SALOMÉ, FECHA COM CHAVE DE OURO O XI FESTIVAL DE ÓPERA DO THEATRO DA PAZ. CRÍTICA DE ANDREÍA SANTOS NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.



O ponto alto do XI Festival de Ópera do Theatro da Paz foi a ópera Salomé de Richard Strauss. As expectativas eram enormes, cenário grandioso, orquestra com ensaios exaustivos e ingressos esgotados. A ópera prometia ser inesquecível e o foi .Quem teve a honra e o privilégio de ver foi um felizardo, quem desdenhou ficou só no arrependimento e no lamento.
A direção cênica de Mauro Wrona foi feliz. Inovou sem deixar de ser tradicional e fiel as intenções de Strauss. Elena Toscano foi direta nos figurinos e acertou nos detalhes. Estava a platéia diante de um período fácil de ser identificado: O bíblico, na palestina, época de Jesus Cristo. A luz de Caetano Vilela merece aplausos e foi uma cereja no bolo em todo o contexto. A magia foi completa, o movimento dos artistas sincronizavam com a orquestra.

Salomé pede um beijo a João Batista web 250 Uma belíssima Salomé triunfa em BelémCena de Slaome , foto Internet

O regente Miguel Campos Neto mostrou grande competência, ora parecia um diretor de cena regendo os artistas. Os movimentos pareciam naturais, cada gesto milimetricamente correto para cada acorde da orquestra. Bravo aos músicos em sua plenitude na arte, em momento algum sobrepuseram as vozes. Belém tem músicos com excelência no que fazem e capazes de tocar em qualquer orquestra, embora alguns músicos vieram de outros estados...O publico fez o seu papel, prestigiou e ficou encantado com o espetáculo.

Cena de Salomé, foto Internet
O espetáculo começa com Narraboth(tenor) Giovanni Tristacci, encanta não só pela sua boa voz, seu figurino presenteia a mulherada deixando á mostra suas belas pernas torneadas, seu físico malhadinho condiz com o personagem. Um capitão, e que capitão! A pajem (mezzo-soprano)Josy Santos, fez seu trabalho de casa, junto com Giovanni Tristacci, foi impecável na atuação dos personagens e ambos colocaram bem suas vozes.
Salomé, Annemarie Kremer(soprano), uma bela jovem holandesa, começa com tom baixo e volume pequeno. Provavelmente se poupando, ou bateu aquele friozinho na barriga, afinal ainda tinha muitos a ser cantado. Depois de alguns minutos lá estava ela, com seu volume de voz enorme, corpulento. Uma atriz cantora lírica ou uma cantora lírica atriz? Mostrou o quanto vale cada centavo gasto para ela estar ali. Muito segura, dominante, sedutora e cuidadosamente erótica. Uma Salomé elegante e radiante. Na dança dos sete véus precisava de mais ensaios e de molejo . A nudez frontal, no giro que ela se volta para o publico, um piscar de olhos. Mas na medida, pra permanecer na elegância.

Cena de Salomé, foto Internet
A interação entre os personagens foi maravilhosa, parece que a montagem estava em cartaz há anos, tamanha a cumplicidade . Fica claro a simbiose entre personagem, orquestra, cenário, luz e o publico.
João Batista (barítono) Rodrigo Esteves, sua imensa voz sai de dentro do fosso, invade o teatro, aumenta a curiosidade de vê-lo. Tensão no ar. Sua voz tem conotação religiosa e muito presente, suave e na medida certa. Um Cid Moreira lírico, você logo associa a voz à pessoa. No diálogo com Salomé, sua voz mudou, mostra indignação com notas amplas muitos diferentes. Fez todo o teatro rir na negativa de um beijo. O figurino e a maquiagem lhe colocam uma torre de marfim, assim como é dito no texto. Rodrigo Esteves convenceu e encantou.Foi excelente! A Herodíade (mezzo-soprano) Andreia Sousa, seu personagem entra imponente, figurino belo, rico em detalhes, mas com um decote generoso ( ainda bem que meu namorado não foi ver a ópera), maquiagem e cabelo impecável. Usou expressões fortes, postura marcante no palco. Voz eloqüente, que vozeirão. Surpreendeu o teatro! O surpreendente é saber que a dona de uma voz tão pronta, e com tantos recursos, academicamente é uma professora de educação física. Os admiradores da ópera esperam ver você mais vezes no teatro. E que venham personagens marcantes.

Cena de Salomé, foto Internet
Herodes (tenor) Paulo Queiroz, homem de grande estatura, com voz e presença de palco marcante. Fez um Herodes arrogante, um covarde de tanta insegurança e medo. Lhe caiu como uma luva esse personagem. Convenceu no momento que atua deixando a mostra seu desejo sexual. Sua voz foi impecável assim como sua atuação no palco, alterou a respiração sem interferir nas notas vocais. Convenceu no momento em que o personagem se encontrava nervoso e sofrendo. Parabéns!
Os tenores Antonio Wilson Azevedo, Andrey Mira,Rodrigo Valde ,Marcos Carvalho e o baixo Raimundo Nascimento Mira. Deram leveza aos personagem judeus, quase que cômicos. Suas vozes complementaram a cena.

Salomé segura a cabeça de João web 250 Uma belíssima Salomé triunfa em Belém Cena de Salomé, foto Internet
No último dia, vale ressaltar que assisti as três récitas. Anunciam que Annemarie Kremer estaria afônica, mas que daria o seu melhor. Imaginei que seria agraciada com uma nova Salomé, interpretada pela doppionne Tati Helene. São Paulo e adjacências territoriais do nosso país sabem que o soprano estava perfeita nos ensaios, voando mesmo como Salomé. Gostaria de ter tido a honra de vê-la no palco. A gringa holandesa não largou o osso.
Salomé , no quesito ópera , fechou com chave de ouro o XI Festival do Theatro da Paz. Espero que o teatro tenha mais óperas para o publico paraense. No próximo festival, podem ser feitos alguns ajustes, o café que deixa desejar,o trânsito, antes e depois do espetáculo fica um caos e a segurança reforçada.Entre outros detalhes a serem pensados.



Andréia Santos

Comentários

  1. Tati Helene Salomé?? Tem uma técnica boa, mas nunca seria uma voz de Salomé, definitivamente. Falta cor, redondo e profundidade na voz. Não é um soprano dramático.
    Uma voz pontuda e ágil...

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  2. Roberto, você deve estar lembrando da Tati há uns anos atrás. Cuidado pra não emitir opiniões desatualizadas. Tati Helene cantará Norma e Maria Stuarda com a renomada mezzo soprano Graciela Araya no Theatro São Pedro dia 14/12, você deveria vir e conferir por si próprio.

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    Respostas
    1. Vitor, na verdade, eu conheci a voz dela em abril deste ano. Quando estava visitando São Paulo eu fui ao teatro para assistir ao Renato Bruson, ela cantou nesse dia. Eu achei a voz de vibrato acelerado demais, pequena e espetada, um timbre que não soa verdadeiro! Conversando com colegas, todos compartilharam da mesma opinião. Porém, eu gostei de sua Violetta, único repertório adequado, na minha opinião, que ela cantou na noite! Não prolongando ou incitando uma discussão de gosto, ou de certo e errado, isso é uma opinião de gosto minha, e não representa uma verdade que vou defender acima de tudo. Obrigado pelo convite.

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  3. "Inovou sem deixar de ser tradicional"...alguém pode me explicar como isso é possível?

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  4. Inovou com figurino,luz,cenário e cantores.Mas não deixou de ser tradicional sendo fiel no que Strauss,quis fazer o publico ver e sentir na òpera Salomé.Assista alguns videos de Salomé e aguarde o dvd do festival.Talvez você entenda,pelo que sei foi o que entendi o que a critica quis disser.

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  5. Amigo: inovação e tradicionalismo são conceitos tão inconciliáveis quanto água e óleo.

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  6. Podem até ser inconceliáveis mais estavão lá.O espirito de natal é o mesmo, porém as decorações de natais se inovão todos os anos,com tecnológia,visual,artezanal...mas se inovam sem deixar a tradição do espirito do natal.Acredito que tenha entendido meu caro,caso contrário.Não serei mais repetitivo

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  7. Mudar a roupa não torna algo inovador. Inovação é algo mais profundo, que afeta a linguagem e o conceito. Usar um presépio mecânico em vez de um artesanal não é inovação, é apenas uma evolução em nível tecnológico. O tradicionalismo continua ali, sem inovação nenhuma de linguagem.

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