aplaudidos com entusiasmo ao final da ópera ou de cada ária.
Por estes dias, uma gentil amiga trouxe à  minha casa para que, em reunião de cantores, se assistisse em CD à ópera NABUCCO, de Verdi, em gravação feita na Ópera de Viena em 2005, com o soprano MARIA GULEGHINA no dificílimo papel de Abigaille. Não se deve julgar atuação de cantores por gravações, mas estas servem para avaliação de afinações e “CALAÇÕES”.
Quem quiser saber  o que é emitir notas calantes e familiarizar-se um pouco mais com as óperas, procure adquirir ou alugar a tal gravação em CD. O soprano MARIA GULEGHINA, na gravação, cala todos os dós superagudos, que são justamente o ponto de atração e espectativa maiores de toda a ópera.
O público em NABUCCO geralmente desconhece que o X do problema dessa ópera são os superagudos que cabem ao soprano protagonista, colocados por Verdi nos dois primeiros atos, ocorrendo no mais das vezes uma avaliação distorcida sobre a atuação daquele soprano por se valer este das possibilidades muito mais confortáveis dos demais atos. Um pouco de belcanto aqui, um pianíssimo ali, uma “mezza voce” e efetivo “acting” nesses demais atos  já salvaram muita Abigaille calante e até omitidora dos dós naturais dos dois primeiros atos.
Comprem ou aluguem, ouçam e confiram: NABUCCO, Ópera de Viena, com Leo Nucci e Maria Guleghina e outros, regente Fabio Luisi, selo TDK.
Boa sorte a todos.
VA PENSIERO, SULL´ALI DORATE…
MARCUS GÓES – OUTUBRO 2011

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