"IL PIRATA", DE BELLINI - DEFINIDOR DE LIMITES NO MELODRAMA ITALIANO. ARTIGO DE MARCUS GÓES NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

A OSB-ÓPERA e REPERTÓRIO e solistas vocais apresentaram, neste dia 01/10, no TMRJ, em forma de concerto, a ópera em dois atos Il pirata, de Vincenzo Bellini (1801/1835), libreto de Felice Romani.
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Criada em 1827 na Scala de Milão, é anterior portanto às obras mais conhecidas do compositor, que são I CAPULETI E I MONTECCHI(1830), NORMA(1831) , LA SONNAMBULA(1831) e I PURITANI(1835), nas quais o compositor fixou com mais ênfase seu estilo elegíaco. Esse estilo, mais tarde tornado inconfundível, não era a característica básica nem de ADELSON E SALVINI (1825), nem de BIANCA E FERNANDO (1826), nem de LA STRANIERA (1829), nem de ZAIRA(1829).
IL PIRATA entra no enorme conjunto de óperas italianas do período em que foi criada, inteiramente dominado por óperas de Rossini, período esse que viria a ser modificado pelas citadas óperas do próprio Bellini e por Donizetti, este com L´ELISIR D´AMORE, de 1832, e LUCIA DI LAMERMOOR, de 1835, todas entrelaçadas e influenciando-se mutuamente, mas já afastadas dos maneirismos de IL PIRATA.
Hoje, com as oportunidadesidades proporcionadas pelo YOUTUBE, é muitíssimo mais fácil ter acesso a gravações e vídeos de peças musicais. Compare o leitor QUASE todo o “modus” operístico de trechos de IL PIRATA com TODA a música de LA SONNAMBULA ou de NORMA. Note as diferenças evidentes entre ANNA BOLENA, de 1830, e LUCIA DI LAMERMOOR, de 1835, ambas de Donizetti. O ponto de partida para as gradativas modificações foi justamente IL PIRATA, que, a partir de 1827, começou a mostrar aos mais executados compositores italianos da época o que NÃO deviam continuar fazendo com insistência, contando para isso com a presença e influência inestimável do GUILLAUME TELL, de Rossini, que era meio francesa meio italiana, criada em 1829 em Paris. E o que NÃO deviam fazer esses mais executados compositores italianos da época, como Ricci, Mercadante, Pacini,Vaccai, e alguns outros?
Antes de mais nada, deixar de lado influências e exemplos de Mozart, Salieri, Meyerbeer, Mayr, Auber, Adam, Weber e vários outros afastados ou artificialmente inseridos na estética operística italiana; em seguida, procurar o CANTO livre e expressivo em si, deixando de lado sinfonismos exagerados “à la” FIDELIO; depois, serem mais operísticos e menos literários nos libretos de suas óperas; em seguida, compor para o público e não para os entendidos; finalmente, nunca deixar de dar vez e valor ao virtuosismo, potência e propriedade das vozes.
É exatamente dessas diretrizes, fixadas muitas vezes sem intenção de serem diretrizes, que vem à luz NABUCCO, de 1842, obra daquele que viria a ser o modelo e maior representante do melodrama italiano, GIUSEPPE VERDI (1813/1901), descendente direto das mudanças ocorridas depois de IL PIRATA.
É portanto essa ópera de grande importância musicológica, marco divisor de épocas, como assinalado. Tenha no entanto sempre em mente o leitor que, em arte musical, ninguém é filho de si mesmo. Sempre haverá alguém que veio ANTES, aplainando o caminho e criando modos, estilos, formas, maneiras e mais que seja.
POR SER DA MINHA TERRA É QUE SOU NOBRE,POR SER DA MINHA GENTE É QUE SOU RICO.(OLAVO BILAC).
MARCUS GÓES – OUT 2012


Fonte: http://www.movimento.com/

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