LANG LANG , UM VIRTUOSE POP. ARTIGO DE OSVALDO COLARUSSO NO BLOG DE ÓPERA E BALLET
Pianista chinês é sucesso de vendas no mundo inteiro e seus concertos se
parecem com shows de rock
Lang Lang: sucesso do pianista foi usado politicamente pelo Partico Comunista Chinês
O pianista chinês Lang Lang é um fenômeno único na música de concerto na atualidade. Seu renome e o gigantesco lucro que gera o aproximam de uma estrela pop como Madonna. Ele viaja em jato particular e seus concertos ao ar livre se parecem mais com shows de rock do que com apresentações de música erudita. Para compreendermos o fenômeno Lang Lang temos de lembrar que seu país, a China, tem uma população de mais de 1,3 bilhão de habitantes. Sendo ele uma espécie de herói nacional e sendo que há na China uma política séria de educação musical, qualquer CD que Lang Lang grave vende na primeira semana mais do que todos os discos juntos que um pianista da estatura, por exemplo, do italiano Maurizio Pollini, tenha gravado em toda a sua carreira.
Lang Lang nasceu há 30 anos em uma família musical (seu pai é um virtuose de um instrumento típico da China, o erhu) e começou a estudar piano aos três anos de idade. Numa história que talvez seja mais lenda do que verdade, o que o levou a estudar piano teria sido um desenho animado de Tom e Jerry no qual o gato tenta executar a Rapsódia Húngara N.º 2 de Liszt. Verdade ou não, em diversos momentos dos recitais de Lang Lang, vê-se no rosto dele uma expressão facial que lembra expressões típicas de animações.
A musicalidade o levou a vencer com pouca idade importantes concursos na Alemanha, na China e no Japão, e aos 15 anos passou a estudar com o professor Gary Graffman no Curtis Institute of Music, na Filadélfia (EUA). Depois desta meteórica formação musical o que pesou a seu favor foi a grande capacidade de comunicação com o público, sobretudo com os jovens. Logo o chinês atuou junto à importantes orquestras, como a Filarmônica de Berlim e a Filarmônica de Viena. Sua participação numa temporada destas orquestras significa um lucro garantido, pela notoriedade do nome Lang Lang, mesmo que algumas dúvidas sejam colocadas em termos de acabamento musical, sobretudo quando ele executa os grandes clássicos.
A fama extrapolou as salas de concerto e a imagem de Lang Lang acabou se associando à marcas famosas e caras que ele ajuda a vender como garoto propaganda, como os relógios Rolex. O fato de o governo chinês aproveitar o sucesso de Lang Lang para melhorar sua imagem internacional, sempre arranhada por problemas com direitos humanos, ajudou a fazer dele uma espécie de herói nacional. O lema oficial criado pelo Partido Comunista Chinês para Lang Lang tem um claro sabor de propaganda política: “Construindo um arco-íris de boa vontade com música”.
Gravações
O primeiro contrato de Lang Lang com uma gravadora foi com o mais renomado selo de música clássica, o alemão Deutsche Grammophon, em 2003. A tradicional gravadora ficou impressionada com a excelente vendagem de seus CDs. A partir de 2003, ele gravou concertos de Tchaikovsky, Mendelssohn Chopin e Beethoven com maestros do nível de Barenboim, Mehta e Gergiev. O selo Deutsche Grammaphon tinha entre seus contratados um compatriota de Lang Lang, o excelente pianista Yundi Li (também nascido em 1982), ganhador do Concurso Chopin de Varsóvia do ano 2000. Por pressão de Lang Lang, o selo alemão cancelou o contrato de Yundi Li, sendo que Lang teria afirmado que “basta um chinês neste selo”.
O sucesso de vendas de Lang Lang lhe garantiu então permanecer como o único pianista chinês no selo, até que, fato inédito na música clássica, seu “passe” foi comprado pela Sony pela quantia de 3 milhões de dólares. Neste seu novo selo, Lang Lang gravou um CD com obras de Liszt em 2011, que foi o álbum de música clássica mais vendido no século 21.
Um bom serviço para a divulgação dos clássicos
Um aspecto positivo de Lang Lang é que ele não faz concessões exageradas em suas apresentações. Se bem que abuse de itens famosos como “Sonho de amor” de Liszt e a “Valsa do Adeus” de Chopin, raras são as vezes que executa partes de uma sonata ou de um concerto, e suas incursões no campo pop são bem esporádicas.
Se Lang Lang está longe das evidentes falhas técnicas de “pianistas populares”, como Richard Cleyderman, por outro lado suas interpretações, especialmente de Beethoven e Mozart, ficam muito próximas da superficialidade. Digo isso ao mesmo tempo que reafirmo que Lang Lang é um bom pianista. O que sinto, no entanto é que seu enorme sucesso fez dele uma figura caricata por suas expressões faciais e seus efeitos de fraseado de gosto duvidoso. Muitos críticos o chamam ironicamente de “Bang Bang” e ao ouvirmos com ele obras como os “Estudos de Chopin” estamos bem distante das concepções lapidadas de um Murray Perahia, por exemplo.
No entanto, elogio bastante a capacidade do chinês de atrair multidões para a música clássica. Por mais que me irrite suas caretas e suas interpretações apelativas, reconheço que ele faz um bom serviço para a divulgação dos clássicos.
Como complemento, devemos reconhecer que o fenômeno Lang Lang jamais aconteceria no Brasil. Sua enorme fama e popularidade demonstram que a China tem um projeto sério em termos de educação musical. Em 2008, Lang Lang, um pianista clássico, foi escolhido para ser o grande destaque musical na abertura dos Jogos Olímpicos de verão. Naquela oportunidade, ele foi visto por mais de 5 bilhões de pessoas. Algo impensável de se ver por aqui.
Osvaldo Colarusso
Texto de minha autoria publicado no jornal Gazeta do povo em 28/10/2012
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/blog/falando-de-musica/
Lang Lang: sucesso do pianista foi usado politicamente pelo Partico Comunista Chinês
O pianista chinês Lang Lang é um fenômeno único na música de concerto na atualidade. Seu renome e o gigantesco lucro que gera o aproximam de uma estrela pop como Madonna. Ele viaja em jato particular e seus concertos ao ar livre se parecem mais com shows de rock do que com apresentações de música erudita. Para compreendermos o fenômeno Lang Lang temos de lembrar que seu país, a China, tem uma população de mais de 1,3 bilhão de habitantes. Sendo ele uma espécie de herói nacional e sendo que há na China uma política séria de educação musical, qualquer CD que Lang Lang grave vende na primeira semana mais do que todos os discos juntos que um pianista da estatura, por exemplo, do italiano Maurizio Pollini, tenha gravado em toda a sua carreira.
Lang Lang nasceu há 30 anos em uma família musical (seu pai é um virtuose de um instrumento típico da China, o erhu) e começou a estudar piano aos três anos de idade. Numa história que talvez seja mais lenda do que verdade, o que o levou a estudar piano teria sido um desenho animado de Tom e Jerry no qual o gato tenta executar a Rapsódia Húngara N.º 2 de Liszt. Verdade ou não, em diversos momentos dos recitais de Lang Lang, vê-se no rosto dele uma expressão facial que lembra expressões típicas de animações.
A musicalidade o levou a vencer com pouca idade importantes concursos na Alemanha, na China e no Japão, e aos 15 anos passou a estudar com o professor Gary Graffman no Curtis Institute of Music, na Filadélfia (EUA). Depois desta meteórica formação musical o que pesou a seu favor foi a grande capacidade de comunicação com o público, sobretudo com os jovens. Logo o chinês atuou junto à importantes orquestras, como a Filarmônica de Berlim e a Filarmônica de Viena. Sua participação numa temporada destas orquestras significa um lucro garantido, pela notoriedade do nome Lang Lang, mesmo que algumas dúvidas sejam colocadas em termos de acabamento musical, sobretudo quando ele executa os grandes clássicos.
A fama extrapolou as salas de concerto e a imagem de Lang Lang acabou se associando à marcas famosas e caras que ele ajuda a vender como garoto propaganda, como os relógios Rolex. O fato de o governo chinês aproveitar o sucesso de Lang Lang para melhorar sua imagem internacional, sempre arranhada por problemas com direitos humanos, ajudou a fazer dele uma espécie de herói nacional. O lema oficial criado pelo Partido Comunista Chinês para Lang Lang tem um claro sabor de propaganda política: “Construindo um arco-íris de boa vontade com música”.
Gravações
O primeiro contrato de Lang Lang com uma gravadora foi com o mais renomado selo de música clássica, o alemão Deutsche Grammophon, em 2003. A tradicional gravadora ficou impressionada com a excelente vendagem de seus CDs. A partir de 2003, ele gravou concertos de Tchaikovsky, Mendelssohn Chopin e Beethoven com maestros do nível de Barenboim, Mehta e Gergiev. O selo Deutsche Grammaphon tinha entre seus contratados um compatriota de Lang Lang, o excelente pianista Yundi Li (também nascido em 1982), ganhador do Concurso Chopin de Varsóvia do ano 2000. Por pressão de Lang Lang, o selo alemão cancelou o contrato de Yundi Li, sendo que Lang teria afirmado que “basta um chinês neste selo”.
O sucesso de vendas de Lang Lang lhe garantiu então permanecer como o único pianista chinês no selo, até que, fato inédito na música clássica, seu “passe” foi comprado pela Sony pela quantia de 3 milhões de dólares. Neste seu novo selo, Lang Lang gravou um CD com obras de Liszt em 2011, que foi o álbum de música clássica mais vendido no século 21.
Um bom serviço para a divulgação dos clássicos
Um aspecto positivo de Lang Lang é que ele não faz concessões exageradas em suas apresentações. Se bem que abuse de itens famosos como “Sonho de amor” de Liszt e a “Valsa do Adeus” de Chopin, raras são as vezes que executa partes de uma sonata ou de um concerto, e suas incursões no campo pop são bem esporádicas.
Se Lang Lang está longe das evidentes falhas técnicas de “pianistas populares”, como Richard Cleyderman, por outro lado suas interpretações, especialmente de Beethoven e Mozart, ficam muito próximas da superficialidade. Digo isso ao mesmo tempo que reafirmo que Lang Lang é um bom pianista. O que sinto, no entanto é que seu enorme sucesso fez dele uma figura caricata por suas expressões faciais e seus efeitos de fraseado de gosto duvidoso. Muitos críticos o chamam ironicamente de “Bang Bang” e ao ouvirmos com ele obras como os “Estudos de Chopin” estamos bem distante das concepções lapidadas de um Murray Perahia, por exemplo.
No entanto, elogio bastante a capacidade do chinês de atrair multidões para a música clássica. Por mais que me irrite suas caretas e suas interpretações apelativas, reconheço que ele faz um bom serviço para a divulgação dos clássicos.
Como complemento, devemos reconhecer que o fenômeno Lang Lang jamais aconteceria no Brasil. Sua enorme fama e popularidade demonstram que a China tem um projeto sério em termos de educação musical. Em 2008, Lang Lang, um pianista clássico, foi escolhido para ser o grande destaque musical na abertura dos Jogos Olímpicos de verão. Naquela oportunidade, ele foi visto por mais de 5 bilhões de pessoas. Algo impensável de se ver por aqui.
Osvaldo Colarusso
Texto de minha autoria publicado no jornal Gazeta do povo em 28/10/2012
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/blog/falando-de-musica/
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