A ÓPERA NA LITERATURA: UMA INÚTIL PRECAUÇÃO.

Série de encontros reunirá expoentes de literatura, música e teatro em torno da contribuição da literatura à opera.

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A ópera está – definitivamente – na moda e não há quem possa negar tal evidência. O sucesso estrondoso das exibições, em cinemas de todo mundo, das produções do Metropolitan Opera House, de Nova York, com vozes extraordinárias, produções requintadas e encenações nem sempre comportadas, é a prova maior de que este espetáculo adentrou o século XXI igualmente atraente, provocador e, antes de tudo, capaz de formar novas plateias tão visceralmente entregues a seus encantos como foram as do passado.
E é inegável a contribuição do pensamento literário à ópera. A série A ÓPERA NA LITERATURA: UMA INÚTIL PRECAUÇÃO!, com curadoria  de Cirlei de Hollanda e consultoria e textos de Vivian Wyler, que estreia em 31 de janeiro no Auditório do 4º andar do Centro Cultural do Banco do Brasil, pretende abordar justamente a relação compositor & libretista frente à obra inspiradora, discutindo os atalhos percorridos quando da transposição do texto literário para o teatro na ópera.
São seis encontros ao todo, que se estenderão até o mês de maio, cada um trazendo ao público uma obra diferente, a ser debatida por um grande elenco de profissionais estreitamente ligados ao tema. A primeira palestra apresenta O Barbeiro de Sevilha, de Rossini e Beaumarchais e reúne em torno da obra a crítica de teatro Bárbara Heliodora, o maestro Silvio Viegas, e a diretora Carla Camurati.
Para debater a tradução da literatura em ópera e sua conversão à dramaturgia lírica, a mesa de cada palestra será composta por três participantes: um especialista na obra literária, um músico e um diretor teatral. O palestrante com formação em literatura iniciará cada sessão falando sobre o romance em questão; em seguida, o músico convidado discorrerá sobre a ópera e a dinâmica que se estabelece, em diferentes momentos, entre música e cena; finalmente, caberá ao diretor discutir, segundo sua ótica, o que se ganhou ou perdeu na transposição do romance para o palco, expondo as dificuldades e o fascínio de dirigir esta que é considerada a mais complexa das obras de arte.
Cada palestra será enriquecida com exemplos de pequenas cenas significativas à obra em questão, pesquisadas, editadas e produzidas em DVD especialmente para o projeto. Um formato prático e atraente, que ajuda o público a (re)conhecer  passagens importantes e memoráveis de cada título abordado.
O ciclo ainda reserva:
- Elektra, de Richard Strauss /Hofmannstahl, com os palestrantes Ivo Barbieri, Luís Gustavo Petri, André Paes Leme (13 de março);
- Lucia di Lammerrmoor, de Donizetti /Walter Scott, com os debatedores Vivian Wyler, Luiz Paulo Sampaio, Alberto Renault (27 de março);
- Otello, de Verdi e Shakespeare com a participação de Marta de Senna, Aylton Escobar e Pedro de Senna (10 de abril);
- Il Guarany, de Carlos Gomes/José de Alencar com Gustavo Bernardo Krause, Abel Rocha, Iacov Hillel (24 de abril);
- Eugene Onegin, de Tchaikovsky/Pushkin, com Paulo Bezerra, Ruth Staerke e Moacir Chaves.

A ÓPERA E A LITERATURA
A contribuição do pensamento literário à ópera vem de longa data. Em 1786, estreia As Bodas de Fígaro, primeira parceria de Mozart com seu famoso libretista, Lorenzo da Ponte, que toma como base a peça de Beaumarchais, “Le Mariage de Figaro”. Trinta anos depois, igualmente destinada à posteridade, sobe aos palcos O Barbeiro de Sevilha, de Rossini, que tem também nas estripulias do barbeiro Fígaro, de Beaumarchais, seu ponto de partida. No século XIX, Donizetti se apropria do romance de Walter Scott para escrever sua obra-prima, Lucia de Lammermoor. Verdi alia-se a Shakespeare e compõe Macbeth, Otello e Falstaff. Dostoievsky, por sua vez, inspirou dois grandes compositores do século XX – Janácek, autor de Da Casa dos Mortos, e Prokofiev, que compôs O Jogador a partir de seu romance Igrok, o Jogador. Prokofiev trabalhou ainda o texto de Tolstoi e transformou seu Guerra e Paz em versão operística. O inglês Britten elege grandes nomes da literatura para suas obras: Peter Grimes, a mais encenada, é escrita com base no poema de George Crabbe; Albert Herring é uma adaptação de um conto de Guy de Maupassant, Shakespeare resulta em Sonhos de uma Noite de Verão, enquanto Thomas Mann dá o argumento de sua última ópera, Morte em Veneza. Richard Strauss, em 1909, apresenta Elektra, a primeira de sua fecunda parceira com Hofmannsthal.
O compositor, ao buscar na literatura textos que se revistam de significados originais e de propostas estimulantes, está revelando a sua convicção de que, através dessas obras, a possibilidade de caminhos novos, não convencionais, lhe seja apontada, revigorando a dimensão de seu projeto musical. E aí vive o cerne da questão, pois que o problema está justamente na transposição que se faz da obra literária até o palco lírico. As especificidades da linguagem operística acabam por determinar, quase sempre, uma nova reorganização do texto, por mais cuidados que compositor e libretista tenham em relação à fidelidade ao texto original.
Brincando com o subtítulo da famosa ópera O Barbeiro de Sevilha, pode-se afirmar que todo esse empenho resultará sempre em “Uma Inútil Precaução”, pois a música e a carpintaria teatral de uma ópera acabam levando o texto literário para lugares outros, às vezes bem distantes da concepção original do autor do texto.  E intervir em obra de autor consagrado, convenhamos, é tarefa bastante delicada. Sair do livro, chegar ao libreto e se transmutar em espetáculo teatral é um caminho muitas vezes demorado, penoso e que exige excepcional habilidade dramática e um profundo conhecimento musical

A ÓPERA NA LITERATURA: UMA INÚTIL PRECAUÇÃO!

1 – Dia 31 de janeiro – ROSSINI & BEAUMARCHAIS – O Barbeiro de Sevilha

Palestrantes
Bárbara Heliodora
Professora Emérita da UNI-RIO. B.A. Connecticut College. Doutorado da USP. Crítica de Teatro, tem participado de todos os principais júris de premiação de teatro. Dirigiu vários espetáculos, inclusive A Comédia dos Erros de Shakespeare. Publicou  quatro livros sobre Shakespeare, Martins Pena, Uma Introdução e O Teatro Explicado aos meus Filhos.
Silvio Viegas
Professor da Escola de Música da UFMG e Diretor Artístico do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e Maestro Titular da OSTM. Regeu óperas como Tosca, Il Trovatore, Romeu e Julieta e O Barbeiro de Sevilha, entre outras. Foi Diretor Artístico da Fundação Clóvis Salgado – Palácio das Artes. Mestre em Regência pela UFMG com especialização pela Arts Academy di Roma – Itália.
Carla Camurati
Atual Presidente da Fundação Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Cineasta, em 1996 dirige sua primeira ópera, La Serva Padrona de Pergolesi, que adapta para o cinema, realizando o primeiro filme-ópera do Brasil. Sua trajetória como diretora de ópera já soma títulos importantes, entre eles, Carmen, Madama Butterfly, Romeu e Julieta, O Barbeiro de Sevilha, Tosca e O Caso Makropulos de Janácek (1ª. audição brasileira). Agraciada com a comenda “Ordem do Ipiranga” do Governo do Estado de São Paulo.

2 – Dia 13 de março – RICHARD STRAUSS & HOFMANNSTHAL – Elektra
Palestrantes
Ivo Barbieri
Professor Titular  de Literatura Brasileira da UERJ, onde foi Vice-Reitor e Reitor (1988-1991). Escreve sobre Literatura Brasileira. Autor dos livros Oficina da Palavra, sobre a poesia de Mário Faustino, e Geometria da composição, sobre João Cabral de Mello Neto. Crítico literário, publicou estudos e ensaios sobre Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade e Guimarães Rosa.
Osvaldo Ferreira
Regente titular e Diretor Musical da Orquestra Sinfônica do Paraná e da fase erudita da Oficina de Música de Curitiba. Programador musical do evento Algarve, em Portugal. Fez Mestrado em Direção de Orquestra em Chicago e Pós-Graduação no Conservatório de São Petersburgo. Várias vezes premiado, foi assistente de Claudio Abbado em Salzburgo.
André Paes Leme
Formado em Direção Teatral da UNIRIO, Mestre em Teatro pela Universidade de Lisboa e doutorando na UNIRIO. Realizou mais de 50 espetáculos, entre peças teatrais, concertos musicais e óperas, entre as quais a estreia de A Carta, do cantor e violeiro Elomar Figueira Mello. Prêmio APTR 2010 de Melhor Diretor pela encenação de Hamelin, de Juan Mayorga.

3 – Dia 27 de março – DONIZETTI & WALTER SCOTT – Lucia di Lammerrmoor
Palestrantes
Vivian Wyler
Mestra em Comunicação pela ECO/UFRJ, foi editora-assistente do Caderno Ideias/ Jornal do Brasil. Gerente editorial da Editora Rocco, é sócia-diretora da produtora Plumagenz, especializada em arte e literatura, e consultora de branding de Estamparia Literária.
Luiz Paulo Sampaio
Doutor em Musicologia, Professor Titular (aposentado) do Instituto Villa-Lobos – UNIRIO, ex-Presidente e Diretor Artístico da Fundação Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Assessor Técnico do Museu Villa-Lobos/IBRAM.
Alberto Renault
Diretor teatral e cenógrafo, assinou várias óperas e cenários na Itália e no Rio de Janeiro, como A Voz Humana, com Renata Scotto. Em 2011 dirigiu Lucia di Lammermoor e uma versão concerto de O Amor das Três Laranjas. Assistente do diretor Bruno Bayen, em Paris, colaborou em montagens na Comédie Française e nos teatros National de L’Ódeon e La Bastille.

4 – Dia 10 de abril – VERDI & SHAKESPEARE – Otello
Palestrantes
Marta de Senna
Pesquisadora da Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro. Ex-professora de Literatura Comparada da UFRJ, seus principais interesses são a obra de Machado de Assis, sobre a qual escreveu dois livros, o teatro de Shakespeare e a poesia de Camões. É responsável pelo portal http://www.machadodeassis.net/
Aylton Escobar
Regente e compositor premiado, com obras editadas na Europa e Américas. Dirigiu a Universidade Livre de Música e os Festivais de Inverno de Campos do Jordão. Membro da Academia Brasileira de Música, Comendador (Ordem do Mérito Cultural Carlos Gomes), Doutor pela USP. Em 2011 a crítica musical destacou sua atuação como maestro em O Castelo do Barba-Azul, Bartók, no Theatro Municipal do RJ.
Pedro de Senna
Ator, dramaturgo e diretor de teatro. Pela autoria de A tragédia de Ismene, princesa de Tebas, foi o vencedor do primeiro “Seleção Brasil em Cena”, realizado no CCBB Rio. Especialista em tradução e adaptação, coordena o curso de Artes Cênicas da Buckinghamshire New University, no Reino Unido, onde mora há dez anos.

5 – Dia 24 de abril  - CARLOS GOMES & J. ALENCAR – Il Guarany
Palestrantes
Gustavo Bernardo Krause
Professor associado de Teoria da Literatura na UERJ, é autor de vários ensaios, como O livro da metaficção (Tinta Negra) e O problema do realismo de Machado de Assis (Rocco), e de vários romances, como Lúcia (Relume Dumará) e A filha do escritor (Agir).
Abel Rocha
É o atual Diretor Artístico do Theatro Municipal de São Paulo, e regente titular da OSM. Doutor em Música pela Unicamp, com mestrado em Regência de Ópera realizado em Dusseldorf, Alemanha. Dirigiu óperas e concertos sinfônicos frente às principais orquestras do país. Foi diretor artístico da Banda Sinfônica de SP e do coral Collegium Musicum de S. Paulo. Professor de regência e ópera da Unesp.
Iacov Hillel
Diretor teatral, é Master of Arts pela São Francisco State University. Dirigiu inúmeras óperas, entre elas Il Guarany, também apresentada no Teatro Nacional de São Carlos – Lisboa, Portugal. Recebeu os prêmios Molière, Mambembe, APETESP, APCA e Governador do Estado.  Professor de interpretação e diretor de montagens junto à Escola de Arte Dramática da USP.

6 – Dia 8 de maio – TCHAIKOVSKY & PUSHKIN – Eugene Onegin
Palestrantes
Paulo Bezerra
Estudou língua e literatura russa na Universidade Lomonóssov, em Moscou. Foi professor de teoria literária na UERJ e de língua e literatura russa na USP. Leciona atualmente na UFF. Verteu diretamente do russo mais de 40 obras, destacando-se suas premiadas traduções de Crime e castigo, O idiota, Os demônios e Os irmãos Karamázov, de Dostoiévski.
Ruth Staerke
Soprano premiada nacional e internacionalmente, destacou-se  em óperas como Carmen, La Traviata, La Bohème e Eugene Onegin. Foi dirigida por Franco Zefirelli, Adolpho Celi, Gianni Ratto, Carlo Maestrini, Pedro Paulo Rangel e Sérgio Britto, entre outros. Participou das estreias mundiais de O Sargento de Milícias de Mignone, a cantata Verbogenheit de Cláudio Santoro e Yerma de Villa-Lobos.
Moacir Chaves
Diretor de Teatro e professor de Direção Teatral na Escola de Teatro da Uni-Rio. Encenou desde clássicos da dramaturgia – como Shakespeare, Molière e Tchekov – a adaptações de obras literárias de Tomas Morus, padre Antonio Vieira e Machado de Assis, entre outros, além de utilizar com frequência textos não dramáticos para construção de espetáculos.

SERVIÇO

ROSSINI & BEAUMARCHAIS – O Barbeiro de Sevilha
Centro Cultural Banco do Brasil – Auditório do 4o. andar
Rua Primeiro de Março, 66- Centro – RJ
Tel: (21) 3808-2020
Dia 31 de janeiro, terça , às 18h30
Entrada franca – Senhas retiradas na bilheteria do CCBB 1h antes do evento
www.bb.com.br/cultura
twitter.com/ccbb_rj

Fonte: http://www.movimento.com/

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