"RIGOLETTO" UMA LEGENDA NO TMRJ. CRÍTICA DE MARCUS GÓES NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
Tem um samba de Dorival Caymmi que diz que “quem não gosta do samba, bom sujeito não é/é ruim da cabeça, ou doente do pé”.
Parafraseando o saudoso baiano sem rimar, podemos dizer que quem não gosta do Rigoletto é ruim da cabeça ou doente do ouvido.
Pois é, essa magnífica obra-prima, símbolo do melodrama italiano, esse ramo da música tão popular, mas tão mal compreendido e valorizado pelos que só são capazes de ver JSB ou LvB ou Chopin ou Mahler à sua frente, que o TMRJ nos trouxe mais uma vez em 08 de julho deste 2012.
Estreada em 1851 no Teatro La Fenice, em Veneza, este teatro mantém orgulhosamente à entrada placas advertindo que nele foram criados “Rigoletto” e “La Traviata”. “Excusez du peu”, diriam os franceses…
Esse “Rigoletto” de agora é uma produção cheia de problemas para a crítica, de difícil definição entre o que é bom e o que é mau em uma abordagem estético/artística de uma ópera em seus aspectos gerais. Por exemplo, houve momentos em que a regência nos conduziu a trechos musical e operisticamente excelentes, como nos superverdianos acordes do início da cena do encontro de Rigoletto com Sparafucile, todos na medida exata de volume e pausas, e houve momentos de inacreditáveis desencontros entre orquestra, coro e solistas vocais, como na parte que antecede a entrada de Monterone no primeiro ato.
Houve momentos em que mal se ouvia a voz do soprano Artemisa Repa e momentos em que esta não entrou na hora certa. Por outro lado, houve momentos em que esse mesmo soprano encantou a todos com um fio de voz afinado e de ímpar beleza. Houve momentos de incômoda insatisfação do público ao se ver privado dos tradicionais mis bemol superagudos do soprano, mais que obrigatórios, principalmente para um soprano como Artemisa, e fascinantes momentos em todo o canto do tenor Fernando Portari. Houve incompreensíveis afretamentos como em “no vecchio t´ínganni,un vindice avrai”. O “avrai” aí é prolongado pelos cantores para contrastar com o “si,vendetta, tremmenda vendetta” que se segue. Ópera é isso.
A récita de estreia nos mostrou um “Rigoletto” de concepção cênica e figurinos agradáveis e efetivos, prejudicada por uma iluminação tendente ao escuro, mesmo em cenas de festa e baile.
Como pontos de menor valia, os vários desencontros entre solistas, coro e orquestra, o esquecimento de palavras e de entradas no tempo certo, a pequenez da voz do soprano Artemisa Repa, muita vez inaudível ou quase, a falta de mis bemol superagudos tradicionais, como já dito, a regência contraditória e por vezes burocrática de Oswaldo Ferreira.
Como ponto altíssimo da récita, tivemos uma entusiasmante atuação do tenor Fernando Portari, que nos brindou com pianíssimos e outros ornamentos de sonho, com excelentes notas agudas e volume mais que satisfatório. Como é irregular esse artista!! Também, cantor não é máquina.
Medianos foram Adriana Clis, Savio Sperandio, Manuel Alvarez, os quais, no entanto, deram conta do recado. Todos os comprimários, destacada a graciosidade do pagem Kamile Távora, atuaram timidamente, por vezes sem se fazerem ouvir.
O barítono protagonista Roberto Frontali foi ponto alto e é um bom barítono, mas está muito longe de poder ser referido como “um dos melhores barítonos verdianos da atualidade”. Ao menos na récita agora enfocada, faltou-lhe a massa baritonal que define um barítono verdiano, o que sobra por exemplo em Hvrostovsky e Lucic e sobrava em Nucci e Teixeira. Mas, sendo um bom barítono, soube conquistar o público, que muito o aplaudiu.
Em resumo, foi um “Rigoletto” satisfatório sem ser excepcional, o que já é muito. Ao menos, não tivemos a ação transportada para a Broadway de Duke Ellington, nem para a Roma de Mussolini. E felizmente não tivemos quadros de Klee ou Chagall nas paredes do Duque.
BLEIB BEI UNS DENN ES WILL ABEND WERDEN (BWV 6)
MARCUS GÓES – JULHO 2012
Fonte: http://www.movimento.com/
a soprano tinha cantado no dia anterior.... não achei a voz dela pequena! mas talvez na estreia em si ela estivesse com a voz cansada...
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