MARIA JOÃO PIRES TOCA COM O FREIO DE MÃO PUXADO NA SALA SÃO PAULO. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.


   Sempre ouvi falar que Maria João Pires era uma grande pianista. Gravações famosas e críticas favoráveis são uma constante na sua carreira. Chegando à Sala São Paulo encontro um amigo de velha data. Conhecedor profundo de ópera , morador da Mooca e torcedor do Juventus. Me surpreendo com sua presença , achei que ele só gostasse de ópera. Descubro que ele tem nada mais , nada menos que três assinaturas da OSESP. Toda quinta sua presença na Sala São Paulo é garantida.

   Pergunto sua opinião sobre a solista, ele faz uma cara de poucos amigos. Diz que nunca se empolgou com ela. Palavra de quem tem longa vivência em teatro de música clássica e ópera.
Maria João Pires - foto internet
  
   O concerto número 17 para piano de Mozart não é dos mais empolgantes de seu repertório, nem tudo que o gênio produziu é genial. Maria João Pires solou sem vontade, estava apática, seu dedilhado leve desaparecia muitas vezes com o som da orquestra. Pela fama da solista esperava mais, muito mais. Faltou vibração, ânimo e vontade de tocar.  Apresentação que nivela a grande pianista portuguesa aos solistas comuns. Depois de muita insistência do público, mas bota insistência nisso, parece que ela queria ir embora logo, deu um interessante bis. Há algo de errado com solista que só empolga no bis.

   A Orquestra Sinfônica Do Estado de São Paulo nas mãos de Lawrence Renes esteve impecável. Orquestra de primeiro mundo, com sonoridade expressiva e naipes em harmonia. Tiraram de letra o Concerto de Mozart e arrebentaram na Sinfonia número 8 de Shostakovich .

   Esta é seqüência da sétima, conhecidas como Sinfonias de Guerra. Ambas falam de batalhas da Segunda Guerra Mundial, a sétima de Leningrado e a oitava de Stalingrado. Todo o drama , a tensão e o clima sombrio da guerra estão presentes.  Seu final pessimista realça a idéia do compositor para que nunca nos esqueçamos das conseqüências absurdas da guerra e do fascismo.  
Shostakovich -foto internet
  
   A oitava teve problemas com os burocratas russos, sempre eles, e chegou a ser banida. É um memorial aos mortos em batalha  e com certeza a mais trágica e a mais bem elaborada das sinfonias do grande compositor russo.  A OSESP conseguiu impor toda a dramaticidade contida na obra. Tensão do começo ao fim. Grande execução e uma bela interpretação da OSESP.
Ali Hassan Ayache
ali.hassan.02@hotmail.com

Comentários

  1. É triste ver algo escrito assim, com opinião tão leviana. Estive também no concerto e o que posso dizer é que o oposto do relatado ocorreu - a pianista é fantástica, mas a orquestra é desnivelada. Maria João Pires é uma das maiores especialistas em Mozart do mundo, e soube expressar tremendamente contrastes, aspectos de timbres e dinâmica na melhor qualidade inerente a ela como pianista. O que se pode notar, em especial, é a imaturidade do maestro, embora competente, na direção do programa. O posicionamento da orquestra na forma madeiras-violinos-viola-cellos-violinos não era a prevista por Mozart para este concerto. Ademais, diferentemente dos concertos românticos, a função do pianista solistas é totalmente diferente em peças do período Clássico, e não têm a majoritária função de apenas impressionar o público. Outra, haja ousadia em se criticar um compositor. Mozart é genial por sua capacidade transparente de expor todas as suas qualidades em qualquer obra. Até obras simples voltadas para iniciantes têm a genialidade exposta. Logicamente, algumas obras se sobressaem, às vezes por gosto do público, às vezes por um outro tratamento que o compositor deu à obra, mas não se deve esquecer que Mozart é tido como soberano na história da música, assim como outros grandes como Bach, Beethoven, Brahms etc, e acredito que não exista alma viva no mundo capaz de criticar sua obra. No bis, Maria João mostrou ainda mais suas qualidades como pianista, expondo sua fantástica desenvoltura como pianista. Por outro lado, na sinfonia orquestral, notaram-se inúmeros defeitos claros - motivos-chave encobertos por outros instrumentos, falhas sonoras nos metais e desmensuramento na percussão, além claro, dos agudos nada claros dos primeiros violinos, isto para um leve começo. Não se deve esquecer que a OSESP, embora em grande desenvoltura, está muito distante das grandes orquestras do mundo, as quais, ironicamente a esta crítica, nossa querida Maria João Pires faz papel de solista, e é veementemente apreciada. Realmente, é a primeira vez entro nesse site para ver alguma opinião, e a última, por achar da incompetência do crítico em saber coisas tão primárias da música erudita.

    ResponderExcluir
  2. Marcelo Lopes Pereira8 de outubro de 2012 às 15:25

    Ali, eu fui no concerto nas 3 apresentações, assisiti 2 vezes da plateia e 1 vez do balcão mezanino, como conversamos um pouco antes do concerto você disse que se sentaria no coro, fato que verifiquei visualmente. Eu conheço quase todos os locais da Sala São Paulo e sentar no coro num concerto de piano ou com cantores líricos, os solistas sempre acabam extremamente abafados, sua crítica foi imensamente influenciada pelo lugar que você se sentou.
    Quando sentei no mezanino sua observação seria extremamente válida,(Maria João apagada) porém ao sentar na plateia tivemos toda a graça e maestria da Maria João, no sábado conversei com um dos músicos do naipe das violas e foi-me dito que o maestro realmente não era dos melhores e não agregou muito a orquestra e segundo ele até atrapalhou em algumas coisas.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas