BOLA NA TRAVE. CRÍTICA DA OPERETA "A VIÚVA ALEGRE " DE FABIANO GONÇALVES NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

Montagem mineira de A Viúva Alegre no Theatro Municipal do Rio deixa gosto de empate.
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Já que a seleção brasileira de futebol apostou novamente na experiência de Felipão (64 anos) e Parreira (69) para comandá-la, o Theatro Municipal do Rio de Janeiro decidiu, para encerrar um ano que teve programação operística aquém do merecido, depositar as fichas em um jogo que, aparentemente, não tinha como perder: uma obra popular, exuberante, com texto em português e música bastante conhecida. Assim, escolheu levar ao palco uma montagem de A Viúva Alegre, composta em 1905 por Franz Lehár.
Mas o que seria uma vitória certa terminou com gosto amargo de empate na temporada carioca, cuja estreia se deu em 28 de novembro. A montagem, que estreou antes em outubro no Grande Teatro do Palácio das Artes, em Belo Horizonte, com produção da Fundação Clóvis Salgado, cercou-se de qualidades técnicas para assegurar uma boa partida. Os cenários art nouveau de Paulo Corrêa são bonitos, funcionais e remetem à atmosfera da virada do século 20 em Paris, onde se passa a trama. Os figurinos do experiente Fábio Namatame têm grande beleza, particularmente no colorido baile à fantasia do segundo ato.
Seguindo a linha de Felipão e Parreira, o capitão do time operístico tem mais idade e uma trajetória de sucesso. O baixo-barítono Lício Bruno, também diretor cênico (a partir da criação de Jorge Takla para a montagem mineira), aliou, na récita de 30/11, graça e boa presença de palco à ótima impostação vocal em seu Barão Zeta. Na presença deste cantor, o célebre ensemble Wie die Weiber man behandelt (nesta montagem, com deliciosa versão para o português de Millôr Fernandes) ganhou ainda mais picardia.
Com bom physique du rôle para o Conde Dánilo, o barítono Homero Velho rendeu bem em campo. O cantor apresentou boa desenvoltura em diversos momentos (na ária O Vaterland, por exemplo), respondeu com elegância às pequenas intervenções coreográficas do papel e fez boa dobradinha com o tenor Max Jota, que interpretou Camille de Rosillon. Os tenores Flávio Leite e Marcos Liesenberg têm vozes razoáveis, mas a encenação se perdeu um pouco com firulas desnecessárias e um tanto quanto afetadas. Mas quem mais convenceu como artilheiro do time é o ator Cassio Scapin, que emprestou humor e desenvoltura corporal ao atrapalhado Njégus.
Infelizmente, o time feminino pisou na bola em vários momentos. Carla Domingues emprestou sua bonita voz à Valencienne, mas não conseguiu dar verdade à personagem. Já Neti Szpielman derrapou vocalmente em diversos trechos de sua Olga (especialmente no terceiro ato). Mas a maior decepção é mesmo Rosana Lamosa. Sua viúva Hanna Gláwari não tinha charme ou malícia, resvalou na canastrice e não deu mostra do talento vocal que a cantora já revelou em tantas outras situações. A famosa ária Es lebt’ eine Vilja tornou-se enfadonha e houve mesmo momentos em que sua voz foi totalmente encoberta pela orquestra.
O maestro Sílvio Viegas regeu com elegância a Orquestra Sinfônica do Municipal. Os músicos, bem como os cantores do excelente coro da Casa, foram responsáveis por um meio de campo de primeira qualidade. Mas, infelizmente, mesmo com tamanho preparo e tantos craques em campo, não foi dessa vez que ganharam a taça.
Fabiano Gonçalves

Fonte: http://www.movimento.com/
 

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