SPARTACUS: BALÉ DO REALISMO SOCIALISTA.
O Estado Soviético tinha a mania de se meter em tudo, queria controlar a vida de seus cidadãos de maneira plena. Nas artes não foi diferente: desenvolveu uma estética que ele, (o Estado), achava ideal. Valores como o coletivo, o trabalho em comunidade, a simplicidade do campo eram os mais queridos dos comunas do século passado. Impostos de cima para baixo, são uma aberração do século XX. O balé Spartacus é um trabalho que os comunas julgavam ser dessa estética. A luta dos escravos contra os poderosos romanos simboliza a própria luta do comunismo contra o capitalismo, opressor contra oprimido. Não podemos nos esquecer que o balé foi composto e produzido por encomenda na década de 50. Os soviéticos tinham na lembrança a hercúlea luta contra os nazistas. Mais uma simbologia.
Toda arte produzida de forma artificial, por encomenda, através de algum burocrata do Kremlin, fica sem graça. Não é o resultado da criatividade de algum gênio da música, das letras e da dança. Primeiro Stalin adorou a idéia desse balé, embora tenha morrido sem assistí-lo. Aran Khachatarian ficou incumbido da composição, seguiu a cartilha comunista, fez uma música sem inspiração, fria, marcial, que abusa dos metais.
Spartacus tem seu ponto forte na coreografia. Yuri Grigorovich coreografa belos números, muitas vezes utiliza passos de dificuldade máxima para mostrar a superioridade soviética nas artes sobre o ocidente. Quebra a sequência dramática, tira o ritmo da dança, o que importa é a dificuldade técnica. Joga para a galera, aplausos efusivos a cada momento. Algum burocrata deve tê-lo obrigado a isso.
Nas duas versões comerciais disponíveis, da mesma produção do Bolshoi, os bailarinos são exigidos ao máximo. Mukhamedov e Bessmertnova vencem todas as dificuldades da coreografia com a segurança e a força que só a escola russa apresenta. Na outra versão, o mesmo Mukhamedov faz par com Lyudmilla Semenyaka, esta um pouco menos sensual que a primeira. Todos os solistas estão perfeitos, o corpo de baile age como um desfile militar, sisudos, dançam no tempo certo, sem falhas.
Ali Hassan Ayache
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