PAPO COM O ARTÍSTA: EMMANUELE BALDINI, SPALLA DA OSESP, CONCEDE ENTREVISTA EXCLUSIVA AO "O PENTAGRAMA" .
Foi aluno da classe da
“Virtuositè” de Corrado Romano no Conservatório de Genebra. Estudou música de
câmara com o "Trio di Trieste" e Franco Rossi, tendo se aperfeiçoado em Berlim e
em Salzburgo com Ruggiero Ricci. Vencedor de diversos concursos internacionais,
deu início à carreira solo após vencer o “Virtuositè” de Genebra e o 3º prêmio
no concurso Lipizer, em Gorizia.
Emmanuele Baldini Foto: Divulgação |
O PENTAGRAMA: Você vem de uma família
de músicos. Como era o ambiente musical em sua casa ? Houve um incentivador em
especial ? É mais fácil ser músico, vindo de uma família de músicos ? Conta pra
gente !
EMMANUELE BALDINI: Cresci ouvindo estudar
meus pais, minha casa "respirava" música todos os dias. Meu pai, especialmente,
passava os dias inteiros ao piano, estudando os programas para seus recitais e
isso foi marcante na minha formação. Quando comecei estudar violino, posso dizer
que conhecia mais peças para piano do que para qualquer outro instrumento.
Crescer cercado pela música e pela disciplina que ela requer, foi fundamental
para formar os pilares da minha personalidade musical.
Emmanuele Baldini Foto: Divulgação |
O PENTAGRAMA: De que forma se deu
a escolha pelo Violino ?
EMMANUELE BALDINI: Eu tocava piano,
improvisava. Um dia, assisti na tv um concerto de um violinista italiano muito
famoso, ainda em atividade: Uto Ughi. Com seis anos, pedi como presente de Natal
um violino. Assim foi. Foi uma mágica: ao ouvir o som do violino logo senti que
aquilo era o destino da minha vida.
O PENTAGRAMA: Você foi tido como um
dos grandes talentos do seu País, a Itália. Você foi elogiado por grandes nomes
como Claudio Abbado, Riccardo Muti, Ruggiero Ricci, Franco Gulli, entre outros.
Porque e como se deu a vinda para o Brasil ?
EMMANUELE BALDINI: Vim após um convite do
então diretor artístico da Osesp John Neschling. E logo fiquei encantado pela
orquestra, pela Sala São Paulo mas sobre tudo pelo Brasil e pelos
brasileiros.
O PENTAGRAMA: Você também tem uma bela
carreira como concertista, se apresentou pela europa e por toda Itália, tocou
com as principais orquestras como a Orquestra Wiener Kammerorchester, Rundfunk
Sinfonieorchester Berlin, Orchestre de la Suisse Romande, Flanders Youth
Philharmonic Orchestra, Sinfônica da Moldávia, Sinfônica de Trieste, Orquestra
de Câmara de Mântua, entre outras. Dos concertos que interpretou como solista,
qual mais te marcou? O mais importante, aquele que você disse “Puxa… foi
sensancional !!!” ?
EMMANUELE
BALDINI: Tem vários concertos que marcaram minha carreira, e fica muito
difícil falar de um só... Digamos que entre os mais especiais tem o Concerto de
Schostakovich (n.1) tocado com a Orquestra de la Suisse Romande na Victoria Hall
de Genebra, o Concerto de Schumann com a Orquestra da Radio de Berlim e a
integral dos Concertos de Mozart, tocando e regendo, com a Osesp.
O
PENTAGRAMA: Teve algum momento que pensou em desistir da música ?
EMMANUELE
BALDINI: Nunca. A música é minha vida.
O
PENTAGRAMA: Pelo que podemos observar, você interpretou em sua maioria
concertos românticos e clássicos. Há algum compositor modernista ou um de
vanguarda que gostaria de interpretar ?
Emmanuele Baldini Foto: Divulgação |
EMMANUELE
BALDINI: Sou uma pessoa curiosa, sempre aberta a experimentar e a me lançar
em desafios. Estou aberto a qualquer período histórico na música, assim como
estou aberto a qualquer estilo musical, desde que seja de qualidade. Já toquei
varias vezes o Concerto de câmara de A. Berg, e seria um sonho tocar o Concerto
para violino do mesmo compositor. Amo Alban Berg!!! Estou muito interessado nos
compositores brasileiros, e recebi já algumas dedicatórias importantes. Entre
elas, recebi um Concerto para violino do amigo Edson Beltrami, dedicado a mim,
que gostaria muito de ter a oportunidade de estrear...
O
PENTAGRAMA: Sua discografia é composta por vários títulos, gravada pelos selos
Agorà, Algol, Rivoalto e Phoenix e é muito elogiada pela crítica internacional,
Tem alguma novidade no “forno” ?
EMMANUELE
BALDINI: Muitas: um cd duplo com Fantasias de Operas italianas para violino e
piano, um cd com as Sonatas de Franck, Rota e Villa-Lobos (com a pianista
Juliana D'Agostini), um outro com o quarteto e quinteto com piano de Enrique
Oswald, com o Quarteto Osesp e Ricardo Castro, e um cd dedicado a Flausino Vale,
com sete obras inéditas de compositores brasileiros encomendadas e que se
inspiram nos preludios para violino solo de Flausino Vale, com a Orquestra do
Mato Grosso regida por Leandro Carvalho.
Quarteto OSESP Foto:Internet |
O
PENTAGRAMA: Você é o fundador do Quarteto de Cordas da OSESP e Spalla da OSESP -
Orquestra Sinfôncia do Estado de São Paulo, hoje, sob direção de Marin Alsop.
Pra você existe um melhor universo interpretativo ? Como é isto ? Conta pra
gente !
EMMANUELE
BALDINI: Tenho a sorte de tocar numa orquestra maravilhosa, cheia de
músicos que todo dia me ensinam algo. Hoje em dia, com a vinda da Marin, as
coisas ficaram ainda mais estimulantes, pois trata-se de uma musicista completa,
com muitas idéias musicais e de grande visão. Tendo como colegas alguns entre os
melhores músicos do Brasil, foi natural formar um quarteto de cordas, a formação
de câmara mais nobre e mais completa. Para responder a pergunta, acho que estou
vivendo um período da minha vida em que o equilíbrio entre meus trabalhos como
Spalla, a música de câmara de qualidade feita com meus colegas e os compromissos
como solista, são a vida ideal para um músico como eu sou. Me sinto feliz de ter
a oportunidade de tocar as grandes obras de repertório ao lado de grandes
músicos, aprendendo muito a cada dia.
O
PENTAGRAMA: A OSESP é a maior referência de música sinfônica do Brasil, um
verdadeiro paradigma. Da para comparar o fazer sinfônico brasileiro com o
europeu ? Falta muito para o Brasil chegar lá ? Nosso problema é mais musical ou
de funcionamento administrativo ?
OSESP - regência maestrina Marin
Alsop Spalla Emmanuele Baldini Foto: Divulgação |
EMMANUELE
BALDINI: É uma pergunta um tanto complexa. Fora duas ou três orquestras
privilegiadas, existe sim um problema administrativo. Não existe uma mentalidade
seria, na maioria das orquestras no Pais, que saiba como levar para frente uma
orquestra investindo na qualidade. Musicalmente o Pais esta crescendo a uma
velocidade impressionante, coisa que deixa grandes esperanças para o futuro, mas
os políticos precisam entender a importância de uma orquestra no panorama
cultural de uma cidade.
O
PENTAGRAMA: Nestas suas andanças pelo mundo a fora, em turnês e concertos, você
consegue nos dizer se o Brasil é reconhecido em sua arte sinfônica ? Ou somos
apenas o País do samba e do futebol ?
EMMANUELE
BALDINI:
As coisas começam mudar, inclusive porque o futebol não é mais aquela coisa...
(risos - provocação) brincadeiras a parte, existe um grande interesse hoje em
dia no mundo em relação ao Brasil como Pais que esta produzindo música de
qualidade, seja graças a orquestras do nível da Osesp, seja (finalmente) para um
reconhecimento tardio de grandes compositores: até poucos anos atras lá fora se
conhecia só Villa-Lobos, hoje o Camargo Guarnieri, o Francisco Mignone, o
Cláudio Santoro e outros, começam ser tocados e admirados.
O
PENTAGRAMA: O que Emmanuele Baldini ouve quando esta tranquilo no carro ou em
casa ?
EMMANUELE
BALDINI: Música clássica, sobre tudo música de câmara e operistica e
mpb.
Emmanuele Baldini Foto: Divulgação |
O
PENTAGRAMA:Tem algum concerto próximo como solista que possamos nos deleitar
com sua arte ?
EMMANUELE
BALDINI: Tem varias coisas por aqui no futuro: o "duplo" de Brahms no
Municipal em novembro, o Bruch no Teatro S. Pedro em outubro, o Tchaikovsky em
S. Caetano em agosto, e o Quinteto de Schubert com a Maria João Pires na Sala
São Paulo em outubro, além naturalmente dos concertos da temporada do Quarteto
Osesp...
Obrigada pela entrevista
! Uma grande honra.....
Baldini é uma honra tê-lo na OSESP, realmente você agrega valor à orquestra que cresce cada vez mais, procuro ir em todos os quartetos de cordas da OSESP e confesso que sinto falta de mais quartetos de cordas e música de Câmara na OSESP.
ResponderExcluirE Baldini, só tenho uma coisa mais a dizer:
Até o próximo concerto !
Abraços