QUER FORMAR NOVOS PÚBLICOS , CHAME CLEBER PAPA E ROSANA CARAMASCHI- La Bohème- A ópera contada e cantada. Crítica de Ali Hassan Ayache no Blog de Ópera e Ballet.
A discussão sobre a vinda do "maestro " André Rieu ao Brasil rendeu muito pano pra manga. Alguns são contra e uma grande maioria a favor do "cabeleira". O concurso dos " Três Tenores" da rede Record também gerou debates acalorados. Os defensores alegam que a música clássica ganha com esse tipo de programa. Eu discordo, querem divulgar a ópera e formar novos públicos, procurem Cleber Papa e Rosana Caramaschi, eles têm a fórmula.
O espetáculo apresentado na noite do dia 25 de junho, na série Ópera Curta, foi La Bohème, composta por Puccini. Sucesso mundial e uma das mais famosas do repertório operístico. A música foi transposta para piano, flauta, violino e cello por Luis Gustavo Petri. Esse conseguiu com quatro instrumentos mostrar a riqueza e todas as nuances melódicas compostas por Puccini, belo trabalho de transcrição musical.
A narração foi eloqüente, muitas vezes complexa, procurando mostrar o clima de Paris do século XIX. Artistas e boêmios navegam na escuridão e frio da cidade. Perdeu sua função principal, detalhar e esclarecer ao público o que se passa na história. A grande maioria nunca teve contato com o libreto, sendo assim a narração poderia ser mais esclarecedora e menos complexa.
Os cenários e figurinos foram corretos, personagens com roupas simples e modestas são mais que característicos para La Bohème. A direção de cena acerta na movimentação e mostra uma dinâmica interessante , mas algumas vezes exagera na dose. Rodolfo e Mimi grudam demais nas árias e no famoso dueto do primeiro ato. Muito beijinho, muita frescurinha, muito toque. Ambos cantam próximos demais, quase não conseguem respirar. Sabemos que a paixão dos dois é avassaladora, mas tudo isso é demais, nem as flechas de Cúpido fazem tanto .
Escalar Gabriella Rossi para fazer Mimi foi um grande acerto, a moça tem a voz e o temperamento da personagem. Sua voz tem um belo lirismo, sai melódica e cristalina. Mostra um colorido sedutor nas diversas passagens e ganha a dramaticidade necessária na morte da personagem. Seu rosto mostra uma inocência angelical no início e vai ganhando maturidade com o decorrer da doença. Lembrei muito da Ileana Cotrubas ao ver Gabriella Rossi atuando. Grande Mimi, essa moça tem futuro.
Gabriella Rossi
Gilberto Chaves fez um Rodolfo correto, sua voz tem um belo timbre, afinada e lírica. Seus agudos saíram econômicos, faltou a força e potência arrebatadora neles. Uma atuação que careceu de empolgação, não colocou o calor e a alma na voz.
Gilberto Chaves
Laryssa Alvarazi arrebentou como Musetta, sua interpretação espalhafatosa é convincente e inesquecível. Sua voz esteve vigorosa, seus agudos penetrantes e fortes. Mostra os sentimentos da personagem com grandes atributos cênicos e uma técnica vocal ímpar em diversos registros . Se eu fosse olheiro do Metropolitan Opera House contratava na hora para cantar na famosa casa de Nova Iorque.
Laryssa Alvarazi
O espetáculo viaja por diversas cidades e se adapta a diversos tipos de palco. Mostra com grande fidelidade o que é a ópera , simplifica as coisas: as falas em português e as legendas fazem qualquer Zezinho entender tudo. O tempo de noventa minutos é ideal, o público tem fobias e não consegue ficar com a bunda na cadeira por muito tempo nos dias de hoje. Espetáculo interessante , ideal para a introdução da ópera na vida das pessoas e o melhor de tudo, o ingresso é grátis. Bem melhor que pagar uma fortuna para assistir ao "cabeleira".
Ópera Curta é um espetáculo musical que resume óperas famosas apresentando seus principais trechos musicais e narrando o espetáculo. Ideal para aquele que não tem contato ou convivência com a ópera. A difusão da ópera nesse formato fica interessante e agrada a todo tipo de público. Um grande e belo cartão de visitas para ingressar nesse universo.
Ali Hassan Ayache.
Sou admiradora de seus textos,pois ele é simples sem termos muito tecnicos e nos faz , simples mortais,entender um pouco mais desse universo fantástico que é ópera.É uma pena que a população comum,mesmo que por um mera curiosidade,é desencorajada pelos preços dos espetáculos e pela falta de motivação.
ResponderExcluirSucesso!