A PERSONALIDADE DOS COMPOSITORES EM SUA MÚSICA (2) ARTIGO DE MARCUS GÓES NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
Beethoven: é este um compositor cuja obra mais reflete sua personalidade e sua vida privada.
Continuando artigo anteriormente publicado, abordemos o tema tendo como personagem único um dos dois ou três compositores mais fundamentais da história da música: Ludwig Van Beethoven (Bonn, Alta Renânia, 1770/ Viena, 1827).
LvB nasceu exatamente em um período em que os ideais liberais do Iluminismo se contrapunham a um passado de autoridade absoluta da Igreja Católica, dos soberanos , da nobreza, do clero e dos grandes proprietários de terras. Assim, ainda muito jovem, tomou contato com as ideias e teorias de liberdade da Revolução Francesa.
Desde os cinco anos de idade, LvB começou a estudar piano e música, pois seu pai, alcoólatra contumaz, desejava fazer dele um novo prodígio semelhante ao que havia sido Mozart. O alcoolismo do pai trazia sérias dificuldades financeiras à família. Foi dentro desses aspectos que LvB começou a formar sua personalidade, cuja característica predominante foi, desde o início, um profundo inconformismo.
Aos dezessete anos é enviado a Viena e toma contato “ in loco” com o formalismo do Classicismo de Haydn, Mozart, Salieri e outros, para os quais a forma tinha tanta importância quanto o conteúdo, com as exceções do que começava a ocorrer em certas obras de Mozart. Pouco mais tarde em Viena, conheceria de perto as novas teorias literárias e artísticas do Sturm und Drang, movimento que seria uma das vigas mestras da formação do Romantismo. Beethoven percebe que o momento é de mudanças.
Por volta de 1791, começa a ser aceito como pianista virtuoso e, logo em seguida, publica suas primeiras obras, uma coleção de três trios para piano, violino e violoncelo que é o seu opus 1. Nesses trios já se pode notar claramente um esqueleto clássico permeado de ornamentos, acordes inesperados, contrastes e antagonismos que serão o reflexo dos inconformismos de LvB jovem em sua obra. Quem quiser, confira no Youtube.
As três sonatas para piano opus 2, publicadas em 1794/5, são exemplo ainda maior de obra de um compositor rebelde e inconformado. Essas sonatas também podem ser ouvidas no Youtube. Notem a violência de certos acordes, o cromatismo de certas escalas, o clima geral atormentado, retrato da personalidade de um artista que não se sentia feliz nem com sua vida particular nem com o ambiente musical de um Classicismo agonizante.
Mas o grande drama ainda estava por vir. Por volta de 1796, problemas auditivos se manifestam, o que leva Beethoven a vários tipos de tratamento que não surtem efeito. Deprimido e inconformado, isola-se, deixa de produzir, escreve em 1802 o famoso Testamento de Heiligenstadt, verdadeiro manifesto de queixas e inconformismos.
Essas queixas e inconformismos se consubstanciarão em sua Sinfonia n.3 em mi bemol maior, apelidada Eroica (1803), que é tida pela maioria dos estudiosos como a obra que dá início ao Romantismo musical. Com efeito, essa sinfonia, com sua economia temática, seus acordes surpreendentemente repetidos, seus antagonismos rítmicos, sua indisciplina formal (não contém um minueto, imaginem !!, mas um Scherzo em seu lugar !!), sua mistura dramática, na qual lamentações fúnebres se combinam com jocosas filigranas, é o reflexo de um artista inconformado, doente dos ouvidos, de relação difícil com as mulheres, influenciado até a medula até pela literatice barata de poetúculos que seguiam as pegadas de Goethe e Schiller.
Triste e revoltado com o que achava um destino injusto e cruel, sua obra reflete essa revolta e temos então aí um fato comum na história das artes, no qual a tristeza, a revolta e o sofrimento dos autores produzem obras primas de extrema beleza. Quanto maiores os problemas e sofrimentos de Beethoven, mais belas e cheias de gênio criador suas obras, inauguradoras de uma nova fase na história da música.
QUID SUM MISER TUNC DICTURUS
Marcus Góes – FEV 2012
Fonte: http://www.movimento.com/
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