"IL RE PASTORE " ABRE A SÉRIE LÍRICA DA OSB O&R . CRÍTICA DE LEONARDO MARQUES NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
Apresentação irregular marcou a abertura de uma interessante temporada de óperas em concerto.
Neste domingo, 06 de maio, com a ópera Il Re Pastore (O Rei Pastor), de Mozart, a OSB Ópera e Repertório (OSB O&R) deu o pontapé inicial à sua Série Lírica, uma interessante temporada de óperas em forma de concerto que, ao longo do ano, terá títulos como Ariadne em Naxos e A Filha do Regimento.
Il Re Pastore, ópera em dois atos sobre um libreto de Pietro Metastasio, que foi reduzido e adaptado por Giambattista Varesco, data de 1775, quando o compositor contava 19 anos de idade. Predecessora de Idomeneo, enquanto ópera passa longe de ser uma obra-prima e carece de qualquer caracterização psicológica dos personagens, embora traga no segundo ato uma belíssima ária para castrato citada mais à frente, esta sim um perfeito exemplo da capacidade do compositor.
O primeiro fato que chamou a atenção no Espaço Tom Jobim do Jardim Botânico foi a ausência de um programa de sala para o concerto. Um simplório cartão, que na frente cita a obra que será interpretada e os artistas envolvidos, e no verso apresenta o resumo do resumo da trama da ópera, não é coisa que se ofereça ao público, mesmo gratuitamente. Fica a sensação de que a Fundação Orquestra Sinfônica Brasileira trata mesmo a OSB O&R como uma OSB do B, como alguns se referem a esse conjunto. Espero que, quando a temporada chegar ao Municipal, isso seja corrigido.
Outro ponto polêmico foi a opção por cortar totalmente os recitativos. É claro que é perfeitamente entendível, numa performance da ópera em concerto, que os recitativos sejam bastante cortados, mas daí a cortar tudo vai certa distância. Do jeito que ficou, pareceu mais um concerto com passagens de Il Re Pastore, que Il Re Pastore em forma de concerto.
Além disso, a cada ária ou número de conjunto interpretado, o maestro saía do palco junto com o(a) solista, chamando aplausos, indicava ao(à) solista que retornasse ao palco para ser aplaudido mais um pouco, e por fim ele, maestro, voltava ao palco com outro(a) solista para dar continuidade ao concerto. Multiplique isso por todas as passagens interpretadas e o que temos é uma profusão de aplausos em meio a uma sequência de números musicais apresentados sem ligação dramática entre eles. Pode parecer bobagem, mas a verdade é que tudo isso dificulta, por parte do ouvinte, um mergulho mais profundo na música de Mozart.
Todos os apontamentos citados até aqui são passíveis de correção nos próximos concertos desta série. Outro fator importante é que, depois do advento das óperas em forma de concerto cênico, a utilização da forma de concerto “puro”, por assim dizer, deixa a apresentação muito parada, até mesmo monótona, como foi o caso neste domingo. Por que não investir no concerto cênico?
Interpretar o gênio de Salzburg, definitivamente não é tarefa para qualquer um, pois as características inerentes à sua escrita têm o dom de demonstrar os pontos fortes e fracos de todos os seus intérpretes. Um elenco irregular de jovens solistas foi escalado para a empreitada e o resultado variou bastante. Registre-se, desde logo, que todos necessitam de aprimoramento vocal, ainda que uns em maior grau que outros.
A soprano Laila Vazen (segundo a OSB – ou seria Laila Oazem, como citado na Agenda VivaMúsica?), ao subir ao palco pela primeira vez, demonstrou insegurança e não foi bem na primeira ária de Tamiri, Di tante sue procelle, nada evoluindo no solo do segundo ato, Se tu di me fai dono. O tenor Ivan Jorgensen, como Agenore, embora mais seguro no palco, também não esteve bem. Sua emissão em nenhum momento demonstrou a clareza e a finura exigidas pela partitura. Já a soprano Marina Considera esteve um nível acima e ofereceu uma interpretação razoável de Elisa.
As melhores performances, no entanto, foram da soprano Chiara Santoro (Aminta) e do tenor Jacques Rocha (Alessandro). Rocha, tenor lírico ligeiro, demonstrou boa habilidade (que precisa ser aprimorada) nas passagens de agilidade, belo fraseado e dificuldades nas notas graves. Santoro tem uma voz de bom volume e belo timbre, bem calibrada nos agudos, ainda que lhe falte aprimorar os grandes saltos vocais e certas inflexões – estas especialmente nas terminações das frases musicais. Não obstante tais apontamentos, pareceram-me duas vozes bastante promissoras.
Chiara Santoro teve o desafio extra de enfrentar a mais célebre passagem da ópera, a joia que é a ária de Aminta no segundo ato, L’ amerò, sarò costante, originalmente escrita para castrato. Acompanhada por belo solo de violino, e apesar de um ligeiro tropeço quase no final da peça, que é bastante exigente, a soprano executou uma bela interpretação, sensível e comovente.
A OSB O&R esteve não mais que razoável sob a condução de Henrique Morelenbaum, não conseguindo o maestro extrair um som consistente do conjunto, que por sua vez exibiu a costumeira dificuldade de nossas orquestras com obras de Mozart. Depois do concerto, perguntei-me: a ausência de um regente titular não fará falta à OSB O&R?…
A próxima ópera desta Série Lírica será Orfeu e Eurídice, de Gluck, no dia 20 de maio, ainda no Espaço Tom Jobim. Não poderei acompanhá-la em virtude de compromisso particular na mesma data. A seguinte, já no Theatro Municipal, será Griselda, de Vivaldi, em 25 de junho.
Um dos títulos mais interessantes da série, Medea, de Cherubini, não aparece mais no site da OSB. Consultado por e-mail, Fernando Bicudo, que divide a Direção Artística da orquestra com Pablo Castellar, informa que, devido a um problema de saúde de Aprile Millo, a ópera foi adiada para abril de 2013, o mesmo ocorrendo com um concerto da soprano com árias de Händel. Millo já cancelou várias vezes sua vinda ao Brasil. Espera-se que realmente venha em 2013, como informa Bicudo, ou que, no caso de novo forfait, a OSB substitua a soprano, e não adie novamente a apresentação.
Leonardo Marques- Formado em Letras com pós-graduação em Língua Italiana. Frequentador assíduo de concertos e óperas. Participou de cursos particulares sobre ópera.
Fonte: http://www.movimento.com/
Neste domingo, 06 de maio, com a ópera Il Re Pastore (O Rei Pastor), de Mozart, a OSB Ópera e Repertório (OSB O&R) deu o pontapé inicial à sua Série Lírica, uma interessante temporada de óperas em forma de concerto que, ao longo do ano, terá títulos como Ariadne em Naxos e A Filha do Regimento.
Il Re Pastore, ópera em dois atos sobre um libreto de Pietro Metastasio, que foi reduzido e adaptado por Giambattista Varesco, data de 1775, quando o compositor contava 19 anos de idade. Predecessora de Idomeneo, enquanto ópera passa longe de ser uma obra-prima e carece de qualquer caracterização psicológica dos personagens, embora traga no segundo ato uma belíssima ária para castrato citada mais à frente, esta sim um perfeito exemplo da capacidade do compositor.
O primeiro fato que chamou a atenção no Espaço Tom Jobim do Jardim Botânico foi a ausência de um programa de sala para o concerto. Um simplório cartão, que na frente cita a obra que será interpretada e os artistas envolvidos, e no verso apresenta o resumo do resumo da trama da ópera, não é coisa que se ofereça ao público, mesmo gratuitamente. Fica a sensação de que a Fundação Orquestra Sinfônica Brasileira trata mesmo a OSB O&R como uma OSB do B, como alguns se referem a esse conjunto. Espero que, quando a temporada chegar ao Municipal, isso seja corrigido.
Outro ponto polêmico foi a opção por cortar totalmente os recitativos. É claro que é perfeitamente entendível, numa performance da ópera em concerto, que os recitativos sejam bastante cortados, mas daí a cortar tudo vai certa distância. Do jeito que ficou, pareceu mais um concerto com passagens de Il Re Pastore, que Il Re Pastore em forma de concerto.
Além disso, a cada ária ou número de conjunto interpretado, o maestro saía do palco junto com o(a) solista, chamando aplausos, indicava ao(à) solista que retornasse ao palco para ser aplaudido mais um pouco, e por fim ele, maestro, voltava ao palco com outro(a) solista para dar continuidade ao concerto. Multiplique isso por todas as passagens interpretadas e o que temos é uma profusão de aplausos em meio a uma sequência de números musicais apresentados sem ligação dramática entre eles. Pode parecer bobagem, mas a verdade é que tudo isso dificulta, por parte do ouvinte, um mergulho mais profundo na música de Mozart.
Todos os apontamentos citados até aqui são passíveis de correção nos próximos concertos desta série. Outro fator importante é que, depois do advento das óperas em forma de concerto cênico, a utilização da forma de concerto “puro”, por assim dizer, deixa a apresentação muito parada, até mesmo monótona, como foi o caso neste domingo. Por que não investir no concerto cênico?
Interpretar o gênio de Salzburg, definitivamente não é tarefa para qualquer um, pois as características inerentes à sua escrita têm o dom de demonstrar os pontos fortes e fracos de todos os seus intérpretes. Um elenco irregular de jovens solistas foi escalado para a empreitada e o resultado variou bastante. Registre-se, desde logo, que todos necessitam de aprimoramento vocal, ainda que uns em maior grau que outros.
A soprano Laila Vazen (segundo a OSB – ou seria Laila Oazem, como citado na Agenda VivaMúsica?), ao subir ao palco pela primeira vez, demonstrou insegurança e não foi bem na primeira ária de Tamiri, Di tante sue procelle, nada evoluindo no solo do segundo ato, Se tu di me fai dono. O tenor Ivan Jorgensen, como Agenore, embora mais seguro no palco, também não esteve bem. Sua emissão em nenhum momento demonstrou a clareza e a finura exigidas pela partitura. Já a soprano Marina Considera esteve um nível acima e ofereceu uma interpretação razoável de Elisa.
As melhores performances, no entanto, foram da soprano Chiara Santoro (Aminta) e do tenor Jacques Rocha (Alessandro). Rocha, tenor lírico ligeiro, demonstrou boa habilidade (que precisa ser aprimorada) nas passagens de agilidade, belo fraseado e dificuldades nas notas graves. Santoro tem uma voz de bom volume e belo timbre, bem calibrada nos agudos, ainda que lhe falte aprimorar os grandes saltos vocais e certas inflexões – estas especialmente nas terminações das frases musicais. Não obstante tais apontamentos, pareceram-me duas vozes bastante promissoras.
Chiara Santoro teve o desafio extra de enfrentar a mais célebre passagem da ópera, a joia que é a ária de Aminta no segundo ato, L’ amerò, sarò costante, originalmente escrita para castrato. Acompanhada por belo solo de violino, e apesar de um ligeiro tropeço quase no final da peça, que é bastante exigente, a soprano executou uma bela interpretação, sensível e comovente.
A OSB O&R esteve não mais que razoável sob a condução de Henrique Morelenbaum, não conseguindo o maestro extrair um som consistente do conjunto, que por sua vez exibiu a costumeira dificuldade de nossas orquestras com obras de Mozart. Depois do concerto, perguntei-me: a ausência de um regente titular não fará falta à OSB O&R?…
A próxima ópera desta Série Lírica será Orfeu e Eurídice, de Gluck, no dia 20 de maio, ainda no Espaço Tom Jobim. Não poderei acompanhá-la em virtude de compromisso particular na mesma data. A seguinte, já no Theatro Municipal, será Griselda, de Vivaldi, em 25 de junho.
Um dos títulos mais interessantes da série, Medea, de Cherubini, não aparece mais no site da OSB. Consultado por e-mail, Fernando Bicudo, que divide a Direção Artística da orquestra com Pablo Castellar, informa que, devido a um problema de saúde de Aprile Millo, a ópera foi adiada para abril de 2013, o mesmo ocorrendo com um concerto da soprano com árias de Händel. Millo já cancelou várias vezes sua vinda ao Brasil. Espera-se que realmente venha em 2013, como informa Bicudo, ou que, no caso de novo forfait, a OSB substitua a soprano, e não adie novamente a apresentação.
Leonardo Marques- Formado em Letras com pós-graduação em Língua Italiana. Frequentador assíduo de concertos e óperas. Participou de cursos particulares sobre ópera.
Fonte: http://www.movimento.com/
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