UMA CATEDRAL DE DELICADEZAS SONORAS. CRÍTICA DE FABIANO GONÇALVES NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

Orquestra de câmara Concerto Köln e barítono Matthias Goerne trazem ao Rio a beleza do barroco alemão.
GBR-Gruppen 
Para quem já ouviu uma gravação ou um recital do grupo Concerto Köln, a famosa Catedral de Colônia deixa de ser a mais imediata lembrança dessa cidade alemã. Neste grupo inserem-se os cariocas que estiveram presentes, mesmo com a chuva, na apresentação da orquestra realizada no dia 30 de agosto, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, como parte da série de concertos internacionais da Sala Cecília Meirelles (atualmente em reforma). Ao lado dos instrumentistas, o barítono Matthias Goerne.
Assim como nós, brasileiros, nos orgulhamos da MPB e os norte-americanos sobressaem-se no jazz, os alemães podem estufar o peito para compartilhar da nacionalidade de alguns dos grandes compositores da história da música: Beethoven, Brahms, Mendelssohn, Strauss, Gluck, Hoffmann, Schumann, Orff, Händel, Telemann, entre tantos outros – e o maior de todos, Johann Sebastian Bach. Estes três últimos integraram o repertório do grupo, colorindo a noite com a beleza do barroco.
Precisos como uma revoada de pássaros, os instrumentistas abriram a noite com o Concerto grosso op. 6 no 1 em sol maior, de G. F. Händel, no qual tudo soou fluido e harmônico, com destaque para os delicados pianíssimos (e, consequentemente, os belos contrastes). Telemann veio em seguida, com o Concerto para flauta doce, flauta transversa, cordas e baixo contínuo BC TWV 52:e1 em mi menor, que contou com a participação de Cordula Breuer (flauta doce) e Martin Sandhoff (flauta transversa). Os inspirados solistas transformaram suas flautas em instrumentos etéreos e brilharam ao lado dos companheiros nas fugas integradas e perfeitas. Mesmo em um presto um pouco acelerado demais, os artistas conseguiram manter a intensidade.
A excelência de J. S. Bach encerrou a primeira parte do concerto com a apresentação brilhante do barítono Matthias. Sua voz doce e expressiva, bem como seu bailar corporal, encantaram a plateia com a cantata Ich will den Kreuzstab gerne tragen, BWV 56. A beleza da escrita dos três movimentos – em especial a ária – aflorou completamente ao timbre gentil de Goerne.
Bach continuou após o intervalo, com duas peças. O Concerto de Brandemburgo no 4, BWV 1049 em sol maior – merecidamente um dos cânones da música ocidental – contou novamente com as flautas de Breuer e Sandhoff, e solos de violino a cargo de Markus Hoffmann. As interpretações – orquestra e solistas – exalavam vivacidade e leveza. Fechando a noite (antes dos vários bis), mais uma cantata: Ich habe genug, BWV 82 em dó menor, para baixo solista, oboé e orquestra. O instrumento solista foi tocado com suavidade, acompanhando a voz caudalosa e dramática do cantor.
Os 25 anos de estrada da Concerto Köln e seus 17 músicos transparecem na qualidade das interpretações do grupo, especializado em performances historicamente autênticas, nas quais a meticulosidade germânica só contribui. Ao lado da calorosa voz do barítono Matthias, nascido em 1967 e aluno de grandes como Dietrich Fischer-Dieskau e Elisabeth Schwarzkopf, o grupo construiu no ar, em pleno palco do Theatro Municipal, uma catedral dedicada à música barroca, usando, como ferramentas, a precisão, a leveza e o talento.
Fabiano Gonçalves
Fonte: http://www.movimento.com/

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