A PERSONALIDADE DOS COMPOSITORES EM SUA MÚSICA (3) ARTIGO DE MARCUS GÓES NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
CARLOS GOMES (1836/1896) nasceu e passou sua meninice e adolescência no interior de uma província brasileira da primeira metade do século XIX, longe da capital da província e mais longe ainda da capital do Império.
Isso fez dele o que nunca deixou de ser por toda a vida: um caipira paulista, adorador de pesca em riachos, de pamonhas e curaus, de barganhas e da luxuriante natureza que o cercava. Paralelamente a esse quadro, CG nasceu ouvindo música, pois seu pai Maneco era musicista dono de banda e, desde cedo, passou a absorver e conservar em sua mente os ecos da música executada pela banda do pai, que tocava trechos do BARBEIRO DE SEVILHA, da NORMA, de peças arranjadas de Mozart, Beethoven, Gluck e da música de salão, geralmente de canto e piano, comum na sua Campinas natal, para sempre seu grande amor, e nas cidades vizinhas.
Assim, CG desde cedo revelou o que seria por toda a vida: um apaixonado pelo Brasil, um admirador da música, geralmente modinhas, que se fazia no Brasil, e da ópera, principalmente da ópera italiana. Sua ida definitiva para Milão em 1863 foi rapidamente fazendo dele um tipo estranho de artista ligado intimamente a seu país natal, a seus costumes e à sua música e também ligado intimamente à Itália, a seus costumes e também à sua música de ópera.
Isso tudo se reflete em sua música, ora claramente de inspiração brasileira, nos ritmos, nas harmonias, nos ornamentos, nas melodias, ora de clara e insofismável inspiração italiana. Essa combinação iria gerar um compositor múltiplo,variado, sempre a tentar novos caminhos, mantendo no entanto a característica básica de centauro ítalo-brasileiro. CG costumava mandar as cozinheiras italianas combinar spaghetti com viradinho paulista e vivia pedindo aos amigos no Brasil que lhe mandassem café, pinhão, pinga “da boa”…
No intrincado enredo que foi sua vida, sua sensibilidade musical aplicou-se de um polo ao outro. Ouçam a JOANNA DE FLANDRES, de 1863, composta no Brasil, e teremos uma obra de inspiração modinheira brasileira; ouçam SE SA MINGA, de 1866, composta na Itália com clara intenção de imitar obras de Offenbach, e teremos um CG admiravelmente capaz de parodiar com extrema agudeza a música do autor de LA VIE PARISIENNE; ouçam IL GUARANY, de 1870, e teremos na partitura uma série de maneirismos, praxes e modos brasileiros ao lado de evidentes italianismos; ouçam a FOSCA, de 1873, e teremos uma obra inteiramente nova no melodrama italiano, experimentando combinar técnicas wagnerianas de Leitmotive e “Sprechengesang” com a natural beleza melódica do livre canto italiano; ouçam o SALVATOR ROSA, de 1874, totalmente italianizado; ouçam a MARIA TUDOR, de 1879, mistura de técnicas e estilos europeus internacionais; ouçam LO SCHIAVO, de 1889, brasileiro à flor da pele combinando os mesmos citados modos e maneirismos da música clássjca, semiclássica de salão e popular que se fazia no Brasil à música de ópera italiana; ouçam CONDOR, de 1891,e COLOMBO, de 1892, ambas na mesma linha de LO SCHIAVO.
A personalidade e a vida privada de CG fizeram dele autor de notável, múltiplo e belíssimo painel musical dentro do melodrama italiano, tendo sido ele o mais importante elemento de ligação entre a música de Rossini, Bellini, Donizetti e Verdi e o chamado “verismo” de Mascagni, Leoncavallo, Puccini e outros que estavam por vir.
STATUENS IN PARTE DEXTRA
MARCUS GÓES – FEV/2012sw
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